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REDUÇÃO JORNADA DE TRABALHO | Alemanha: o sindicato metalúrgico radicaliza as greves pela redução da jornada de trabalho

O conflito no setor metalúrgico se agudiza: acontecerão greves de advertência de 24 horas a partir de quarta-feira em 250 empresas. Esta luta poderia ser o ponto de partida para um grande movimento pela redução da jornada de trabalho.

terça-feira 30 de janeiro de 2018 | Edição do dia

No sábado de manhã ficou claro: o sindicato metalúrgico “IG Metall” ampliará massivamente as greves no setor. Nas últimas semanas 930.000 trabalhadores abandonaram o trabalho durante paralisações de algumas horas, agora o sindicato convocará greves de 24 horas a partir de quarta-feira. Até terça-feira estas medidas serão votadas em mais de 250 empresas, “em todos os ramos e de todos os setores”.

Em uma declaração à imprensa, o sindicato metalúrgico dizia: “As preparações estão sendo feitas com tudo. Os efeitos nas empresas escolhidas serão muito maiores que nas greves de advertência anteriores. Enquanto existam greves de 24 horas durante esta semana, não existirão novas negociações. No fim de semana seguinte, a patronal terá uma nova chance para chegar a um acordo com o IG Metall. Do contrário, faremos um referendo para convocar greves de tempo indeterminado.”

A escalada do conflito se fez necessária porque as negociações no estado de Baden-Würtemberg, cujas paritárias são tradicionalmente uma orientação para os acordos nas outras regiões, continuaram sem resolver-se no sábado, na quinta rodada de conversas. O sindicato informou: “A patronal ofereceu um aumento de apenas 3%, apesar do muito bom clima econômico, e também bloqueou uma proposta sobre a jornada de trabalho. [...] O ponto chave das negociações era o subsídio parcial para a redução da jornada de trabalho para trabalhadores com filhos ou parentes para cuidar.”

Greves pioneiras

As greves de advertência de massas desta semana são pioneiras por diferentes razões. Pela primeira vez o IG Metall faz greves de advertência de 24 horas como medida de força. Isso é importante porque as cúpulas sindicais se negaram a escalar o conflito nos últimos anos. Com a introdução de greves de 24 horas como medida que é decidida e se faz efetivamente diretamente a nível de empresa, a pressão se amplia massivamente. Sua repercussão econômica é muito grande, porque as cadeias de produção “just in time” no ramo metalúrgico podem ser paradas por completo inclusive se acontecem greves de somente um dia em uma empresa importante.

Além disso, as votações a nível de empresa devolverão algo do poder de decisão, que hoje se encontra concentrado na burocracia sindical, para a base do conflito trabalhista. Isso também poderia ser um ponto de partida para um desenvolvimento do conflito em uma escalada ainda mais massiva se a patronal não ceder após as greves desta semana. Na imprensa internacional, fora da Alemanha, se fala inclusive de uma “tendência à greve geral no setor metalúrgico” (The Guardian). Ainda não estamos neste nível, caso falhem novamente as negociações o sindicato ameaçou com uma greve em todo o setor, mas isso não significaria necessariamente uma greve simultânea ou por tempo indeterminado. Ainda assim, em comparação com as paritárias muito modestas dos últimos anos, um chamado à greve em todo o ramo seria um acontecimento importante que poderia alterar consideravelmente as relações de força entre as classes na Alemanha.

O outro aspecto significativo é que o conflito trabalhista no setor metalúrgico tem demandas que são uma contra tendência às políticas de precarização do trabalho que vem sendo dominantes desde a “Agenda 2010” de Gerhard Schroeder e sobretudo desde o começo da crise mundial há uma década. É que o IG Metall não está exigindo apenas um aumento salarial, mas reivindicam discutir a jornada de trabalho.

Mais tempo para viver, em vez de viver para trabalhar!

