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Conhecimento em disputa: as estaduais paulistas e a luta palestina

Brenda Brossi

Chico Noventa

Conhecimento em disputa: as estaduais paulistas e a luta palestina

Brenda Brossi

Chico Noventa

As universidades estaduais paulistas, com destaque para a USP e a UNICAMP, têm chamado atenção pela vinculação com universidades israelenses e movimentos sionistas, gerando respostas do movimento estudantil e de organizações palestinas. Partindo disto, muito distante de sermos contra o intercâmbio científico entre estudantes de países distintos, neste texto buscamos discorrer sobre uma questão: o Estado de Israel tentando se projetar internacionalmente como uma espécie de “ente civilizador” diante do Oriente Médio, enquanto se sustenta em base ao massacre palestino. Em suma, partindo da história da luta palestina, queremos localizar a disputa pelo conhecimento nas universidades e a necessidade de que os estudantes assumam para si a causa palestina e o combate contra Israel, a partir dos centros de excelência das estaduais paulistas no Brasil.

No dia 03 de abril, a UNICAMP buscava realizar a IV Feira das Universidades Israelenses que, de acordo com o email de divulgação enviado ao conjunto dos estudantes, visava criar uma plataforma de conexão com estudantes interessados em estudar/estagiar em Israel, principalmente nas áreas de medicina, engenharia, ciências, humanidades, tecnologia e negócios. Concomitantemente, na USP os alunos receberam por email um convite para um evento chamado “Café Ivrit", um encontro mensal com a proposta de ser uma “prática descontraída do hebraíco", encontro que conta com o apoio do consulado de Israel e da Organização Sionista Mundial. A feira da Unicamp nunca se concretizou graças à força do Movimento Estudantil da Universidade de Campinas, que realizou um ato unificado escancarando o que ficava intencionalmente oculto nesses eventos: o papel de Israel contra o povo palestino. Assim, não se trata de ir contra o intercâmbio científico entre universidades, como quer fazer parecer a reitoria da Unicamp, mas sim de demonstrar que, por trás desses eventos, empreendia-se uma propaganda do Estado de Israel, passando por alto pela luta do povo palestino. Por isso, neste artigo, partimos historicamente de localizar o surgimento do Estado de Israel e a opressão palestina.

Veja mais: Unidade entre organizações palestinas e estudantes da Unicamp impõe o cancelamento de feira de universidades israelenses

Uma Retomada Histórica

A história da Palestina nos faz voltar ao Império Turco-otomano. A região onde atualmente se localizava o território original da Palestina, entre o Mar negro e o Mar Mediterrâo, fazia parte do Império que no fim do século XIX e no início do XX teve seu fim com o aumento da influência do imperialismo europeu no Oriente Médio. Com o declínio do Império Otomano, as forças imperialistas da França e Inglaterra avançaram no Oriente Médio para dividir entre si as terras em um tratado de 1916 nomeado como “tratado de Sykes-Picot”.

Assim, a Palestina ficou sob o comando da Coroa Inglesa, que estabeleceu um protetorado na região para controlar movimentos nacionalistas árabes na região, deslocando e assentando o exército inglês na região. Em 1917, a Inglaterra realiza uma declaração de Balfour, escrita por sionistas da época, onde se coloca a criação de um lar nacional judeu na Palestina. Nesse momento, inicia-se um grande incentivo à imigração judaica para a região, começando uma política de favorecimento econômico da comunidade na região, política que mais tarde irá se ligar com a diminuição do território palestino em prol da criação de regiões judaicas. Porém, diferentemente da tensão instaurada com a criação do Estado de Israel, que perdura até os dias de hoje, a classe trabalhadora árabe e judia vivia em um cenário comum, e era submetida à mesma exploração em setores industriais específicos. Foi parte também dos patrões sionistas o interesse em separar trabalhadores palestinos de trabalhadores judeus, como forma de separar os movimentos da classe operária que surgiam no território.

