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Recife | Como o capitalismo tornou o lazer praiano de Recife numa piscina de tubarões

Nos últimos dias, foi de repercussão nacional os ataques de tubarão ocorridos em Recife. Com 3 ataques em 15 dias, logo veio uma grande campanha para responsabilizar e alertar os banhistas. No entanto, falta uma discussão mais de fundo sobre a origem dos ataques.

quinta-feira 16 de março de 2023 | Edição do dia

Nos últimos dias, foi de repercussão nacional os ataques de tubarão ocorridos no Recife. Com 3 ataques em 15 dias, logo veio uma grande campanha para responsabilizar e alertar os banhistas. Páginas com milhares de seguidores, como o Recife Ordinário, tiveram suas campanhas viralizadas nacionalmente. Evidentemente, nós não recomendamos a ninguém se banhar nas áreas com risco de ataque. Mas é necessário discutir a real razão pela qual ir à praia no litoral recifense ter se tornado tão perigoso.

Do ponto de vista “natural”, o litoral do Recife possui um canal de águas profundas muito perto da costa, de forma que os tubarões – que habitam toda a costa brasileira – conseguem chegar com mais facilidade à arrebentação, onde ficam os banhistas, coisa que não acontece com frequência em outras partes do litoral. Nesse sentido, já são registrados ataques de tubarão nas praias da região metropolitana há inúmeras décadas. No entanto, se esses ataques eram espaçados entre anos ou décadas, desde os anos 90, começa a se notar um padrão com vários ataques praticamente anuais. Desde 1992 quando começou a contagem, foram 77 ataques. O que ocorreu nesse meio tempo?

Na década de 70, começa a construção do porto, que veio sofrer ainda várias expansões até a década de 2000. Como vários estudos mostram, a construção do porto se deu em uma área de estuário onde tubarões costumavam se reproduzir. Além disso, a construção do porto pode ter aumentado o despejo de dejetos no mar, o que pode também atrair os animais, além e aumentar o fluxo de navios na região, que também atraem tubarões. Como apontam as pesquisas, isso pode ter alterado o comportamento do animal de forma que, se aproveitando do canal de águas profundas como citamos anteriormente, ele acabe indo mais para a região onde fica os banhistas. Há também outras pesquisas associando as mudanças climáticas com os ataques.

Apesar disso, a empresa que opera o porto veio, cinicamente, dizer que não tem nada a ver com os tubarões, algo que foi replicado pela mídia burguesa tradicional. Nada poderia ser mais falso.

Para piorar a situação, há o descaso dos governos. Para começar, todos os governos que aprovaram e deixaram a obra do Porto de Suape seguir mesmo sabendo dos eventuais riscos ecológicos. Para colocar a cereja do bolo, o projeto de monitoramento de tubarões desenvolvido pela UFRPE em 2004 foi descontinuado em 2014, pelo então governador João Lyra Neto, que foi vice de Eduardo Campos e ninguém menos que o pai e mentor político da atual governadora Raquel Lyra. O projeto, que além de monitorar também capturava os animais e os soltavam em alto mar, foi capaz de reduzir em 95% o risco de ataques

Portanto, como podemos ver, os ataques de tubarão no Recife não é apenas responsabilidade de uns “tabacudos”. Se trata da destruição deliberada do meio ambiente em prol do lucro dos empresários e também do descaso dos governos. A técnica e a ciência já avançaram o suficiente para entender da onde surgiu os problemas de ataques de tubarão no Recife e os meios para contorna-los. No entanto, nenhum dos responsáveis pelo ecocídio representado pela construção do Porto de Suape foi responsabilizado, tampouco os diferentes governos fizeram algo para garantir que a população possa se banhar de forma segura. Numa das capitais mais pobres e desiguais do país, acabar com um lazer gratuito – a praia – é de uma crueldade ímpar. Mas isso não é um empecilho para a sede de lucro dos capitalistas e nem uma prioridade dos seus governos.




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