Como resposta à crescente “flexibilização” da jornada de trabalhado, sempre às custas dos trabalhadores, o sindicato exigiu nestas paritárias uma redução temporária da jornada de trabalho. Concretamente exigem que os trabalhadores, de forma voluntária e individual, possam reduzir sua jornada de trabalho para 28 horas semanais durante um período de dois anos e que depois possam voltar à jornada completa. Até o dia de hoje, no acordo existe o direito de reduzir a jornada, mas não inclui o direito de voltar à jornada de tempo completo após transcorridos os dois anos. Caso a redução seja feita com o objetivo de cuidar de uma criança ou um familiar, o sindicato exige uma compensação salarial parcial de 200 euros por mês, e no caso de uma redução por motivo de um trabalho por turno, exige 750 euros ao ano.

Esta reivindicação é altamente progressista porque abre uma discussão sobre a redução da jornada de trabalho que nas últimas décadas havia se perdido completamente no movimento operário. É uma tendência contrária à extensão onipresente da jornada de trabalho, apesar dos acordos coletivos no setor metalúrgico determinarem uma semana de trabalho de 35 a 37 horas (na Alemanha Ocidental e na Alemanha Oriental, respectivamente), a semana de trabalho tem em média mais de 43 horas na Alemanha. Inclusive no setor metalúrgico estes números estão longe de ser exceções.

Esta dimensão é portanto a que concede a este conflito o potencial de ser o mais importante no setor metalúrgico nos últimos 30 anos. Enquanto que nos últimos anos foram sobretudo os trabalhadores dos serviços precários os que haviam entrado em greve, agora o setor industrial mais importante da Alemanha começa a se mexer, o pilar central da economia exportadora do país. Se conseguirem impor estas demandas sobre a jornada de trabalho neste setor estratégico, poderia abrir-se um novo horizonte para a classe operária, após anos de lutas defensivas.

À primeira vista, o pedido de poder retomar uma jornada completa após dois anos poderia parecer uma demanda bastante limitada, mas sua grande força provém do fato de que a tendência nas últimas décadas foram jornadas de trabalho cada vez mais extensas e mais precárias. Pela primeira vez nos encontramos com uma luta decidida na direção oposta. Por outro lado, é importante a dimensão feminista da demanda trabalhista, já que são majoritariamente as mulheres que sofrem da “armadilha do tempo parcial”. Mulheres que pedem a redução da sua jornada para cuidar de filhos ou familiares e que depois de um tempo não podem voltar à jornada completa o que as coloca em uma dependência permanente de seus companheiros.

Mas estes não são os únicos motivos que fazem com que a patronal alemã esteja categoricamente contra a demanda; o que realmente enfurece a patronal é que o sindicato esteja exigindo uma compensação salarial parcial pela redução da jornada de trabalho, uma demanda que há anos era impensável na Alemanha.

Redução da jornada de trabalho para todos!

Esta greve coloca a possibilidade de abrir uma discussão ainda mais radical: a redução geral da jornada de trabalho sem redução salarial e divisão das horas de trabalho. Em vez da brecha crescente entre os “mini jobs” (que não são suficientes para viver) e trabalhos com uma jornada de trabalho extrema que leva ao estresse, burnout e problemas físicos de todo tipo, seria completamente factível a redução da jornada semanal para 30 horas para todos. A tecnologia para tornar isso possível já existe: em vez de acelerar cada vez mais o ritmo das máquinas e condenar os trabalhadores a serem escravos da automatização e da robotização, os progressos tecnológicos poderiam servir para reduzir a jornada de trabalho para todos. Esta seria uma oportunidade também para acabar com o desemprego de mais de 3 milhões de pessoas, a miséria do Hartz-IV (o seguro-desemprego para os desempregados por longa duração de nacionalidade alemã ou com residência regular na Alemanha), a precariedade dos imigrantes, e integrar essas pessoas ao mercado de trabalho.

Para tomar como exemplo a esquerda internacional, na Argentina, durante as últimas eleições, a Frente de Esquerda e dos trabalhadores (FIT) fez uma grande campanha de agitação durante as eleições com esta demanda chave: trabalhar 6 horas por dia, 5 dias na semana. Mais de um milhão de trabalhadores votaram por estas propostas. Por que não pode ser possível desenvolver na Alemanha uma campanha massiva no mesmo sentido? Deste modo, os trabalhadores e as trabalhadoras poderiam começar a pensar em outro futuro.




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