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Milhões de pessoas fizeram do grito “Nenhuma a menos” uma campanha gigantesca contra os feminicídios. Em 3 de junho, Pão e Rosas Argentina participará dos atos em todo o país, junto a outras organizações, e além de Nenhuma a Menos, dissemos que essa violência machista é social, institucional, econômica, cultural e denunciamos os responsáveis. Marche conosco.

Andrea D’Atri@andreadatri

quarta-feira 3 de junho de 2015 | 00:27

Propagou-se velozmente. Saltou das redes sociais para os diários, dali para a televisão, se expandiu nas escolas, faculdades, hospitais, oficinas têxteis, gráficos, dependências estatais, fábricas de alimentação e autopeças. Mas também na agrupação Bordô do sindicato de alimentação, as mulheres de WorldColor que enfrentam as demissões, a Comissão de mulheres de Madygraf [1] que funciona sob gestão dos trabalhadores e os “indomáveis” de Lear [2].

Tiraram fotos as enfermeiras e trabalhadores, professoras e os garis, as costureiras e metalúrgicos, trabalhadoras da aeronáutica e trabalhadores de pedágios.

Dizem que vão marchar jovens e adultos, as crianças e os idosos, os que vão chegar caminhando e de bicicleta, as que vão de trem, coletivos ou de metrô, ou que se organizam para alugar ônibus.

É como se alguém tivesse arrancado a tampa de uma gigantesca piscina e uma onda imprevista inundasse tudo. Encontrarmo-nos no Congresso Nacional, mas também em mais de 70 cidades de todo o país e também, do outro lado do rio de La Plata, em Montevidéu.

Emergiu o cansaço

Durante muitos anos, diferentes agrupações do movimento de mulheres denunciaram o problema urgente da violência machista. La Casa del Encuentro, uma organização não governamental, ano após ano, informa as alarmantes cifras dos feminicídios que nenhum organismo estatal coleta, nem centraliza, nem difunde. Os meios de comunicação também começaram a mostrar, nos últimos anos, que a violência contra as mulheres não pode intitular-se como “crime passional”. Colocou-se em questionamento essa violência misógina, começou a desnaturalizar-se.

E, no entanto, os feminicídios cresceram de maneira alarmante, até transformar-se em um som surdo, em algo que não se escutava de tanto repetir-se. Porém agora parece haver emergido o cansaço e milhões de pessoas parecem estar de acordo para gritar Basta!

Não é nada novo para as mulheres militantes, nós que lutamos por nossos direitos, as feministas e outras organizações estarmos nas ruas, novamente, para exigir basta de violência contra as mulheres.

O novo é que as trabalhadoras, obrigadas a suportar os abusos dos patrões e chefes, sentem que estão em seu momento para gritar basta, que os trabalhadores que no dia de cobrar seu salário diziam que “se iam com as putas” comecem a debater no vestiário se o comércio sexual de pessoas é outra forma de violência; que as trabalhadoras domésticas comecem a suspeitar que não estar registrada e não ter direitos trabalhistas também lhes faz vulneráveis; que os trabalhadores que olham um pouco a televisão no refeitório da fábrica terminem perguntando a si mesmos que lutar contra a violência para com as mulheres, também é “coisa de homem”.

O novo é que o mais jovem explique aos mais velhos que as esposas são companheiras e que quando uma mulher avança, é melhor para todos, porque isso não significa que os homens tenham que retroceder. O novo é que as meninas nas escolas se perguntem se é certo que não possam vestir-se como queiram e que seus companheiros exijam às autoridades, direitos iguais para todas e todos. O novo é que muitíssimas mais pessoas comecem a pensar que se morrem tantas jovens pobres só porque o aborto é ilegal, então há muitas formas de violência contra as mulheres.

Os que se penteiam para a foto

Isso obrigou a que, cinicamente, os mesmos políticos e funcionários, inclusive as forças repressivas, os empresários que são responsáveis pela morte das mulheres por consequência dos abortos clandestinos, para que funcionem com impunidade as redes de comércio sexual, por coisificar as mulheres nos meios de comunicação ou para que as condenem às piores condições de trabalho precário e sem direitos, também se juntassem a essa convocatória.

Como denunciamos, é clara a responsabilidade dos governos nacionais e estaduais, da justiça, da igreja...ou seja, do Estado capitalista e patriarcal, em legitimar, reproduzir e justificar a violência contra as mulheres. Por isso, o próximo 3 de junho nos juntamos a convocatória por #NiUnaMenos (Nenhuma a Menos), mas não o fazemos ao lado de Mauricio Macri, nem de Aníbal Fernandez, nem de Sergio Berni, nem dos famosos como Marcelo Tienelli ou Mirtha Legrand, que fazem uso de um tratamento machista contra as mulheres em seus programas de televisão.

Pan y Rosas (Pão e Rosas da Argentina) se mobiliza junto com a Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto, a CTA Autônoma, a Campanha contra as violências, agrupações feministas e partidos de esquerda.

Muito mais que #NiUnaMenos

Esse grito que emergiu do mais profundo das classes trabalhadoras e do povo pobre, que atravessou as cidades e se estendeu por todo o país, é uma batalha que nenhum destes personagens, nem funcionários, nem instituições podem responder em sua verdadeira dimensão.

