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USP | Chapa USP Viva vence a eleição para reitoria: continuidade ou continuísmo?

A eleição para reitor da USP ocorreu ontem, dia 25 de novembro. A Chapa formada por Carlos Gilberto Carlotti Junior e Maria Arminda do Nascimento Arruda foi vencedora com 1156 votos. A segunda chapa, Somos todos USP, obteve 795 votos. A lista com a colocação de cada chapa seguirá para a escolha do governador João Doria. Tradicionalmente o governador indica o mais votado de uma lista tríplice, embora em dois momentos isso não tenha ocorrido, uma vez durante a ditadura militar e outra sob o governo do tucano José Serra.

sexta-feira 26 de novembro de 2021 | Edição do dia

O universo de votantes nesta eleição é de apenas 2121 pessoas, ou seja, um colégio eleitoral extremamente restrito. A comunidade USP é formada por mais de 100 mil pessoas, entre estudantes, funcionários e docentes, além de alguns milhares de trabalhadores terceirizados. Além disso, a composição do colégio eleitoral é totalmente desproporcional ao peso de cada categoria, de quase 80 mil estudantes, apenas 210 estão habilitados a votar, 0,25% da categoria. Entre funcionários, 0,65% têm direito ao voto. Já entre os docentes, de um universo de mais de 5.200, 1.799 votam, ou seja, um terço da categoria. Entidades patronais externas à USP como a FIESP e a FeComércio, entre outras, tem direito a 26 votos.

Além da estrutura de poder engessada e absolutamente antidemocrática da universidade, a USP também caminha para aprofundar as relações com empresas privadas, se inserindo cada vez mais na lógica privatista. Os fundos patrimoniais (endowments), a criação de uma faculdade privada do BTG pactual na USP, avanços na terceirização combinado com o sucateamento do hospital universitário, desvinculação e desmonte do HRAC foram algumas das iniciativas levadas a cabo pelas últimas gestões que se inserem no conjunto dos ataques a educação e a universidade levados a cabo por décadas de governos psdbistas. Ambas as chapas já se mostraram em consonância com esse projeto, tendo sido parte fundamental das últimas gestões. Em seu programa, a USP Viva reafirma seu compromisso com os parâmetros de sustentabilidade da USP, um conjunto de ataques a estudantes, funcionários e docentes, aprovado sob intenso protesto que foi duramente reprimido.

Carlotti foi o homem de Marco Antonio Zago, reitor entre os anos de 2014 a 2018, no processo de sucateamento do HU e de desvinculação do HRAC. Ambos médicos oriundos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Carlotti representou a reitoria nos processos movidos pelos trabalhadores no ministério público contra os ataques aos hospitais e centros de saúde da USP. A atual gestão de Vahan tem tido sucessivas iniciativas de ataques, tentou já estabelecer parcerias com convênios privados, fechou o atendimento dos prontos-socorros infantil e adulto, contratou médicos em regime precário de trabalho e diminuiu o quadro de trabalhadoras terceirizadas da higienização e limpeza no auge da pandemia. Caberá ao novo reitor indicar um novo superintendente para a saúde e para a gestão do hospital. O atual, Paulo Ramos Margarido, tem tido uma política extremamente autoritária, perseguindo trabalhadoras que lutaram por EPIs durante a pandemia.

Além de Carlotti, sua vice, Maria Arminda, também carrega no currículo um histórico de perseguição a trabalhadores. Durante sua gestão como diretora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, a FFLCH, foi responsável por perseguição a trabalhadores, além de reduzir o número de trabalhadoras terceirizadas durante a pandemia. Como coordenadora do escritório USP mulheres, fechou os olhos para a situação das mulheres trabalhadoras de USP. Como sua antecessora, Eva Blay, Maria Arminda limitou-se a lançar campanhas pelo empreendedorismo feminino em parcerias com empresas privadas.

A aqueles que compraram a farsa de que a chapa USP Viva seria oposição à atual gestão, o atual reitor Vahan Agopyan, em carta destinada a comunidade, avisa:

"A partir de hoje, quero lembrar a todos que não há mais USP Viva e tampouco Somos Todos USP: agora é VIVA A USP DE TODOS NÓS!"

O entusiasmo do reitor de uma das melhores e mais elitistas universidades da América Latina é autoexplicativo. Caberá aos três setores, estudantes, funcionários e docentes, endurecer a luta contra esse projeto elitista e privatista de universidade.

A luta por permanência estudantil, contra os despejos do Crusp, a luta contra o arrocho salarial e a sobrecarga de trabalho, por contratações e a luta contra a terceirização, pela efetivação imediata de todas as trabalhadoras e trabalhadores sem a necessidade de concurso, se insere nessa batalha contra esse projeto de universidade.

Por isso, é fundamental a unidade entre as três categorias para seguir a luta em defesa da universidade pública contra os ataques do Bolsonaro, mas também de Doria e dos patrões, defender o hospital universitário e os aparelhos de saúde, para que abram contratações de trabalhadores efetivos de todas as áreas e que ele possa atender a comunidade USP e toda a população da zona oeste. É urgente que nós na USP nos unifiquemos às lutas do funcionalismo contra os ataques aos serviços públicos, à saúde e educação. E nesse caminho questionar a estrutura de poder e o projeto de universidade pública para colocar a USP verdadeiramente a serviço dos trabalhadores e do povo pobre.




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