Sacolas de mercado no braço, depois das moedas contadas. O braço fica marcado de vermelho. Depois é farmácia, porque não é toda hora que tem remédio no posto. Eu tenho reparado o quanto esse governo tem imposto sobre a gente que é mãe trabalhadora uma carga enorme enquanto nossa energia nunca, nunca se recarrega.
Camisa de uniforme da escola, branquinha, esfregada no tanque com o restinho de sabão de côco que ainda tinha pra raspar com a unha. Agora está manchada com o sangue do filho, que indo pra escola, foi metralhado. E depois, o moleque olhou fundo no meu olho e disse: Eles não viram que eu tava de uniforme ?
Eu?
Eu sou Cláudia. Sou Marielle.
Sou cravejada.
Oitenta vezes e mais.
Pelo
Capitalismo.
Eu sou aquela que morreu na mesa do aborto clandestino.
E a que foi espancada e estuprada e sangrou, vermelho no meio fio da cidade limpa.
Eu?
Sou nós, centanas de milhares que cerram punhos.
Que dizem não.
Sou América Latina, sou trabalhadora precarizada. E nunca me calo diante da opressão.
Eu sou resistência e ainda mais.
Sou
Revolução.
Poema: Deh Torres
Imagem: Allan Costa
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