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Pão e Rosas | Carta à Ivana, mãe de Moïse: estaremos juntas na luta por justiça

Nos unimos ao seu grito de justiça e acreditamos que em cada local de trabalho e de estudo esse grito deve ecoar com toda força.

Pão e Rosas@Pao_e_Rosas

quarta-feira 2 de fevereiro de 2022 | Edição do dia

Ivana,

As suas comoventes palavras pedindo por justiça a seu filho Moïse Kabagambe, nos encheram de tristeza, mas também de ódio. Ódio contra o patrão racista e xenófobo, ódio por esse sistema miserável que todos os dias mata jovens negros como Moïse. Nós, do grupo internacional de mulheres Pão e Rosas, atendemos aos seus apelos para que a morte de seu filho não seja esquecida, nos irmanamos com você e com todas as mães que batalham dia a dia, fugindo da guerra ou da pobreza, por um futuro pelos seus filhos, pelos filhos da nossa classe, que são arrancados da vida à força, que tem seu futuro roubado por causa de duzentos reais, ou por causa de uma bala perdida que sempre acha um dos nossos, ou por uma confusão entre o que parecia um fuzil, mas era um guarda chuva na mão de um trabalhador.

Só podemos imaginar o quão dilacerante é a sua dor, que se soma a de tantas mães que têm a vida de seus jovens filhos arrancadas pelo racismo. Essa tragédia absurda, que se torna cada vez mais frequente, não pode ser esquecida, não pode passar sem a nossa revolta. O Brasil que para muitos é um país acolhedor e hospitaleiro, de um povo sofrido mas que luta para ser feliz, tem uma outra faceta, construída sob o sangue de negras e negros, sob um racismo estrutural que faz com que a vida de um jovem trabalhador de 24 anos seja facilmente descartada.

O Brasil é um país forjado pelo sangue negro e indígena e que também foi construído por imigrantes de vários cantos do mundo. Mas trata de forma diferente as cores que tingem a nossa pele, tem medo dos irmãos latinos ou africanos vítimas do mesmo imperialismo predatório ao qual Bolsonaro tantas vezes se curvou. Um país construído por imigrantes, mas que manda suas tropas militares para países como o Congo, como aconteceu ainda em 2013, reprimindo seu povo em nome de supostas missões de "paz".

Esse racismo e xenofobia, que se apoia nos discursos abjetos do presidente e seus apoiadores, reserva para as trabalhadoras e seus filhos a brutalidade. Mães como as de Jacarezinho, que tiveram que retirar da lama os corpos de seus filhos alvejados pela polícia, mães como Mirtes Renata, que teve seu filho Miguel de 9 anos morto pela negligência de sua patroa que não pode nem por um minuto cuidar do filho da empregada, e agora, mães como você, que vê a brutalidade desse sistema arrancando a vida de seu filho, um rapaz, como nas suas palavras, honesto, trabalhador.

“Não podem matar as pessoas assim", você diz. Não podem, Ivana. Não podem dar fim a uma vida de um jovem de 24 anos apenas. Um jovem honesto, trabalhador. Um filho, um amigo, um irmão. Alguém com a vida toda pela frente. Elza Soares cantava que a carne mais barata do mercado é a carne negra. Por duzentos reais tiraram a vida de Moïse. No capitalismo nossas vidas valem menos que duzentos reais, menos que vinte minutos de espera pela empregada, vale 80 tiros num carro com uma família inteira só porque pareceu para os olhos racistas do estado "suspeito".

Nos unimos ao seu grito de justiça e acreditamos que em cada local de trabalho e de estudo esse grito deve ecoar com toda força. Que seu grito de dor possa ser escutado pelo país e que encontre eco na luta da juventude contra a precarização da vida, na luta dos trabalhadores contra todos os ataques, na luta das mulheres contra a violência de gênero, na luta de todos os explorados e oprimidos para impor justiça aos nossos filhos, aos nossos mortos e dar fim a essa roda que a cada giro volta a roubar os sonhos, o sangue e o suor dos filhos da nossa classe. Que o grito da sua dor possa se somar ao grito de todas as mães trabalhadoras e ser o combustível para incendiar a luta contra esse sistema racista deplorável. Para que possamos construir um mundo novo onde 24 anos seja apenas o começo de uma vida repleta de sentido e não seu fim.

Nós do Pão e Rosas colocaremos todas as nossas forças para que Moïse e todos os filhos que foram tirados violentamente de suas mães seja vingados! Contra o racismo, a xenofobia e o capitalismo lutaremos por justiça para Moïse!




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