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"Paranóia ou Mistificação": o conservadorismo de Monteiro Lobato

Laura Sandoval

"Paranóia ou Mistificação": o conservadorismo de Monteiro Lobato

Laura Sandoval

Tendo em vista a ocasião do Dia da Literatura Brasileira, revisito neste artigo uma antiga polêmica literária, expressa por José Bento Monteiro Lobato no artigo “A propósito da exposição Malfatti”, publicado em dezembro de 1917, mais conhecido como "Paranóia ou mistificação?”. Em busca, assim, de compreender as ideias conservadoras expressas nessa crítica, à luz de uma análise material.

A crítica “A propósito da exposição Malfatti” de Monteiro Lobato foi publicada pela primeira vez no jornal Estado de São Paulo em dezembro de 1917, imediatamente após a abertura da “Exposição de Pintura Moderna - Anita Malfatti”, realizada em São Paulo. Posteriormente, em 1919, foi republicada pelo autor na coletânea “Ideias de Jeca Tatu” sob o título "Paranóia ou mistificação?”, pelo qual foi difundido até os dias de hoje. Esse artigo foi, ao longo de mais de um século de história da literatura brasileira, interpretado de maneiras diversas e com propósitos diversos. Rebatido, refutado, distorcido e inclusive defendido enquanto crítica, cabe aqui uma singela tentativa de compreender as ideias conservadoras que guiaram Lobato enquanto formador de opinião e crítico de arte.

Breve contemplação do momento histórico de 1917

Em “Literatura e Sociedade” o crítico literário Antonio Candido bem coloca que “a obra depende estritamente do artista e das condições sociais
que determinam a sua posição”. Assim, se faz necessário compreender alguns aspectos gerais que atravessaram o tempo histórico em questão, para se compreender melhor as ideias em debate no artigo.

O cenário internacional era atravessado pela Primeira Guerra Mundial, cujos impactos já eram sentidos fortemente nesse período final da guerra, em especial na Europa. O avanço tecnológico sendo usado a serviço da devastadora guerra imperialista impactou fortemente a população em relação à modernidade. Isso foi expresso pela sensibilidade artística de uma vanguarda europeia questionadora das tradições e a criação de novas estéticas artísticas para corresponder a tal momento histórico miserável. Nesse ano também ocorreu a experiência humana mais avançada no sentido superador das contradições capitalistas, a Revolução Russa de 1917, que também abriu caminho para experiências inovadoras no campo da arte. Já no cenário nacional, em São Paulo, palco da posterior Semana de Arte Moderna de 22, o ano de 17 foi marcado por uma grande Greve Geral de operários, gerada em contexto de instabilidade econômica decorrente da guerra, que viria a ser a primeira greve geral do Brasil.

O país ainda era uma república muito jovem, e, se atualmente ainda vemos a conservação de uma elite rural consolidada durante o império e com heranças escravistas, naquele momento seu poder era muito maior. Essa elite tradicional estava interessada em refletir os rumos dessa república, e, para além disso, toda a recente formação do Estado nacional brasileiro. Havia, assim, para o pensamento da elite da época, uma necessidade de se desprender de heranças europeizantes, desatrelando-se também da subjugação à uma burguesia internacional.
Nesse sentido, Monteiro Lobato foi um dos grandes representantes dessa elite intelectual em formação, que levantava ideais positivistas para desenvolvimento capitalista no Brasil da primeira república. Não à toa Lobato era um grande admirador de Henry Ford, e dos processos com os quais levaram os Estados Unidos a se tornarem uma potência imperialista mundial. Seu projeto era replicar no Brasil esse modelo, incentivando a industrialização. Porém, ele via certos obstáculos, como o atraso do país.

O Brasil, país da periferia do capitalismo, se encontrava numa inicial conformação da classe burguesa ligada à economia cafeicultora, as elites rurais herdeiras da escrevidão, mas também de inicial industrialização, principalmente em São Paulo. Tal formação coloca em contradições atraso e modernização de modo concreto e real, o que Leon Trotsky vai chamar de “desenvolvimento desigual e combinado”. No entanto, a percepção dos atrasos, combinados uma ânsia pela efervescência moderna e tecnológica que já existia nos países imperialistas e que começava a aparecer em traços no Brasil, vai levar Monteiro Lobato a conclusões absurdas não somente positivistas, mas também conservadoras, darwinistas sociais e eugenistas. Ele defendia que para a superação do atraso brasileiro, a elite burguesa e intelectual deveria dirigir a industrialização do país, considerando a população rural incapaz de qualquer movimentação progressista: pobre, preguiçosa e ignorante, como ele ironiza na personagem “Jeca Tatu”.

