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Chamado aos militantes do PSOL: para combater a extrema direita e as reformas, precisamos de independência do governo de frente ampla

Neste mês, ganhou peso o debate sobre a posição do PSOL em relação ao governo Lula/Alckmin. Diferente do que dizem os defensores da adesão ao governo, essa política não é uma condição para combater o bolsonarismo - pelo contrário, a conciliação de classes só fortaleceu a extrema direita. Por isso, fazemos aqui um chamado aos militantes e eleitores do PSOL: precisamos de uma esquerda independente do governo de frente ampla e de suas alianças com a direita, para combater o bolsonarismo e as reformas.

terça-feira 13 de dezembro de 2022 | Edição do dia

A ideia de que frente ao bolsonarismo seria uma necessidade, para combater a ameaça da extrema-direita, aderir ao governo Lula/Alckmin com setores da direita é uma armadilha justamente para todos que querem de fato derrotar a extrema direita e, de modo mais geral, defender as necessidades da classe trabalhadora, das mulheres, negres, indígenas, LGBTQIA+, da juventude e de todos os setores oprimidos. Ainda pior é a chantagem de que não apoiar o governo seria se juntar à oposição bolsonarista. E são esses os argumentos que mais vimos na imprensa nos últimos dias por parte dos representantes da direção majoritária do PSOL, como Boulos e Juliano Medeiros, que são parte do governo de transição e defendem a entrada no governo assumindo, inclusive, ministérios.

Essa é uma armadilha porque foi essa mesma política de conciliação de classes e alianças com a direita que fortaleceu os setores que mais deram sustentação ao bolsonarismo. Agora, que a extrema direita saiu das eleições com peso no congresso, nos governos estaduais, e com sua base radicalizada nas ruas, precisamos realmente derrotar essas forças reacionárias. Precisamos enfrentá-las com a mobilização independente da nossa classe, das mulheres, negres, de todos os oprimidos, que é o único caminho para isso. A experiência dos governos do PT já mostrou que a conciliação com a direita não vai enfraquecer a extrema direita: a bancada evangélica, o agronegócio e o centrão foram base dos governos do PT e foi com essa aliança que ganharam a força que tiveram para bancar Bolsonaro. Também os militares, por exemplo Augusto Heleno, que ganhou peso comandando a brutal ocupação militar do Haiti, chefiada pelo Brasil, por decisão de Lula. O mesmo vale para a conciliação com “o mercado” - os grandes capitalistas. Foi a serviço dessa política que vieram os ajustes de 2015 contra os trabalhadores, que abriram caminho para a direita capitalizar o descontentamento com o governo Dilma.

E depois de tudo isso, o governo Lula/Alckmin repete e aprofunda essa política. É por isso que anunciou desde a campanha que não irá revogar as reformas trabalhista e previdenciária feitas por Temer e Bolsonaro. Por isso, já declarou apoio à reeleição de Arthur Lira na Câmara, o mesmo que articulou todos os ataques de Bolsonaro no congresso e blindou seu governo. Por isso, colocou banqueiros e os autores da reforma do ensino médio de Temer para comandar a Educação na transição, e anunciou justamente como Ministro da Defesa José Múcio, aliado de Bolsonaro por quem ele diz ser “apaixonado”.

Não se pode esquecer que a ala Democrata do imperialismo norte-americano, que esteve por trás da Lava-Jato e do golpe de 2016, agora encabeçada pelo presidente Joe Biden em disputa com Trump, sustentou a campanha da chapa Lula-Alckmin, e aposta no governo eleito como principal porta-voz na América Latina. Biden e o imperialismo norte-americano atuaram na eleição brasileira sendo parte do apoio ao bonapartismo judiciário, que teve à cabeça Alexandre de Moraes, elogiado pelo The New York Times. A aproximação de Lula com Biden já se consolida em muitos aspectos, incluindo o apoio de Lula ao golpe parlamentar sustentado pelos EUA que derrubou Pedro Castillo da presidência do Peru - depois que Castillo tentou fechar o Congresso com uma medida bonapartista.

A política de conciliação de classes só poderá acabar fortalecendo a direita e é um grave erro apoiá-la. Mas, além disso, é preciso fortalecer uma posição verdadeiramente com independência de classe. A outra ala na disputa interna do PSOL veio sendo vocalizada pelo MES, em particular pela líder da bancada, Sâmia Bomfim. No entanto, a própria resolução apresentada por essa corrente ao Diretório Nacional do PSOL - que decidirá sobre o tema no dia 17 de dezembro, sem que a base da militância do partido possa votar de nenhuma forma - já prevê que, mesmo se aprovada a decisão de não assumir cargos e ministérios no governo, haveria “filiados” que descumpririam isso. O MES busca aparecer com uma posição independente, mas sabendo que as figuras do PSOL que puderem não deixarão de assumir ministérios. E atuam defendendo a “unidade do partido”, seguindo como parte do PSOL e sob sua política - que já veio sendo integrar a transição do governo sob a batuta de Alckmin, e sabem que será integrar o governo. Nem falar de Marina Silva da REDE, cotada para o Meio Ambiente, com a qual o PSOL se fundiu numa federação da qual o MES foi um dos principais defensores (sob o pretexto de que isso seria indispensável para manter o financiamento estatal do partido - e até isso se provou falso, pois o PSOL teve sozinho os votos para passar a cláusula de barreira, e a federação serviu para “salvar” só a REDE). Essas posições trouxeram o PSOL até aqui, e foi frente a elas e outras, como a diluição na chapa Lula/Alckmin e a administração da prefeitura de Belém se enfrentando com os trabalhadores, que já há vários meses publicamos um chamado aos militantes do PSOL a romper com o partido e essa política.

Hoje, frente a essa discussão e ao momento em que o PSOL se prepara para dar mais um passo em sua integração ao regime e ao governo de conciliação de classe, retomamos essas discussões e reforçamos esse chamado a todas e todos militantes e votantes do PSOL, a não seguir o partido neste caminho. A fortalecermos uma posição de independência política frente ao governo de frente ampla e de independência de classe e enfrentamento aos capitalistas, em todas as suas alas, como única maneira de enfrentar seriamente o bolsonarismo. A construir a mobilização independente, da nossa classe e de todos os oprimidos, pois esse é o único caminho para não somente derrotar a extrema direita, como revogar as reformas, barrar novos ataques, e defender contra todos os setores da direita um programa que responda à crise atual e atenda as necessidades mais sentidas dos trabalhadores, das mulheres, negres, da juventude e do povo pobre. E como é nesse caminho que podemos fortalecer a luta contra toda a exploração e opressão, chamamos todos que aspiram por verdadeiramente lutar pelo socialismo a seguir batalhando por esse objetivo, do qual o PSOL não só se afasta, mas adota uma política em sentido oposto, de apoio à preservação do regime atual. Não é possível construir uma posição de independência de classe dentro do PSOL e dentro do governo de frente ampla, assim chamamos a romper e buscarmos construir na experiência comum na luta de classes um polo de independência de classe.




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