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Eleições 2022 | Carta aos Evangélicos: compromisso com o conservadorismo com a proibição do aborto e das drogas

Disputando a base evangélica, Lula divulgou sua carta de compromissos em que assume a defesa intransigente de valores conservadores de parte desse eleitorado, contrariando o princípio da separação da Igreja e do Estado

quarta-feira 19 de outubro de 2022 | Edição do dia

Assim como Dilma Rousseff já havia feito na disputa presidencial, ao lançar a “Carta ao Povo de Deus”, Lula no dia de hoje (19/10) lançou uma carta de compromissos ao setor evangélico. Um movimento aguardado, que já expressava nas crescentes declarações contra o direito das mulheres ao seu corpo, pela legalização ao aborto.

No encontro junto a lideranças evangélicas, estiveram presentes a deputada eleita Marina Silva (Rede-SP), notoriamente contrária a pauta do aborto, a deputada reeleita Benedita da Silva (PT-RJ) e a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), membra da Assembleia de Deus de Silas Malafaia.

Desmentindo as fake news de que em seu governo igrejas seriam fechadas ou pastores perseguidos, Lula se apoiou no amplo crescimento das igrejas durante suas administrações. De fato, instituições como a Igreja Universal, de Edir Macedo, a Assembleia de Deus, de Silas Malafaia, tiveram caminho livre para ampliar não só sua influência social, mas para também aumentar sua ingerência na política, através de partidos fachada como PRTB, vinculado a Universal, ou o PSC, que tinha Marco Feliciano como uma das principais figuras e apoiou a candidatura de Dilma Rousseff. Durante o período, não só as igrejas cresceram como a reacionária bancada da bíblia ampliou grandemente suas cadeiras no Congresso.

Além disso, o documento assume compromissos diretos com pautas conservadoras. Em primeiro lugar com a manutenção reacionária da criminalização do aborto, com Lula reafirmando sua posição contrária, o que já havia feito no dia anterior, durante entrevista para o podcast Flow, ignorando conscientemente as milhares de mortes de mulheres por aborto clandestino, sobretudo às mortes de mulheres trabalhadoras, pobres e de mulheres negras, que representam 3 entre 4 mortes.

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Bem como, usando toda a retórica da defesa da família, o texto da carta assume o compromisso da repressão às drogas. Um endosso ao discurso de guerra às drogas, que no Brasil é um componente chave da repressão violenta das periferias e do genocídio da população negra. Na carta também há menções ao papel da assistência social das Igrejas, sem mencionar o financiamento público às “comunidades terapêuticas", instituições privadas muitas vezes ligadas às igrejas evangélicas, destinadas a "combater o uso de drogas”, mas repetindo métodos de manicômios, com inúmeras denúncias de tortura, inclusive contra LGBTQIAP+. Esse financiamento público, condenado por organizações da luta antimanicomial, começou no governo de Dilma Rousseff em 2011.

Outra questão mencionada é a liberdade religiosa e a defesa da separação da Igreja e do Estado. Isso na prática é uma grande contradição. Em nome da governabilidade capitalista, o PT fortaleceu as cúpulas das Igrejas evangélicas e seu enriquecimento bilionário, votando a favor da isenção bilionária de impostos, programaticamente rifando as bandeiras mais elementares do movimento feminista, LGBTQIAP+, negro etc. Isso apenas deu mais vazão para o crescimento do conservadorismo religioso, na qual Bolsonaro hoje surfa. Um país com uma numerosa bancada evangélica não pode ser considerado plenamente laico, inclusive porque na prática quem permanece sofrendo, inclusive com políticas de Estado, com a perseguição policial e racista são as religiões de matriz africana, islâmica etc.

Por isso, para derrotar a extrema-direita bolsonarista não podemos abaixar nossas bandeiras. Não é junto do capital financeiro, com o Opus Dei Alckmin, que iremos combater o reacionarismo, as fake news bizarras dessa extrema-direita misógina, LGBTfóbica e racista. A governabilidade capitalista apenas abre espaço para essa corja reacionária e quem sai perdendo é a classe trabalhadora e os oprimidos. Precisamos defender a completa separação da Igreja e do Estado; o aborto legal, seguro e grstuito garantido por um SUS 100% estatal; a legalização de todas as drogas; o fim das isenções de impostos às Igrejas, bem como a defesa da liberdade de crença e o fim das perseguições às religiões de matriz africana.

A classe trabalhadora brasileira não é naturalmente conservadora, é papel de suas direções combater as opressões machistas, LGBTfóbicas, racistas etc, pois esse é um embate necessário pela unidade das fileiras operárias e para que os capitalistas paguem pela crise. Por isso, é crucial exigir em cada local de trabalho e estudo que as burocracias sindicais e estudantis, como a CUT, CTB e UNE, dirigidas pelo PT e PCdoB, rompam sua paralisia que só beneficiam sua política de alianças com a direita e as cúpulas evangélicas, e organizem um verdadeiro plano de luta junto dos movimentos sociais. Confiemos apenas nas nossas forças!




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