Projeto literário de Monteiro Lobato

Partindo dos elementos que guiavam a corrente de pensamento da qual Monteiro Lobato era representante em sua época, podemos entender melhor que projeto ele articulou para a literatura, que possuia características da estética naturalista, e conteúdo nacionalista.

Novamente partindo das contribuições de Candido à crítica literária: “Neste ponto, surge uma pergunta: qual a influência exercida pelo meio social sobre a obra de arte? Digamos que ela deve ser imediatamente completada por outra: qual a influência exercida pela obra de arte sobre o meio? Assim poderemos chegar mais perto de uma interpretação dialética, superando o caráter mecanicista das que geralmente predominam.”. Tomemos essa reflexão de inspiração.

O crítico estava preocupado em refletir e defender uma “arte propriamente brasileira”, questão que também seria central para os seus opositores modernistas. Porém, partindo de concepções e correntes de pensamento que diferiam, a obra de Monteiro Lobato adquire, assim, tendências nacionalistas de necessidade de uma produção “sem referências externas”. Ele via que a dependência do Brasil das grandes potências imperialistas era um fator que mantinha o próprio atraso. Porém, a saída, para ele, seria, então, o rompimento completo com quaisquer influências internacionais que supostamente faria o Brasil se desenvolver como uma potência imperialista própria, a partir do desenvolvimento de suas indústrias nacionais, e paralelamente, de sua “arte nacional”. Pois, ele entendia que já que a burguesia internacional mantinha sob suas rédeas a burguesia nacional que ele achava que deveria crescer, a arte estrangeira iria minar a cultura brasileira que ainda estava em processo de formação. Sua literatura estava então à serviço de combater as ameaças à tecnificação e à formação cultural brasileira.

Aqui fazemos uma análise marxista, porém é importante ressaltar o quanto a dialética passava longe do pensamento lobatiano.

"Paranóia ou mistificação?”

Lobato inicia sua crítica dividindo os artistas em dois grupos polarmente distintos, duas “espécies”, como classifica claramente influenciado pelo pensamento naturalista, determinista e falsamente científico. A primeira seria “composta dos que vêem normalmente as coisas e em conseqüência disso fazem arte pura, guardando os eternos rirmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres.”. Portanto, essa seria a arte verdadeira, defendida por Monteiro Lobato para o Brasil, que deveria firmar seus expoentes da “arte pura e puramente brasileira”, bem como em cada um dos países citados por ele, que possuíam seus mestres plásticos por excelência, e tantos outros que não chegariam a ser mestres, mas, ainda assim, compartilhariam de tal “visão normal” e beberiam das fontes dos mestres. Já a outra espécie seria “formada pelos que vêem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos de cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência: são frutos de fins de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz de escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento.”. Essa seria uma espécie que via o mundo anormalmente pois tinha sido interpelada por outras correntes de pensamento, por uma perspectiva degenerada irreparável, mas fadada a não vingar e não convencer o público. O autor dá uma origem para tal “arte anormal”: a paranoia, que seria sua sincera expressão “manicomial”, ou a mistificação, uma insincera reprodução ludibriosa das “psicoses”.

Para Monteiro Lobato, a “arte pura” seria como a ciência para os positivistas, constituída por leis fundamentais inquestionáveis e universais. Para isso, essa arte deveria ser inquestionavelmente uma representação mimética e proporcional da realidade. Em defesa de suas ideias, o crítico utiliza argumentos de caráter naturalista, como se houvesse uma motivação biológica para a superioridade da “arte normal” e da mimesis aristotélica. Ele justifica que a representação fiel e realista da realidade facilitaria o “sentir”, enquanto representações vanguardistas, a “arte manicomial”, dificultariam pois é uma percepção mais forçosa. É um fato que a percepção do público de uma obra realista e uma cubista, vai se dar de modo distinto, mas, diferentemente do que alega Lobato, isso não é justificativa para validação ou aversão a esta ou aquela forma de representação. Ele vai além, e propõe que a chamada “arte moderna” seria uma “arte caricatural”: uma extensão da caricatura que “não visa, como a primitiva, ressaltar uma idéia cômica, mas sim desnortear, aparvalhar o espectador.”.

A tese que inicia o artigo "Paranóia ou mistificação?” não se sustenta, porque seu autor inválida parte da arte que não se adequa ao seu projeto e sua concepção. Enquanto, na verdade, a arte deve ser encarada e analisada sob suas próprias leis: sua motivação, seu projeto, seu contexto histórico, seu conteúdo, suas formas e sua repercussão. A arte de vanguarda busca sim desnortear seu público, através de uma representação estética não realista. Essa perturbação não seria também uma forma legítima do “sentir”?

