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Rio de Janeiro | Bolsonarismo se fortalece no Rio e projeto burguês de Freixo está arruinado. Como enfrentar a extrema direita?

O bolsonarista Claudio Castro se elege com 58% dos votos e o bolsonarismo vai pra rua defender o golpismo na cidade enquanto naufraga a Frente Ampla de Freixo que não serviu nem mesmo para as eleições. Diante da mazela social naturalizada do Estado do Rio, o que a esquerda precisa fazer para superar essa experiência fracassada?

terça-feira 8 de novembro de 2022 | Edição do dia

Imagem: Igor Mello/ Twitter

A extrema direita se fortaleceu em um estado marcado pelo desemprego, a fome e as mais de 40 chacinas. Essa realidade sufocada dos cariocas é sedimentada todos os dias pelos programas policiais, as instituições de estado, o fundamentalismo religioso de pastores milionários que comandam igrejas evangélicas, a polícia, a milícia e o tráfico. Depois de 4 anos de Bolsonaro, Claudio Castro se elegeu no 1º turno com 58% dos votos, tendo vencido em 91 das 92 cidades do Rio. Se dependesse do Rio, Bolsonaro teria ganho no 1º turno com 51,09% dos votos e depois venceria no 2º turno com 56,5% dos votos. Se nem todos esses votos são “ideológicos” da extrema direita como se viu na campanha bastante demagógica de Castro querendo se mostrar como “gestor linha dura que dialoga com todos” (quando na verdade aposta na repressão de estado para afirmar um projeto neo-liberal), o peso da extrema direita no estado se provou com a manifestação golpista que reuniu milhares de bolsonaristas em frente a Estátua de Caxias. A milícia também se fortaleceu nessas eleições como colocou Carolina Cacau em tweet:

Essa situação não surgiu como um raio em céu azul. Em 2016, ano em que Marcelo Freixo já apostava na responsabilidade fiscal querendo pactuar os interesses dos setores oprimidos com as demandas do capital financeiro, ligou um alerta à toda esquerda com a derrota para Crivella, como um sinal do fortalecimento do enraizamento e poder de influência do fundamentalismo religioso e das milícias. A interpretação dele foi a oposta a enfrentar a realidade de frente, no sentido de transformar radicalmente as bases materiais onde atuam as igrejas e as milícias. Se mesmo com essa posição conciliatória não venceu, depois da derrota escolheu o caminho de se adaptar a uma consciência conservadora, ao invés de convencer a população das pautas da esquerda. Com um cálculo absurdo de ser bem visto por quem o rejeitou, se aliou a velhos inimigos e reabilitou uma direita carcomida no estado. Com isso, não fez mais do que insuflar o conservadorismo ao longo dos últimos 6 anos.

Essa conclusão ganhou corpo com a defesa de uma polícia mais humana e investimento para a polícia na campanha do PSOL em 2018, um vice policial na chapa de Renata Souza em 2020, a saída de Freixo do Psol em 2021 e em 2022 foi desaguou em Cesar Maia em uma campanha, pode-se dizer, já não tinha mais nada de esquerda. O resultado disso não se viu nem mesmo nas eleições. Quem confiava nele perdeu qualquer ativismo em torno de sua candidatura e quem é de direita não votou.

Freixo para governador teve 1,2 milhões de votos, com apenas 100 mil a mais do que teve para prefeito (!) em 2016. A fraca votação teve sentido oposto de seu amplo arco de alianças, que não lhe garantiu nem um mísero voto a mais. Por combinar forças opostas, não saiu do lugar, permitindo o avanço do bolsonarista Castro.

Em cada uma dessas eleições, a esquerda saiu derrotada, não só eleitoralmente, mas abandonando seu próprio programa, até o ponto de perder a própria identidade. O maior símbolo disso foi o PSOL não lançar candidatura própria e o abandono de Freixo do direito ao aborto e a legalização das drogas, pautas históricas dos setores mais precários oprimidos pelo patriarcado e a violência policial. E se em cada batalha fundamental, como a greve da CEDAE, se tratava de ganhar as próximas eleições, as lutas que poderiam mudar toda a situação também foram deixadas de lado por Freixo e o Psol e que agora chegou ao cúmulo de defender em entrevista à televisão que concordava agora com a privatização da empresa.

Um processo de adaptação das pautas da esquerda à consciência média reacionária moldada por múltiplas determinações de um estado em degradação social. A lição precisa ser aprendida: a conciliação e o mal menor levam a abrir mão de posições e consequentemente ao fortalecimento da extrema-direita, é necessário o oposto, uma esquerda revolucionária para enfrentar a extrema direita e todas as mazelas sociais capitalistas.

Precisamos de uma esquerda que não aceite que onde existe os maiores campos de extração de Petróleo do país existam pessoas desempregadas, não se conforme com apartamentos vazios, aluguéis estratosféricos enquanto a maioria dos trabalhadores mora em barracos sem saneamento, que os transportes estejam na mão de máfias, enquanto a passagem só aumenta e somos encaixotados como sardinhas, não aceite o extermínio racista da polícia. Freixo aceitou a tudo isso com um amplíssimo arco de alianças e, mesmo se tivesse sido eleito, os patrões não aceitariam nenhuma mudança real nessa máquina de moer gente, pois estão interessados em manter cada uma das opressões operando para garantir seus lucros.

Não podemos aceitar que nossa conclusão seja girar ainda mais à direita como Freixo proporá para, enfim, se eleger daqui a dois anos e nem que nossa saída deve ser apostar no arco de alianças da chapa presidencial Lula-Alckmin.

Precisamos batalhar para construir uma força social para enfrentar a extrema direita. A esquerda precisa munir o ódio entalado dessa massa de milhões de trabalhadores de um programa para os 37 bilionários cariocas pagarem por essa crise. Sem isso, esse ódio se espraia em muita revolta, como se vê diariamente na Supervia, mas não se volta contra os patrões, verdadeiros causadores da precarização da vida daqueles que constroem toda a riqueza sem ganhar nada em troca.

PT, a CUT e o PSOL, que agora faz parte da transição ao governo, preferiram alentar a confiança nas instituições do que enfrentar os bloqueios bolsonaristas. A tarefa número 1 da esquerda é preservar sua própria independência para lutar contra as reformas e a extrema direita. A campanha de Carolina Cacau foi um exemplo nesse sentido na batalha por construir uma esquerda para enfrentar a extrema direita que não deposita confiança na aliança com a direita como fez Freixo com Cesar Maia e Lula com Alckmin. Uma campanha militante pela taxação das grandes fortunas, o não pagamento da dívida pública, a estatização da Petrobras, dos transportes e da CEDAE sob controle dos trabalhadores, o fim dos batalhões especiais, a legalização das drogas e uma reforma urbana radical na batalha incessante por um estado, um país e um mundo socialista governado através da auto-organização da classe que constrói o mundo rumo a uma sociedade livre de opressão e exploração.




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