Saiba mais detalhadamente sobre esse tema no Episódio do podcast Espectro do Comunismo que tem como tema trotskismo e stalinismo na questão palestina e também no podcast Feminismo e Marxismo no episódio Palestina e as Mulheres.

Dessa forma, podemos aqui afirmar que o conflito entre trabalhadores judeus e árabes é consequência das políticas imperialistas impostas pela Inglaterra e por sionistas europeus. Assim, a tensão entre judeus e palestinos irá se intensificar quando em 1947 a ONU vota a criação do Estado de Israel, que oficializa sua criação no ano seguinte, intensificando a resistência palestina que vê em 30 anos seu território ser ocupado e dividido pelas forças imperialistas. A criação do Estado artificial de Israel serve de forma estratégica para que ele servisse como um bastião, uma porta de entrada, do imperialismo estadunidense no Oriente Médio. Vale aqui ressaltar que a URSS sob comando de Stálin em 1947 apoia a criação de Israel, se juntando ao Reino Unido e aos Estados Unidos - mostrando seu papel reacionário de colaboração com o imperialismo. Esse processo termina com uma guerra que ocorre nos anos de 1948 e 1949 e com a vitória Israelita onde se firma a ocupação de 75% do território original da Palestina pelos Israelenses, marcando um derrota ao povo palestino que a partir dessa data passa a sofrer com um regime brutal de apartheid de seu povo, com constantes ataques às regiões que permaneceram sob comando árabe.

Esse processo ocorre após a Segunda Guerra, na qual o povo judeu sofreu um forte ataque com o genocídio ao seu povo. Assim, a justa demanda do povo judeu de se defender do antissemitismo é usada de maneira reacionária pela burguesia para que o imperalismo criasse um Estado artificial e tremendamente militarizado, dado que é um Estado que se impõe na base da expulsão e opressão do povo palestino, localizando-se como um ilha judaica cercada por povos árabes. Israel tem sua criação fundamentada em um forte espírito militar, sendo o exército um fator presente e idealizado por toda a sociedade israelita, não à toa que até hoje em dia vemos o serviço militar obrigatório para homens e mulheres quando atingem os 18 anos.

Evolução da ocupação de Israel no território palestino.

Desde a criação do Estado de Israel em 1947 e do evento conhecido como Al Nakba pelos palestinos que ocorreu em 1948 e marca a expulsão de milhares de palestinos de seus territórios, ao qual eles nunca mais puderam voltar, a Palestina vive sob constante ataque de Israel. O conflito se desenvolveu em uma guerra que já dura mais de 70 anos. Como vemos no mapa, o território da Palestina vem sendo reduzido cada vez mais, com a expansão do Estado israelense feita na base da força bélica. Não é raro ver na TV imagens de escolas, hospitais e prédios dedicados ao jornalismo serem atacados pelo exército de Israel.

Israel é um Estado sustentado pelo imperialismo, é de profundo interesse das potências europeias e dos Estados Unidos a existência desse Estado, dessa forma o apartheid contra o povo palestino é algo compactuado e incentivado. O atual primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, configura-se no cenário internacional como um dos mais importantes símbolos da atual extrema direita mundial. O governo de Netanyahu (em seu terceiro mandato como primeiro-ministro) é marcado pela grande violência contra o povo palestino, como o massacre que ocorreu em Nablus no início deste ano e deixou 11 mortos. Ou então na invasão de uma mesquita em Jerusalém durante o Ramadã no início do mês de Abril.

