A quase um mês da tentativa de golpe de Estado na Turquia, mais de um milhão de pessoas se reuniram no domingo em Istambul. A manifestação foi convocada pelo presidente turco, Tayyip Erdogan, para condenar a fracassada tentativa de golpe de Estado por um setor do exército, em que morreram ao menos 246 pessoas e mais de 2.000 ficaram feridas. Foi uma marcante demonstração de forças de unidade nacional em apoio a Erdogan em meio às críticas desde o “ocidente” sobre os “expurgos” e detenções generalizadas. a mobilização foi convocada sob o slogan “pela democracia e os mártires" caídos lutando contra os golpistas no último 15 de julho, e aconteceu no distrito de Yenikapi, ao sul de Istambul. Esta marcha marca o ápice das três semanas de manifestações noturnas dos seguidores de Erdogan, nas praças em todo o país.
Se bem a concentração estava colocada como um ato que reuniria os principais líderes políticos do país, se transformou em uma nova e exagerada reafirmação da figura de Recep Tayyip Erdogan. Inclusive chegando ao punto de compará-lo com o fundador da Turquia moderna, Mustafa Kemal Atatürk. Podia-se ler cartazes que diziam "Você é um presente de Deus, Erdogan" ou "Nos mande morrer e o faremos". É a primeira vez em décadas que importantes partidos opositores se somam a uma mobilização em apoio ao governo. Com a exceção do partido HDP (pró-curdos) que não foram convidados a participar, mas em troca organizaram suas próprias manifestações nas cidades em que são fortes sob o lema “contra os golpes, democracia imediatamente”.
Diferente da marcha de 24 de julho, Erdogan e o AKP passam a controlar completamente as mobilizações, afogando as críticas da imprensa e posicionando-se como garantidores da unidade nacional.
Em seu discurso prometeu continuar a luta contra as “organizações terroristas, sejam o (grupo armado curdo) PKK, o Daesh (Estado Islâmico) ou FETÖ”, a suposta rede estabelecida pelo clérigo turco Fethullah Gülen, exilado nos EUA. O clérigo, ex-aliado de Erdogan, é acusado de ser o cérebro do levantamento militar e quem o governo turco prometeu levar ante a Justiça. Além disso, Erdogan reiterou seu apoio à reintrodução da pena de morte. Também afirmou que continuará com a “limpeza” de seguidores de Gülen na Administração do Estado – em um expurgo que já custou o posto de mais de 60.000 funcionários.
Tensão com a União Europeia pelo acordo migratório
Desde o “ocidente” mostram a preocupação pelas políticas do governo turco depois da tentativa de golpe, que combinou com uma ofensiva em expurgos massivos sobre o exército, a justiça, funcionários públicos, escolas e universidades, além da tentativa de reintroduzir a pena de morte.
Nestes marcos, o acordo migratório da Turquia com a União Europeia [UE] poderia fracassar se o bloco não cumpre seu compromisso sobre as isenções de passaporte, disse o presidente turco Tayyip Erdogan. Em Berlim afirmam que "não há lugar na Europa para um país que aplica a pena de morte" e lembraram que as conversas com Ankara para sua incorporação ao bloco comunitário tem um "final em aberto".
Desde o golpe fracassado, Erdogan mostra uma mudança de postura com seus aliados da União Europeia acusando que “não estão comportando de uma maneira sincera com a Turquia", ressaltando que “a isenção de passaporte para os cidadãos turcos deveria ter começado a vigorar em 1 de junho”.
O governo turco, aproveitando seu lugar geográfico e estratégico, fechou acordo em março para impedir os imigrantes que cruzem para a Grécia em troca de ajuda financeira, a promessa de viagens sem passaporte a grande parte da UE e conversas aceleradas sobre a entrada no bloco econômico e político.
No entanto, o acesso recíproco sem passaporte demorou devido à “preocupação” das principais potências europeias sobre a escalada das políticas tomadas pelo governo turco depois do golpe de Estado fracassado.
Criticando a resposta de Washington e de líderes europeus à tentativa de golpe, Erdogan disse que o povo turco tinha sido abandonado pelo ocidente.
A UE, além de fazer públicas suas diferenças sobre os “expurgos” a grande escala que o Executivo turco está levando a cabo na administração depois do golpe, enfatizou várias vezes que a pena de morte é incompatível com o direito comunitário europeu.
Tradução: Francisco Marques
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