Como já é bem conhecido, Monteiro Lobato faz todas essas considerações a respeito da arte, a partir da exposição de Anita Malfatti. Mas ele se abstém de fazer uma crítica especializada da exposição, talvez porque ele possivelmente nem compareceu a esta, como sugere Menotti Del Picchia, um dos precursores da Semana de Arte Moderna de 22, na crônica “Uma Palestra de Arte”. Ele trabalha em cima de generalizações a respeito da arte, contrapondo arte realista à arte moderna, como se fossem inconciliáveis, e não ambas formas distintas, porém legítimas da expressão humana. Desse modo, atribui as diferenças estéticas à biologia, a “uma visão normal ou anormal” das coisas, como se duas pessoas diante do mesmo momento material, não pudessem expressá-lo de forma e perspectivas diferentes a partir de distintas experiências com a realidade social.

Explica-se, então, seu conservadorismo: a crítica norteadora do artigo é contra a representação da realidade de forma não tradicional e não mimética, pois Monteiro Lobato e as correntes que guiam sua forma de encarar a realidade necessitam de um padrão esperado, de uma ciência positivista. O autor escreve: “A fisionomia de que sai de uma destas exposições é das mais sugestivas. Nenhuma impressão de prazer, ou de beleza denuncia as caras; em todas, porém, se lê o desapontamento de quem está incerto, duvidoso de si próprio e dos outros, incapaz de racionar, e muito desconfiado de que o mistificam habilmente.”. É bastante gráfico que o desconforto causado pela arte moderna seja descrito como “ser incapaz de raciocinar”. Segundo a historiadora Paula Marinelli Martins: “A razão, expressa na instrução, na ciência e na técnica são, para alguns integrantes da elite intelectual, elementos fundamentais ao progresso. Essa construção positivista elimina a possibilidade da indeterminação, considera anômalo aquilo que não se alia a razão, precisando ser reeducado ou até mesmo excluído.”. Assim, Lobato atribui à arte moderna esse caráter “manicomial”, de que só poderia ser fruto de transtornos psicológicos, para defender seu projeto para o Brasil e para a arte. Isso porque o crítico e os vanguardistas partem de concepções diferentes e inconciliáveis. Ou seja, se ele reconhecesse e validasse a arte moderna, estaria indo na contramão do projeto de industrialização do Brasil e da intelectualização das elites, para alçar o país à superação do seu atraso e dependência. Pois, as vanguardas explodem com o sentido oposto, da falência do positivismo culminando na Primeira Guerra Mundial, na qual toda a ciência e toda técnica foram usadas à serviço da guerra imperialista. Da barbárie capitalista, tendo também a experiência da Revolução Russa e o consequente desenvolvimento artístico, surgem as vanguardas estéticas questionadoras da tradição da arte em busca de novos modelos estéticos correspondentes ao momento histórico vivido. Dessas influências esteticamente inovadoras bebem os modernistas para refletir uma “arte propriamente brasileira”, olhando para o cenário nacional e internacional e chegando a conclusões diferentes de Lobato. Por esses motivos, a “Exposição de Pintura Moderna - Anita Malfatti”, um marco importante para o acontecimento da Semana de Arte Moderna de 1922, recebeu duras críticas de Monteiro Lobato, críticas generalizadas sobre arte e não especializadas na obra da artista plástica, pois o que interessava ao autor era atacar e talhar o projeto e concepções modernistas de conjunto, em defesa das suas próprias concepções ideológicas. O projeto, o conteúdo, era o que estava em jogo por trás desse debate estético.

Questão de gênero, repercussão e o projeto modernista

O debate aberto aqui ficaria incompleto sem perpassar pelas questões de gênero, amplamente debatidas e focalizadas quando se discute o artigo em questão. Em verdade, a maioria das análises se detém superficialmente nesse ponto, sem considerar as questões que este artigo aborda até agora.

Se, por um lado, o debate do senso comum se detém à pessoalização das críticas e ao machismo de Monteiro Lobato, na academia o debate lava as mãos para a questão de gênero. Essa segunda leitura defende que a sensibilidade do senso comum não apreendeu o debate corretamente, ao ver a crítica com “lentes da ideologia vitimária”, e necessitaria, então, de uma “leitura desapaixonada”, como escreve Annateresa Fabris, professora aposentada do Departamento de Artes Plásticas da ECA-USP, em seu artigo sobre o tema. usa-se dos elogios ao talento de Malfatti que o autor incorpora a sua crítica como justificativa para rebater a centralização das análises na questão de gênero, e, assim, nunca parece haver uma crítica que contemple a discussão, tanto da parte da sensibilidade importante sentida ao ler termos desgostosos no artigo de Lobato, quanto da parte que explique os elogios à pintora brasileira.

