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Eleições na França | Anasse Kazib: não nos enganemos, a extrema direita não irá sumir após as eleições

Compartilhamos o texto do ferroviário Anasse Kazib diante das manifestações em apoio ao reacionário Éric Zemmour, candidato presidencial de extrema direita na França. Nos últimos meses, Anasse mobilizou uma potente pré-campanha na França com um programa socialista e revolucionário, ao lado de um grande arco de organizações e ativistas sindicais, antirracistas, de gênero e sexualidade, de juventude e do movimento ambientalista.

terça-feira 29 de março de 2022 | Edição do dia

Anasse Kazib é ferroviário da RATP em Paris e dirigente do Revolution Permanente, organização irmã do MRT brasileiro e que impulsiona a rede Esquerda Diário na França.

Vejo pouca preocupação após a reunião de Zemmour de domingo. Essas imagens devem alertar a nós, antirracistas, não importa o resultado da eleição. Devemos levar a sério o que está acontecendo: que dezenas de milhares de pessoas estejam reunidas para apoiar um candidato cujo racismo, islamofobia, xenofobia, homofobia etc… são conhecidos por todos. Um homem que reivindica a superioridade do homem sobre a mulher, que esteja ocorrendo uma “grande substituição” [da população europeia por imigrantes] e tantas outras baboseiras.

Não nos enganemos, essas pessoas não vão desaparecer, não é uma história eleitoral. Zemmour está caindo nas pesquisas, mas não porque a esquerda está derrubando-o, e sim simplesmente porque o voto útil beneficia Le Pen. Eles acumulam 30% das intenções de voto. Isso é inédito. Em uma nota com mais de 250 assinaturas há mais de 6 meses, denunciamos esta campanha presidencial de ideias racistas, especialmente no caso de corrermos o risco de estarmos ausentes.

Vendo o que está acontecendo, entendo com ainda mais profundidade por que a extrema direita lutou contra minha candidatura. Não era apenas racismo “comum”, mas uma expressão de um medo político de que pudéssemos ter os 500 patrocínios [necessários para oficializar uma candidatura na França]. Tínhamos feito um discurso de hegemonia operária, colocando no centro a força do proletariado combinado com todos os explorados e oprimidos, para lutar contra o estado capitalista e todas as opressões.

Evento da campanha de Anasse Kazib

Uma esquerda de luta enfrentando o poder em 2022. Um projeto político positivo, que não tergiversa quanto ao capitalismo, o clima, o racismo ou mesmo o patriarcado. Uma campanha capaz de relatar com orgulho a luta dos coletes amarelos, das aposentadorias, dos bairros populares ou mesmo do povo argelino ou palestino. Uma campanha em que pudemos homenagear ao final das reuniões as vítimas da violência policial nos bairros populares e dar a palavra às famílias e ativistas antirracistas.

Uma campanha com a cara dos bairros populares, da classe trabalhadora e da juventude, isso é inédito na história. Fizemos isso e foi para impedir nossas vozes e as bandeiras que levantamos que eles lutaram muito. Queríamos dar esperança às pessoas que perderam a esperança. Não devemos esconder de nós mesmos o que presenciamos: em meio aos bancos, a mídia, as ameaças aos nossos prefeitos apoiadores e as pressões permanentes da extrema direita, ninguém pode viver. Com esses que nos atacam com cartazes escritos “0% franceses, 100% islamistas”, campanhas racistas no Twitter etc…

Ato de solidariedade com a campanha de Anasse, diante das ameaças da extrema direita ao seu evento de debate na Sorbonne

Infelizmente, a nova geração resultante das últimas grandes lutas e a luta contra a extrema direita são os principais ausentes deste final de campanha. Continuaremos construindo este bloco de resistência para lutar neste período e enfrentar nossos inimigos. Diante da extrema direita e da burguesia como um todo, precisamos mais do que pequenas reuniões de denúncia ou programas reformistas, precisamos de um projeto real capaz de unificar nosso campo e fazê-lo passar à ação.

É o que a burguesia mais teme, são os momentos da história em que a luta de classes consiga superar as divisões internas entre os oprimidos, superar os preconceitos racistas e todas as outras formas de preconceito, para construir uma força unida contra o Estado e os capitalistas e conquistar hegemonia sobre os setores aliados. Esses momentos, que ocorreram em várias ocasiões na história, são o que o revolucionário negro C.L.R. James chamou de “momentos em que o relâmpago anuncia o trovão”.




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