Bolsonaro ao lado das bandeiras do Brasil, de Israel e dos Estados Unidos.
Fonte da imagem: O Globo

A aproximação entre Brasil e Israel, como já desenvolvido, é um projeto de governo que atravessa o século XXI, passando pelos governos petistas e pelo bolsonarismo, sendo uma mostra do fortalecimento da extrema direita no país. As igrejas evangélicas, desde a criação do Estado de Israel, passam a atribuir a ele um grande peso religioso dentro do cristianismo. Isso levou a igrejas do mundo inteiro saudarem o Estado israelita, o que se intensifica com a aliança entre os Estados Unidos da América (EUA) e Israel, sendo os EUA a maior potência capitalista do mundo e também um grande polo de desenvolvimento das igrejas evangélicas que se difundiram pelo mundo todo. Dessa forma, não é incomum vermos bandeiras de Israel em igrejas ou em atos organizados pela extrema-direita. Bolsonaro, durante seus 4 anos de mandato, alinhou-se profundamente com Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, que marcou presença nas relações do governo desde a sua posse. Israel se configurou como um forte aliado do governo Bolsonaro, assim como configura seu apoio a governos de extrema direita pelo mundo todo.

O Papel das Universidades Israelenses

Neste contexto, o militarismo israelense tem se vinculado cada vez mais com as universidades. Esses centros de excelência cumprem o papel nefasto de serem os desenvolvedores da alta tecnologia bélica que é testada em corpos palestinos, ao mesmo tempo que fornecem novos produtos de exportação. O Instituto de Estudos de Segurança Nacional que é responsável pelas questões “militares e estratégicas, terrorismo e conflito de baixa intensidade, equilíbrio militar no Oriente Médio e guerra cibernética” [1], é filiado à Universidade de Tel Aviv e se desenvolve a partir desses estudos. Já o importante Instituto de Tecnologia de Israel, o Technion, que está na Palestina desde 1912, tem parceria com a Elbit Systems Ltd., uma das maiores empresas de armamento israelita, e desenvolve tecnologias e engenharia de atordoamento em massa, como por exemplo “o ’Scream’ é um sistema acústico ’não letal’ que ’cria níveis sonoros insuportáveis para os humanos a distâncias até 100 metros”1, usado na repressão de manifestações nos territórios palestinos. A Universidade Bar-Ilan, fundou um campus em Ariel, um assentamento israelense ilegal no centro da Cisjordânia, além de desenvolver em conjunto com o exército uma inteligência artificial voltada à veículos de combate não tripulados1. O processo de limpeza étnica palestina é relacionado à Universidade Hebraica de Jerusalém, que “levou à despossessão e desterro de centenas de famílias palestinas para expandir-se para a parte oriental desta cidade palestina [desde] 1968”1. Por fim, a Universidade de Haifa colaborou no desenvolvimento do Bulldozer D9 Telecomandado, utilizado na destruição de construções palestinas, principalmente casas de civis. Entre 2008 e 2013, Haifa teve parceria com a Elbit System Ltd., fornecendo dispositivos de detecção para serem implantados no muro da Cisjordânia e drones ao exército israelita, usados em combates na Cisjordânia e em Gaza.

Essas novas tecnologias - além de servirem para manter o Apartheid e a imposição da ocupação israelense com cada vez menos soldados - são também fornecidas para exportação a partir da indústria de segurança de Israel. Inclusive o Brasil se configura entre um dos maiores compradores desses produtos táticos e militares. A principal empresa de armamentos israelenses é a Elbit Systems Ltd. já mencionada anteriormente. A Elbit é dona de três empresas de armas brasileiras (AEL, Ares Aeroespacial e a Defesa SA). As relações entre Brasil-Israel têm como pilar a exportação de armas. Bolsonaro em 2019, enquanto cumpria seu mandato realizou uma viagem para Israel, viagem que rendeu em um decreto legislativo aprovado em 2022 que ‘prova o acordo de cooperação na área de defesa assinado entre o Brasil e Israel em 2019.’, decreto esse que segue em vigor no governo Lula-Alckmin.

