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130 ANOS DA ABOLIÇÃO - DOSSIÊ DIA DA MULHER NEGRA, LATINA E CARIBENHA | Os dois meses sem Marielle gritam aos 130 anos da abolição

quarta-feira 16 de maio de 2018 | Edição do dia

imagem do cartunista Dodo

No dia 13 de maio de 1888, segundo a historiografia oficial, uma princesa benevolente, extinguiu aquela que seria uma das mais atrozes experiências de exploração e opressão no Brasil, a escravidão negra. Mas é acreditando nas palavras do trotskista negro CLR James, de que o único lugar onde os negros não se rebelaram foi no livro dos historiadores capitalistas, que nós dizemos com todas as letras e certeza, que a abolição da escravidão só ocorreu graças à resistência e rebelião dos próprios negros e hoje passado 130 anos, a situação dos negros no país e mais recentemente a morte de Marielle escancaram as faces do racismo na nossa sociedade, mas também a potência que tem os negros quando se levantam.

De um lado a opressão racista aos negros se manteve no país mesmo com o fim da escravidão, e de outro a escravidão só teve seu fim graças às rebeliões, fugas, quilombos, e toda uma série de exemplos de como os negros resistiram e lutaram bravamente contra a escravidão e seus senhores no país e não pela vontade da boa princesa. Aqui, não teve jeito, a burguesia débil nasceu pressionada entre a resistência da massa negra e os interesses da metrópole. Por isso, a burguesia teme tanto a entrada em cena das massas negras junto aos trabalhadores.

O texto morto da lei áurea, se escancara ainda mais quando estamos diante de 60 dias de silêncio em relação a quem executou a única vereadora negra do Rio, Marielle Franco. Já são 60 dias de liberdade aos que queriam calar a voz de Marielle, porque ela denunciava o racismo e o massacre dos negros cotidianamente no Rio de Janeiro. Mas o grito de Marielle, não se silenciou, ecoou por cada canto desse país e do mundo, levando milhares às ruas em repúdio a sua morte e a intervenção federal que dá superpoderes a um general.

A realidade dos negros no país não pode ser escondida nem pelas grandes mídias que tenta esvaziar o verdadeiro significado desse dia e toda a resistência negra, querendo sempre dar saídas individuais, e meritocráticas, como se tudo se resolvesse com esforço individual de cada um, e como se a globo também não fosse parte da manutenção do racismo no país, ideologicamente pela sua programação, e explorando dentro da empresas os trabalhadores negros. Ainda assim, há limites hoje para esconder a enorme opressão racial que sofremos, como mostrou a matéria do fantástico desse domingo sobre o racismo que os negros sofrem nas universidades, e matérias do G1 que mostrou que o salário médio de um trabalhador negro no Brasil é 1,2 mil a menos que um trabalhador branco.

Essa realidade é ainda mais alarmante quando vemos que uma mulher negra ganha em média 60% a menos que um homem branco, que são os negros, em especial as mulheres, as que estão nos postos mais precários de trabalho, como é o trabalho da terceirização. Que a cada 10 homicídios no país, 7 são de jovens negros, que os negros têm menos escolaridade, estão entre os mais pobres, entre a maioria dos desempregados e entre a minoria dos estudantes do ensino superior.

Mas não existe nenhuma saída individual para um problema que é mais do que estrutural no país, que sustenta os lucros dos patrões em cima da divisão do trabalho e de toda a vida social entre negros e brancos e em cima do roubo da nossa identidade, ainda mais num momento de crise capitalista, onde o golpe institucional tem sua continuidade, e o “mercado” quer atacar ainda mais a vida dos trabalhadores no país, com a ampliação da terceirização, a PEC 55 e a reforma trabalhista, para assim rebaixar as condições de trabalho do conjunto da classe operária, para isso, a burguesia tá disposta a atacar até mesmo a própria democracia degradada dos ricos.

É certo que o golpe institucional de 2016 segue seu curso, rifando até mesmo o regime de 1988 e a conciliação petista como seu pilar. A intervenção federal, escancarou que o discurso de combate a criminalidade é mais do que mentira, e essa intervenção só serve para que o Estado, responsável pela morte de Marielle, persiga, encarcere e assassine os negros no Rio de Janeiro, dando superpoderes aos militares, que vem agarrando um papel no cenário político nacional.

Com a prisão arbitrária de Lula, que retira o direito do povo até mesmo de decidir em quem votar, a toga arbitrária do judiciário se fortaleceu, se fortalecendo também seus métodos absurdos de investigação que se voltam sobretudo contra os negros e pobres cotidianamente com a violência policial, e no fato de mais de 40% da população carcerária não ter tido direito nem a ser julgado antes de ser jogado numa prisão.

Mas é certo também que a crise orgânica brasileira, está longe de se resolver, e apesar da burguesia apostar suas fichas nas eleições de 2018, não tem um candidato seu que possa emplacar e estabilizar o regime para aprofundar seus ataques. Neste cenário, há somente um ator que pode entrar em cena e dar uma resposta de fundo à crise, a poderosa classe trabalhadora brasileira, de maioria negra, que protagoniza os pesadelos da burguesia, há mais de 130 anos, e atualmente com expressões como a greve geral do dia 28 de abril do ano passado.

É na classe trabalhadora brasileira, levando consigo as demandas dos negros, mulheres, lgbts e todos os oprimidos da sociedade, que nós apostamos como única saída que pode dar uma resposta a todos os problemas sociais, a cada mazela que os negros nesse país são obrigados a viver e aos ataques que os golpistas já fizeram passar. Não podemos ter ilusão nas saídas que apontam para uma reedição da estratégia petista de conciliação de classes.

Os trabalhadores, se munidos de um programa anticapitalista, podem responder questão do não pagamento da dívida pública, que rouba mais de 40% do orçamento público para os banqueiros, para que o orçamento público vá para construção de moradias populares, para educação, para a saúde, ou mesmo a necessidade de estatização das universidades privadas, para que toda a juventude negra tenha acesso à universidade de forma gratuita.

Também podem hoje responder a questão da Petrobrás, defendendo que esta seja estatizada e tenha uma administração democrática, sobre controle dos petroleiros e da população, já que Temer e o Imperialismo, que quer roubar nossos recursos naturais, avança hoje com a privatização sobre 4 refinarias e 12 terminais.

Podemos mover uma enorme força social, com um programa anticapitalista nas mãos, para fazer com que sejam os capitalistas e não os trabalhadores e os povos oprimidos que paguem pela crise que não é nossa, enfrentando o Imperialismo, que segue matando os nossos com suas guerras e suas crises, e que avança hoje sobre a vida de cada trabalhador no país.

Por isso, nesses 130 anos da falsa abolição no Brasil, nós apostamos que os negros, assim como fora sujeitos de seu próprios destinos, lutando contra a escravidão em todo o mundo, estando à frente de várias experiências históricas da classe operária em movimento, pode hoje estar na linha de frente da resposta que a classe operária pode dar a cada ataques dos golpistas. Exigindo respostas ao caso de Marielle, e uma investigação independente que possa de fato chegar à verdade sobre seu assassinato.

Nesses 130 anos em que o racismo não teve fim, nossa força, nosso ódio por todos os que caíram diante do racismo e do capitalismo, nossa capacidade de organização, nossa rebeldia contra os patrões também não acabou, pelo contrário, só ganha mais força a necessidade de colocarmos a burguesia de joelhos, e esse sistema de exploração do trabalho e de opressão racista no lixo. Carregamos conosco o legado dos negros e negras insurretos que lutaram contra a escravidão, e nada teme mais a burguesia, do que quando esse legado se transformar em força material.




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