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Balanço | A greve do dia 9 contra o governo golpista no Peru e os limites da CGTP

Na última quinta-feira, dia 9, a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) convocou uma greve no marco das jornadas de mobilização que vêm sendo encabeçadas por trabalhadores, camponeses e indígenas das diferentes regiões do país. Milhares se dirigiram ao centro de Lima, onde grandes colunas de trabalhadores foram vistas marchando. Infelizmente, a greve teve pouca adesão, pois não foi organizada a partir das bases com assembleias democráticas e deliberativas.

segunda-feira 13 de fevereiro de 2023 | Edição do dia
Foto: Rodrigo Talabera / LR

Lima viveu na última quinta-feira uma nova jornada de mobilizações contra o governo golpista de Dina Boluarte, exigindo sua queda, o fechamento do parlamento - controlado principalmente pela direita profundamente racista e defensora do regime instaurado pela Constituição fujimorista de 1993 - e uma assembleia constituinte.

Vários milhares chegaram ao centro da capital peruana, vindos de regiões como Cusco, Ayacucho, Huancavelica e Ica. Outras regiões do país também estiveram presentes, mas em menor escala do que as mencionadas.

O dia se dá no contexto do chamado de greve geral convocada pela CGTP. Colunas de trabalhadores da construção civil (que é a base majoritária do sindicato), trabalhadores de plástico e papelão, e a Federação de Trabalhadores Municipais marcharam desde a praça Dos de Mayo em Lima. Também desfilaram médicos, técnicos do Hospital Infantil, telefonia, Federação Têxtil, professores e trabalhadores e trabalhadoras do comércio. Essas colunas reuniram cerca de sete mil trabalhadores.

A resposta do governo foi militarizar as áreas de Lima onde os manifestantes iriam marchar.

Em todos esses setores há força para derrotar o governo golpista de Dina Boluarte. Mas, infelizmente, a greve teve pouca adesão. Muitos aderiram à mobilização após deixarem seus expedientes Isso não foi responsabilidade dos próprios trabalhadores, mas da direção da CGTP, que não só pediu autorização ao Ministério do Trabalho desse governo ilegítimo e repressor (mais de 70 pessoas assassinadas, milhares feridas, detidas, torturadas pela Polícia e o Exército) para fazer a chamada para parar, como sua política é contra o fato de que são os próprios trabalhadores unidos em assembléias democráticas e com poder de decisão que podem realmente enfrentar o governo Boluarte.

Como disse José Rojas, militante da Corrente Socialista dos Trabalhadores do Peru , escreveu para a rede internacional Esquerda Diário: "Não será, então, com esta greve geral "seca", sem preparação nas bases e tutelada pelo executivo, que agora convoca a CGTP, que vai se garantir a queda do governo golpista de Dina Boluarte, menos ainda pôr fim ao regime podre de 1993. Precisamos promover uma greve geral política, preparada e garantida desde as bases, com assembleias nos locais de trabalho e estudo, onde também sejam eleitos delegados para promover um comité nacional de luta para assegurar a eficácia desta medida e assim impor uma greve sem subserviência ou pedido da licença do governo".

Mas como dissemos, a força para isso está presente. Um dia sem preparação, sem consultas prévias ou possibilidade de decisão, viu mais de sete mil trabalhadores que marcharam com seus sindicatos se mobilizarem contra o governo. Enquanto nas regiões interioranas continuam os bloqueios de vias e estradas, apesar da repressão, na região de Puno, na cidade de Juliaca, a Polícia voltou a reprimir milhares de manifestantes, um mês depois do massacre ocorrido naquela cidade, onde morreram 18 pessoas. Vários feridos foram relatados à tarde. Também ao final da mobilização em Lima, a Polícia voltou a reprimir os manifestantes que estavam na praça.

Apesar da dura repressão, trabalhadores, camponeses, indígenas e estudantes continuam saindo às ruas para enfrentar o governo golpista e o Congresso direitista promotor do golpe, que defende o regime de Fujimori que só trouxe privações, alta precariedade e índices alarmantes de pobreza e indigência para os trabalhadores. Como se vê nas manifestações há dois meses e hoje nas colunas organizadas de trabalhadores, há forças para derrotá-los.

Uma greve geral política pode atingir esse objetivo, impondo um governo provisório de organizações em luta, encabeçadas pela classe trabalhadora que clama por uma verdadeira assembleia constituinte livre e soberana, para poder discutir os grandes problemas que afligem o Peru profundo, aquele que há dois meses vem enfrentando o golpismo nas ruas.

Aqui no Brasil, é preciso erguer a mais forte solidariedade ao povo peruano e uma luta pelo fim das relações do novo governo Lula-Alckmin com o governo golpista de Boluarte, bem como pelo fim da exportação de munições e armamentos para reprimir as lutas da classe trabalhadora e do povo pobre deste e de outros países, colaboração com um governo ilegítimo e assassino que não recai só sobre o PT mas sobre o conjunto das forças de governo, como o PSOL. Centrais sindicais como a CUT e entidades estudantis como a UNE, atreladas ao novo governo por suas direções petistas, deveriam estar organizando assembleias desde as bases para que trabalhadores e estudantes brasileiros tomem o protagonismo político nas próprias mãos, sem submissão ao governo ou às instituições desse regime reacionário, e levantando uma grande campanha com greve geral em solidariedade à luta no Peru e pela revogação imediata de todas as reformas e privatizações de Temer e Bolsonaro, avançando para impor através da luta de classes que não haja nenhuma anistia para os articuladores militares e civis dos atos golpistas e da Ditadura Militar.




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