É certo afirmar que a situação das mulheres de conjunto era de bastante exclusão e opressão. Se por um lado, o local reservado para elas era o lar, como donas de casa, por outro lado, as que trabalhavam ocupavam postos de enorme precarização, informalidade, e diretamente ligados à herança escravista no caso das mulheres negras. Do mundo das artes também eram excluídas, fora algumas poucas de origem pequeno-burguesa mais abastada, que puderam se dedicar à expressão humana, porém sem muita credibilidade ou atenção por parte da sociedade brasileira. Essa opressão era amparada pela própria “ciência”, que inventava determinismos biológicos para justificar a desigualdade de gênero.

Nesse complicado cenário para as mulheres, muitas críticas de arte sobre artistas mulheres não eram feitas com seriedade. Porém, o fato de Lobato fazer uma crítica ao projeto da arte moderna, não exime o caráter de opressão de gênero que é sentido pelo senso comum desde a primeira leitura, e que no artigo não há igualdade de tratamento, mesmo por trás de todos os elogios ao talento de Anita Malfatti, como pintam as análises acadêmicas.

Em primeiro lugar, porque tanto “paranoia” quanto “mistificação”, são termos historicamente relacionados às mulheres, seja pela loucura, seja pelo caráter falseador atribuídos pelo determinismo. Apesar de os termos serem usados para determinar origens da “visão anormal” do projeto do grupo de artistas que realizava arte dita moderna, e não a artista Malfatti em si, é intrigante constatar que o artigo inicialmente chamado “A propósito da exposição Malfatti” venha adquirir esse título na republicação, e ficado mais conhecido assim. Na prática, vimos como o nome da artista, presente no primeiro título, acabou atrelado sim aos termos do segundo.

E, em segundo lugar, a configuração da crítica se dá de maneira paternalista. Tomemos o trecho: “Há de irritar-lhe os ouvidos, como descortês impertinência, esta voz sincera que vem quebrar a harmonia de um coro de lisonjas. Entretanto, se refletir um bocado, verá que a lisonja mata e a sinceridade salva. O verdadeiro amigo de um artista não é aquele que o entontece de louvores, e sim o que lhe dá uma opinião sincera, embora dura, e lhe traduz chãmente, sem reservas, o que todos pensam dele por detrás. Os homens têm o vezo de não tomar a sério as mulheres. Essa é a razão de lhes derem sempre amabilidades quando elas pedem opinião. Tal cavalheirismo é falso, e sobre falso, nocivo.”. Existe uma irônica incredulidade por parte de Lobato de que fosse possível considerar arte a produção de Malfatti, como visto anteriormente, originados pela incapacidade do mesmo de raciocinar essa nova estética, mas também por uma questão de gênero, visto que ele insiste que os elogios recebidos não passam de “cavalheirismos” com a pintora. Desse modo, seus duros comentários seriam uma honra à pintora “merecedora da alta homenagem”, como ele mesmo classifica, enquanto os comentários positivos seriam falsos, motivados por uma proteção da integridade da mesma. Portanto, verifica-se na crítica que Lobato acreditava estar fazendo um favor à artista, de distorcer uma “obra torcida para a má direção”, como qualificou. A lógica dessa crítica ainda mantém Anita Malfatti na posição de ingênua, “seduzida pelas teorias do que ela chama arte moderna”, segundo o autor, o que se diferencia muito das análises recentes que advogam que o debate aberto era de “igual para igual”.

Após a polêmica que marca a literatura brasileira até os dias de hoje, muitos artistas rebateram a crítica de Monteiro Lobato, principalmente aqueles que viriam a ser os principais expoentes do modernismo brasileiro. Mário de Andrade classificou como “passadista”; Oswald de Andrade respondeu com suas características ironias. Porém, essas faltavam em ferramentas teóricas para debater profundamente as divergências de projeto para a literatura brasileira. Talvez, uma superficialidade calculada, para difundir a polêmica, sem um debate de ideias mais profundo, visto que o caso foi transformado no estopim para a realização da Semana de Arte Moderna na frente do Teatro Municipal de São Paulo. Havia sentido na narrativa modernista sobre o caso, transformando Anita Malfatti num mártir do projeto, alavancando o Modernismo brasileiro, ainda que às custas de que, até os dias de hoje, se discute muito pouco sobre o real embate da crítica conservadora de Monteiro Lobato.


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Laura Sandoval

Estudante da Letras - USP
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