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DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE | Devastação do cerrado e seca da caixa d’agua no Brasil: quem paga são trabalhadores

Na semana do meio ambiente, multiplicam as notícias acerca de uma crise hídrica histórica que está para atingir cinco estados brasileiros, a saber: Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo entre os meses de junho a setembro. O criminoso ministro do meio-ambiente, Ricardo Salles, esteve em Goiás, para sinalizar privatizações e a liberação para maior devastação do Cerrado, segundo maior bioma brasileiro e considerado a caixa d’água do Brasil. Nos sinalizando de que para salvar o meio-ambiente e o povo pobre da privação de recursos essenciais, somente as nossas mobilizações podem enfrentar o regime golpista, o agronegócio e os demagogos do “desenvolvimento sustentável”.

Cris LibertadProfessora da rede estadual em Anápolis - GO.

sábado 5 de junho de 2021 | Edição do dia

Conforme informamos aqui Ricardo Salles esteve em Goiânia (GO) no último dia 01/06 para um evento curioso em seu título, mas bastante claro a respeito tanto das ações do criminoso ministro do meio ambiente do governo Bolsonaro/Mourão, quanto da base ideológica bolsonarista do agronegócio, que passa os tratores, a boiada e incendeia nossos ricos biomas. E a realização de um simpósio organizado por deputados bolsonaristas, com o investimento de organizações do comércio, indústria e do agronegócio em que cinicamente dizem estar interessados na preservação do meio-ambiente e nesse sentido do Cerrado, que já chegou a cobrir 70% do território goiano, nos marcos da emergência de uma crise hídrica em Goiás e outros estados da federação, é como diz o ditado: “Seria cômico, se não fosse trágico”.

O bioma Cerrado é o segundo maior em extensão do país, possuindo a mais rica flora dentre as savanas do mundo, com alto endemismo. O desmatamento do Cerrado há décadas tem índices superiores aos da Floresta Amazônica, porém os esforços para a manutenção deste bioma são inferiores aos da Amazônia, o qual já é insuficiente, apenas, 2,2% da área total do Cerrado está legalmente protegida, o que não traz garantias para a sua preservação, haja visto que mais de 50% da sua área original já foi devastada. O Cerrado já foi estigmatizado pela cultura popular, como possuidor de características inferiores, seus arbustos e árvores de pequeno porte “retorcidas”, eram caracterizadas como “feias”. Mas a expansão da fronteira agrícola e pecuária, com a utilização em larga escala de gramíneas africanas, para a pastagem - propícias ao aumento das erosões do solo - a abertura de mais espaço para a monocultura, com o emprego de agrotóxicos, representam o risco de extinção para o Cerrado que não apresenta somente tais singularidades em sua flora - a fauna também de uma riqueza singular -, mas por ser considerado a caixa d’água do Brasil.

O Cerrado é o berço de importantes rios brasileiros, sendo fonte de abastecimento de um total de oito bacias hidrográficas. Além disso, há três grandes aquíferos sob o Cerrado, são eles: o Aquífero Guarani, o Aquífero Bambuí e o Aquífero Urucuia - este último, é o maior deles e é 100% brasileiro. Os créditos da atual crise hídrica são dados às baixas precipitações dos últimos anos, entretanto, o desmatamento elevado, também influencia consideravelmente nos níveis críticos dos rios que são fonte de energia hidrelétrica e de água potável. Em 2020, o desmatamento do Cerrado registrou um aumento superior a 13% entre agosto de 2019 e julho de 2020 quase 6.500 km² foram desmatados, tais números equivalem a cinco vezes a área da cidade de São Paulo. A expansão do agronegócio e a utilização de água em grande escala na monocultura e na pecuária, também proporcionam escassez hídrica. O clima predominante na região deste bioma é o da divisão entre as duas estações, a da seca e das chuvas.