As relações entre o governo brasileiro e Israel não começaram no mandato de Bolsonaro. Em 2003, no primeiro ano de governo Lula, as forças armadas brasileiras abriram um escritório em Tel Aviv e já em 2010, no último ano do segundo mandato do atual presidente, o governo brasileiro assinou um acordo de cooperação de segurança com Israel no final de novembro de 2010 para facilitar a cooperação e os contratos militares. Essa sequência de ações que iniciaram a aproximação entre Brasil e Israel durante os governos Lula, mostram uma profunda demagogia do governo que aprofundava as relações com Israel, ao mesmo tempo apresentava um discurso em defesa do povo árabe. Devido a esses acordos militares com o Estado sionista, as armas que miram no povo palestino miram também na juventude negra reprimida diariamente pela polícia brasileira.

Com a iminência da Copa do Mundo e das Olimpíadas que ocorreram no Brasil, respectivamente nos anos de 2014 e 2016, o Brasil buscou cada vez mais as relações com Israel (o muro construído na cidade do Rio de Janeiro, muito similar aos de Gaza, que separava as favelas da Maré, foi realizado com a ISDS no país [2]). Tendo em 2013, segundo a ativista palestina Sahar Vardi em relato ao jornal Brasil de Fato, o governo brasileiro investiu 1,13% do PIB para a modernização das Forças Armadas com equipamentos israelenses. A partir desses eventos esportivos, a empresa israelense, International Security, Defence Systems (ISDS), com o aval do Ministério de Defesa de Israel, foi encarregada do treinamento do Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio de Janeiro (BOPE), e do Batalhão de Ferguson, responsáveis pelo assassinato de Michael Brown, caso que gerou grande comoção nos Estados Unidos e deu origem ao Black Lives Matter [3]. No estado de São Paulo, em 2015, durante o governo de Alckmin, o Estado adquiriu de Israel 6 blindados no valor de 30 milhões de reais. O veículo foi recebido em um evento no qual Alckmin entregava as chaves dos blindados para o secretário de segurança Alexandre de Moraes.

O kufiyah (lenço palestino) como parte do uniforme do BOPE usando para cobrir o rosto durante uma operação realizada no Complexo do Alemão em 2017 [4].

Conhecimento em Disputa

A partir disto, a pergunta que se instala é para onde vai o conhecimento produzido nas maiores universidades da América Latina? como é a USP e a UNICAMP. A relação entre a UNICAMP com universidades israelenses é de longa data. Desde 2006, acontecem debates [5], conferências [6], concursos de startups com viagem para Israel [7], “Jornada de Inovação Brasil-Israel” [8], intercâmbio de empresas brasileiras para Israel [9], workshops com intelectuais e quadros de diversas das universidades israelenses citadas [10]. Além do forte incentivo à submissão de projetos para a chamada da FAPESP e do Centro de P&D da Indústria Israelense (Matimop) [11]. Por exemplo, esse incentivo, em 2015, com o discurso de “promover pesquisas em projetos colaborativos de inovação entre empresas do Estado de São Paulo e de Israel”, selecionou 10 projetos brasileiros, que receberam até 1 milhão de reais cada. A feira que estava marcada para o dia 03 de Abril contava com representantes da Universidade de Bar Ilan, Universidade de Haifa, Universidade Hebraica de Jerusalém, Universidade de Tel Aviv e Technion – Israel Institute of Technology.

Esse incentivo de “troca de ciências internacionais”, visando uma perspectiva “empreendedora e de inovação” aos pesquisadores brasileiros, esconde o papel nefasto que esses centros de alta tecnologia israelenses possuem na produção de pesquisas que desenvolvem técnicas e ferramentas militares que servem diretamente à repressão do povo palestino e à opressão de mulheres e crianças.

Já na Universidade de São Paulo, as relações concretas com o Estado de Israel são mais recentes, porém atualmente já se torna evidente a proximidade entre a reitoria e as autoridades israelenses, nomeando diretamente o movimento sionista. Em dezembro de 2021, foi fundado na universidade da capital paulista o Israel Corner, um órgão que faz parte do Centro Intercultural Internacional (CII), centro que realiza ações conjuntas com a Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (AUCANI). O evento de inauguração do Israel Corner contou com a participação do vice-cônsul e dos representantes do CII e da AUCANI, como é relatado no site da agência “O tema em comum dos discursos foi a importância das relações entre Israel e a USP além das vantagens das trocas culturais internacionais”.

