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Educação | Carta aberta à toda comunidade escolar da E.E Guiomar da Rocha Rinaldi

Esquerda Diário reproduz aqui uma carta aberta, enviada à nossa redação, para publicação à toda comunidade da E.E Guiomar da Rocha Rinaldi, da qual depois de sua transformação para escola PEI, situações de assédio por parte da direção de uma integrante da burocracia da APEOESP contra educadores tem sido denunciadas

quarta-feira 23 de março de 2022 | Edição do dia

Uma comunidade escolar é um aglomerado de cicatrizes, dores, realizações, amores, saberes, é a encruzilhada onde as intersecções que configuram as histórias de pais, alunos e servidores se encontram e a E.E Guiomar da Rocha Rinaldi não é diferente, somos um processo em curso apesar das políticas excludentes da “tucanalha” desde a posse em 1995 do finado Mário Covas, somos uma ferramenta em construção assim como toda escola periférica brasileira, mas com uma particularidade, somos uma escola do Programa de Ensino Integral instalada na periferia, o patinho feio do programa na região.

Essa introdução se faz necessária na medida em que, apenas por ser PEI, uma unidade escolar já é restritiva em um contexto de VINTE E SETE ANOS de dilapidação da rede isso se acentua, são ataques que passam ao longo deste período pelo desinvestimento em sua estrutura, desvalorização dos salários dos servidores que já perderam de vista o último aumento de salário real que obtiveram, a retirada de direitos (mesmo que travestida de um novo plano de carreira) extinção do período noturno de inúmeras escolas, confisco salarial de servidores aposentados, etc. e por isso não somos ,nesse sentido, um ponto fora da curva.

Na realidade a GUIOMAR é objetivamente um expoente dessa realidade, trata-se de uma escola que luta diuturnamente para sobreviver e o faz mesmo em condições tão adversas graças a conjugação de esforços desta comunidade e seus múltiplos atores, somos uma escola que aos poucos perde seus melhores discentes dada a impossibilidade de permanência destes em função da impossibilidade de empregar-se ou minimamente procurar emprego, somos uma escola que busca se reinventar com recursos que são nas melhores perspectivas o “mínimo do mínimo”.

São tantas escolas assim, são tantas as escolas que já nem podemos alegar sermos a primeira ou a única PEI na periferia, e sendo desta maneira por qual motivo tanto reclamam e a maioria das outras, nestas mesmas condições, não?
A transição da E.E Guiomar da Rocha Rinaldi de uma escola regular para uma escola de tempo integral ocorre na virada de 2020 para 2021, não é novidade para ninguém que João Dória, atual governador do estado e pré-candidato à presidência, e Rossieli Soares, secretário da educação que cumpre agenda de candidato, se aproveitaram da desmobilização e fragilidade da população em meio a pandemia para fazer avançar este nefasto programa, é assim que o programa se implanta por estas bandas e para a sua condução é indicada a professora Elza Yuri Kobayashi que além do posto de diretora da unidade acumula a função de conselheira eleita da APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) uma instituição que tem posição contrária ao programa como pode ser visto ,por exemplo, no artigo “Por que as escolas estaduais de SP resistem à educação integral?” de Ana Luiza Basílio publicado originalmente pela Carta Capital em 15/10/2019 e reproduzida no site da instituição, neste artigo com base nas pesquisas de Eduardo Donizetti Girotto, da Universidade de São Paulo, e Fernando Cássio, da Universidade Federal do ABC Ana diz:

“Ao avaliarem a localização das escolas PEI, os pesquisadores concluíram que a maior parte delas estava localizada na área do centro expandido da cidade de São Paulo, áreas de urbanização consolidada, com maior disponibilidade de bens, serviços e equipamentos públicos e privados. Ou seja, regiões de baixa vulnerabilidade social. Esse é um fator que gera desigualdade, avalia Cássio. "Existe uma grande variação de nível socioeconômico dentro da rede pública. É ingênua essa coisa de que na escola pública só estuda gente muito pobre. Há uma elite econômica na rede e ela está nas escolas integrais", afirma. Os pesquisadores afirmam que a distribuição espacial das unidades minimizam as possibilidades do ensino integral como política pública capaz de ampliar o direito à educação.”

Esse elemento de contradição por si só já renderia um profundo estudo, pensamos que a natureza do papel da direção escolar em especial em uma unidade deste tipo já suscitaria o questionamento quanto ao conflito de interesses, mas este caso vai além, nossa personagem atualmente responde processos administrativo, criminal e no conselho de ética da entidade sindical que representa por assédio psicológico e moral. Pesam sobre a dirigente o cerceamento de fala, a interpelação de servidores aos gritos, a omissão de informações em relação aos seus servidores, ela também é acusada de adulterar informações quanto a avaliação 360º um instrumental que é absolutamente subjetivo e que objetivamente prejudica a manutenção dos profissionais no programa e com isso atinge sua qualidade de vida.

Uma segunda personagem bastante controversa é a supervisora da escola, Luzimartha orbita em todas as denúncias de coação, intimidação e quanto a fraude da avaliação de 360º. Outrora a referida supervisora chegou a ser diretora da escola e ao retornar, agora com lotação na diretoria de ensino, consta afirmativa de que “não queria estar ali e odeia a escola” não por acaso o seu afastamento teria sido consequência de processos administrativos durante sua gestão.

Queremos explicações! Exigimos um posicionamento claro da SEDUC, da diretoria de ensino Centro-oeste e da própria unidade escolar quanto a este comportamento que encontra desdobramentos em 2022 com a punição de profissionais aderentes a estes processos através de desligamentos irregulares, pressão sistemática pela solicitação de desligamento do programa “a pedido”, interfere nas relações interpessoais e no ambiente escolar e para além disso adoece pessoas que gradativamente pioram seu quadro de doenças psiquiátricas e em alguns casos até adquirem. Queremos entender até que ponto o corpo diretivo da escola coaduna com tais práticas ou se também são coagidos a estes posicionamentos. Preocupa-nos sobremaneira a manutenção das práticas persecutórias que nos imprimem diariamente por legitimamente procurarmos garantir a livre manifestação de opiniões e por exigir tratamento isonômico e dentro dos parâmetros do edital que nos trouxe até aqui.

Reclamamos porque somos um caso Sui generis, uma escola com todas as mazelas e consequências das demais escolas inseridas no modelo PEI mas com uma parcela importante de seu quadro de servidores disposta ao enfrentamento dada a necessidade de sobrevivermos ao programa ao mesmo tempo que enfrentamos a regional sudoeste da APEOESP.

Retornamos neste ponto ao início, temos aqui angustias, mazelas, dores, apreensões, ao ler este texto pode até parecer que estamos falando de política, legislação e burocracia, não é verdade, estamos falando de pessoas.

Com a palavra, Elza Yuri Kobayashi.

São Paulo, 10 de março de 2022.




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