É um grito que fala de uma desigualdade insuportável, de uma raiva incontrolável, de um cansaço irreprimível. De algo que nem os patrões, nem os burocratas sindicais, nem os políticos dos partidos tradicionais, nem ninguém pode conter. Não é um estouro. Nem uma explosão. É algo silencioso e contido que agora se expressa em um grito momentâneo de #NiUnaMenos, no entanto, é muito mais que uma reivindicação de que não sigam matando as mulheres.

É essa força de trabalhadoras e trabalhadores, de mulheres que lutam por seus direitos e de uma juventude que só consegue permanecer em situação precária, deixando a saúde e a vida em turnos rotativos, jornadas cansativas, horas extras sem fim e direito a nada mais que um salário miserável.

Essa força que, nos últimos anos, deu seu voto de confiança à Frente de Esquerda. O que o PTS na Frente de Esquerda se propõe acompanhar e fortalecer, desde o Congresso e nas prefeituras, nas universidades e nos lugares de trabalho, mas sobretudo nas lutas e mobilizações nas ruas, em todo o país...

O próximo 3 de junho, marchamos com Pan Y Rosas na Frente de Esquerda em Buenos Aires, mas também em Jujuy, Salta, Tucumán, Formosa, Córdoba, Rosário, Santa Rosa, Neuquén, Mendoza, Mar del Plata, Bahía Blanca e La Plata.

Notas:

[1] MadyGraf, ex-Donnelley, é uma fábrica gráfica norte-americana na Argentina, agora sob controle operário, após a tentativa da patronal de fechar suas portas e demitir 400 operários. Veja mais sobre essa luta histórica em: http://www.ler-qi.org/Donnelley-Pri...

[2] Lear, é uma fábrica multinacional norte-americana, que na Argentina, os operários protagonizaram sete meses de mobilização para impedir as demissões dos delegados e ativistas combativos que se posicionavam contra os ataques que a multinacional queria implementar, enfrentando a patronal, o governo, a repressão policial e a burocracia sindical. Resgatando métodos históricos da classe operária e se organizando em comissões, como a de mulheres, criando uma grande frente única e transformando a causa em popular, através da luta por “Famílias na rua, nunca mais!” saíram vencedores. Leia mais sobre essa batalha de classe em: www.ler-qi.org/grande-batalha-de-classe

Texto Original em:
http://www.laizquierdadiario.com/Millones-exigimos-NiUnaMenos

Tradução: Thaís Antunes

Links em espanhol para acompanhar a campanha:
http://www.laizquierdadiario.com/Dirigentes-de-SUTEBA-La-Matanza-presentaran-proyecto-para-que-se-declare-asueto-el-3J
http://www.laizquierdadiario.com/UBA-Sociales-adhiere-al-NiUnaMenos-y-no-computara-asistencia
http://www.laizquierdadiario.com/Neuquen-Marchara-multisectorial-de-mujeres-del-Hospital-Castro-Rendon
http://www.laizquierdadiario.com/Los-obreros-graficos-tambien-decimos-Ni-Una-Menos
http://www.laizquierdadiario.com/En-PepsiCo-hay-mucho-machismo
http://www.laizquierdadiario.com/Trabajadoras-aeronauticas-denuncian-acoso-laboral-e-hipocresia-de-Recalde
http://www.laizquierdadiario.com/La-convocatoria-NiUnaMenos-se-extendio-a-todo-el-pais
http://www.laizquierdadiario.com/El-fin-de-la-violencia-hacia-las-mujeres-es-un-reclamo-regional
http://www.laizquierdadiario.com/No-se-mata-por-amor-cuando-los-medios-naturalizan-la-violencia
http://www.laizquierdadiario.com/Un-pronunciamiento-masivo-contra-los-femicidios-y-la-violencia-contra-las-mujeres
http://www.laizquierdadiario.com/El-grito-de-las-invisibles
Em português: http://www.esquerdadiario.com.br/O-grito-das-invisiveis
http://www.laizquierdadiario.com/Luchar-contra-la-violencia-hacia-las-mujeres-tambien-es-cosa-de-hombres
http://www.laizquierdadiario.com/Seamos-muchas-mas-para-gritar-NiUnaMenos
http://www.laizquierdadiario.com/La-escoria-de-la-in-justicia-aberrante-fallo-del-juez-Piombo
Em Português: http://www.esquerdadiario.com.br/Argentina-A-escoria-da-in-justica-aberrante-decisao-do-juiz-Piombo
http://www.laizquierdadiario.com/Basta-de-violencia-contra-las-mujeres-Y-basta-de-hipocresia
http://www.laizquierdadiario.com/La-convocatoria-de-la-izquierda-para-el-3J
http://www.laizquierdadiario.com/Las-mujeres-a-la-cabeza-de-las-listas-del-Frente-de-Izquierda
http://www.laizquierdadiario.com/Nico2015-El-Frente-de-Izquierda-con-la-fuerza-de-los-trabajadores-las-mujeres-y-la-juventud
http://www.laizquierdadiario.com/NiUnaMenos-en-la-Universidad-de-Salta
http://www.laizquierdadiario.com/En-Formosa-tambien-decimos-basta




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