Partindo da experiência de quem lhes escreve, como uma moradora da cidade de Anápolis no interior de Goiás, já estamos habituados à falta de água nas regiões periféricas deste município que é a segunda maior economia goiana, se encontra as dez maiores do Centro-Oeste e está entre os 100 municípios com maiores índices do PIB nacional. Tais números, não impedem a falta d’água anual, nos períodos de seca que os anapolinos têm de enfrentar. O que denota a demagogia e o cinismo que os responsáveis pelo agronegócio, indústria e comércio goianos têm em um simpósio tendo Salles como principal convidado e a firme convicção de que todo o desmatamento que vem sendo feito ainda é pouco, potencializa a ira de quem é trabalhador e que sabe e entende que todos os números do agronegócio reivindicados por esses senhores contribuíram e seguem sendo uma das principais causas, para a falta d’água que enfrentamos anualmente.

Entre os meses de junho a setembro, as interrupções do abastecimento de água, na periferia de Anápolis, podem durar dias ou até semanas. Famílias inteiras, já entendem que devem procurar meios de armazenar água - seja em garrafas pets, tambores ou mesmo a aquisição de caixas d’águas extras -, pois, podem passar dias sem ter um gota sequer saindo de suas torneiras. O povo pobre e trabalhador, que neste país, tem o rosto negro e feminino, é quem mais sofre com a interrupção do abastecimento de água no período da seca. As indústrias e o agronegócio, quase ou nunca sentem esses efeitos dos quais eles são os responsáveis. Em plena crise sanitária, rumo a uma possível terceira onda de contaminação de covid-19, a falta d’água e também de energia elétrica ocasionadas em função das crises hídricas potencializadas pelo desmatamento ambiental, são fatores que certamente têm um fiador, sendo este a nossa classe de conjunto.

O Estado como balcão de negócios da burguesia que é, se aproveita dessa demanda antiga do nosso município para fazer política e também para precarizar ainda mais os serviços que não são oferecidos. O atual prefeito de Anápolis, Roberto Naves (PP), foi eleito em 2016 com a promessa de pôr um fim à falta d’água anual do município. Em 2020, foi novamente reeleito com a promessa de que ao fim de 2021 essa demanda seria atendida, o que podemos notar através da emergência hídrica que Goiás se encontra, que essa é só mais uma falácia. Além da falta de água, estaremos sujeitos a um potencial apagão - os serviços privatizados de distribuição de energia de Goiás, estão entre os piores do país - e nos sinais claros do reacionário novo marco do saneamento básico, poderemos ver a SANEAGO, ser privatizada.

É urgente, entender que a devastação dos nossos biomas e de nossa biodiversidade não pode ser revertida através de ações voltadas para um “desenvolvimento sustentável”, um “capitalismo verde”, ou quaisquer outras nomenclaturas que se dão para ações que tenham por príncipios atuações junto aos próprios capitalistas ou ao Estado, para reverter ou impedir a devastação total do Cerrado e demais biomas brasileiros e mundiais. Esses setores estão reunidos em prol de seus lucros, quaisquer ações que queiram ressaltar, são apenas ancoradas em seus negócios para a preservação e aumento de seus lucros. O regime golpista de Bolsonaro, Mourão e militares, assim como o governador Ronaldo Caiado (DEM) e prefeitos como Roberto Naves (PP) em Anápolis, estão prontos para expandir ainda mais as fronteiras de destruição ambiental e de conceder à iniciativa privada, os nossos recursos básicos de sobrevivência como a água.

Nesse dia do meio-ambiente, é mais do que urgente que possamos compreender que nós, os trabalhadores, as trabalhadoras, a juventude e os LGBTQ’s devemos nos mobilizar numa só luta para exigir desses ecocidas, a retomada dos nossos biomas e rios, para a preservação destes e o nosso usufruto e não o de poucos que destroem todas as nossas riquezas naturais objetivando produções irracionais que nos deixam à mercê da fome, da sede e da morte por covid.

Portanto, na esteira da grandeza dos atos do 29M, que as centrais sindicais, saiam de sua quarentena e chamem uma paralisação nacional, que a UNE e os DCE’s organizem os nossos jovens para combater ao lado dos trabalhadores todos os ataques que os golpistas e ecocidas nos fazem, pois é através das nossa mobilizações que poderemos impor uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, em que a partir das bases possamos rediscutir todas as leis e regras que destroem o meio ambiente e nossas vidas, revogar todos os ataques recentes e os anteriores, e será uma experiência que ajude a convencer os trabalhadores que a única saída é enfrentar e derrubar esse sistema que destrói nosso meio ambiente e nos mata cotidianamente.




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