A promessa de aumentar a relação entre Israel e a USP não tardou para sair do papel. Em abril de 2022, aconteceu na USP uma “Feira das Universidades Israelenses”, evento que contou com as mesmas universidades que iriam na feira que ocorreria na UNICAMP e contou com o consulado de Israel organizando o evento. Já em julho desse mesmo ano, o reitor da USP, Carlos Carlotti, encontrou-se com Aviel Avraham, vice-cônsul de Israel, encontro que teve o objetivo de aprofundar ainda mais as relações entre o consulado e a universidade.

Assim, já no início de 2023, vemos uma escalada de eventos organizados em conjunto com o consulado de Israel e a Organização Sionista Internacional. Em fevereiro o Consulado Geral de Israel em parceria com a Stand With Us Brasil (organização não partidária que se descreve com uma apoiadora do Estado de Israel e que luta contra o antissemitismo) abriram um processo de seleção para 2 alunos da USP participarem de um ciclo de palestras no Consulado. As palestras tinham temas como “Introdução a História de Israel”, “Dilemas no processo de paz entre israelenses e palestinos” e “A história dos acordos de paz entre israelenses e o mundo árabe”. Esse evento mostra um cinismo brutal por parte do Consulado de Israel, principalmente quando vemos que no último dia 5 a polícia israelense invadiu uma mesquita em Jerusalém, durante o Ramadã, agredindo quem estava presente, inclusive mulheres e jovens e utilizando ostensivamente bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. A invasão deixou um morto e prendeu 350 pessoas.

Nas últimas semanas, os alunos receberam no e-mail um convite para o “Café Ivrit” evento mensal para a prática do hebraico “de forma descontraída”. Evento que novamente conta com a participação do Consulado de Israel e agora com Organização Sionista Mundial, organização responsável pela criação do Estado de Israel e que fomenta a anos já o apartheid contra o povo palestino. Vemos que a ligação entre a USP e o Estado genocida de Israel não é mera coincidência e sim um projeto que vem sendo imposto na universidade que parte desde encontros descontraídos até feiras que trazem universidades israelenses para fomentar o intercâmbio de estudantes brasileiros para Israel e em todos eventos o consulado de Israel aparece como organizador, o que se dá, evidentemente, sem qualquer debate sério sobre o papel do Estado de Israel e da luta palestina na região.

A universidade é um ambiente contraditório, em disputa, e onde a burocracia universitária com sua estrutura de poder busca garantir um projeto a serviço das empresas e dos interesses da classe dominante. Isso aparece na fala do presidente da Universidade de Haifa, na Jornada de Inovação Brasil-Israel de 2019, diz que o “papel diferenciado que a universidade mantém na promoção educação para a inovação e o empreendedorismo” [12], mas se escancara no papel que estas universidades possuem na manutenção da exploração e da opressão, como é explícito nas universidades israelense, mas que também aparece quando os reitores da USP/UNICAMP se vangloriam de ter como empresa filha a Movile, que desenvolveu o Ifood, aplicativo que precariza a vida da juventude que pedala 12h por dia.

Tanto a USP quanto a UNICAMP vêm nos últimos anos colocando em curso um projeto privatista que busca cada vez mais alinhar a produção de conhecimento com as necessidades de mercado e gerar uma mão de obra que influencie um aumento da competitividade entre as empresas. Dessa forma o projeto de privatização da universidade é feito ao mesmo tempo em que a reitoria e os governos do estado fundamentam a terceirização dentro das universidades, explicitando a contradição de dentro das universidade de excelência, reconhecidas como as maiores da América Latina, termos trabalhadores terceirizados em condições de semiescravidão. Assim, dentro desse projeto implementado nas universidades, a terceirização do trabalho tornou-se um pilar importantíssimo escancarando as contradições da reitoria e da burocracia acadêmica.

A própria estrutura de poder destes centros é reflexo de uma burocracia universitária que precisa passar por cima das necessidades e opiniões dos estudantes e trabalhadores, efetivos e terceirizados, que são a maioria da universidade. Nos mais importantes órgãos deliberativos, os alunos possuem a menor porcentagem de peso no voto e aos terceirizados é vetada a participação. Após o cancelamento da feira pela luta do unificado do Movimento Estudantil, o reitor declarou no Conselho Universitário que “não é possível conviver com a violência que impede o debate de ideias, não havendo outra saída para uma instituição como a nossa”. É muito chamativa uma resposta oficial condenar os atos desta forma, ressaltando ser inaceitável uma mobilização contra a feira ao mesmo tempo que não se considera em nenhuma instância a violência física que o Estado de Israel comete contra os palestinos.

Todavia, diferente de outras instituições burguesas, a universidade deve ser disputada. O acumulado de conhecimento que ela guarda não pode estar a serviço do capital, pelo contrário, as reflexões devem dar resposta às necessidades da classe trabalhadora e abrindo caminho para as inúmeras possibilidades de modo de vida sem as amarras do capitalismo. Por isso, nós da Faísca Revolucionária intervimos nas lutas do Movimento Estudantil em defesa da universidade pública, contra a burocracia acadêmica e as reitorias, em aliança com os trabalhadores, contra a nefasta terceirização e lutando pela efetivação sem necessidade de concurso público das terceirizadas que diariamente nos mostram que sabem realizar suas funções com excelência. Essa aliança entre a juventude e os trabalhadores é a unidade capaz de disputar o conhecimento das universidades, a chave da disputa de novas realidades e da construção de uma nova sociedade. Neste momento, isso passa por construir um movimento internacionalista e anti-imperialista que se solidarize com a luta do povo palestino e queira produzir conhecimento a serviço dos povos oprimidos do mundo.

Nós também sabemos que a autodeterminação dos povos só pode se dar numa batalha consequente contra os interesses e os lucros dos imperialistas, e essa mesma unidade é a única capaz de impor uma luta consequente que arranque das mãos de Israel e do imperialismo o futuro dos palestinos, marchando à uma Palestina Livre, Operária e Socialista, do rio Jordão ao mar Mediterrâneo, um lugar livre para árabes, judeus e todas as etnias. Todas essas batalhas precisam acontecer confiando nesta aliança revolucionária e se baseando nos métodos da nossa classe, sem confiança nos governos. O conhecimento científico produzido nos centros de conhecimento deve estar a serviço da classe trabalhadora - mulheres, negres, indígenas, lgbts e o conjunto dos setores oprimidos -, muito além de um projeto burguês.

Referências bibliográficas:

AMERICA, The BDS Movement in Latin.- Israeli Militarism in Latin America. https://www.stopthewall.org/sites/default/files/Israeli-Militarism-in-Latin-America.pdf

ASSUNÇÃO, Diana. (ORG.) - A Precarização tem Rosto de Mulher. Edições Iskra

https://www.brasildefato.com.br/2017/02/03/brasil-e-um-dos-principais-compradores-de-tecnologia-e-treinamento-militar-israelense

https://fepal.com.br/wp-content/uploads/2023/03/OFICIO-011-2023-PEDIDO-A-UNICAMP-PARA-QUE-CANCELE-A-FEIRA-DE-UNIVERSIDADE-ISRAELENSES-E-DECLARE-SE-TERRITORIO-LIVRE-DE-APARTHEID.pdf


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Brenda Brossi

Estudante de Ciências Sociais - UNICAMP

Chico Noventa

Estudante de História da Universidade de São Paulo - USP
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