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PÃO E ROSAS E QUILOMBO VERMELHO | Dia da empregada doméstica: um batalhão de mulheres negras em risco de contaminação. É preciso uma saída decisiva à pandemia!

Hoje, 27 de abril, é dia nacional da empregada doméstica, profissão que no Brasil conta com cerca de 6,5 milhões de pessoas, destes mais de 90% são mulheres, e quase 70% são negras. Um verdadeiro batalhão da nossa classe, fruto dos resquícios da herança escravocrata que relegou as mulheres negras à superexploração do trabalho doméstico. Frente à pandemia, esse batalhão de mulheres odiado por Bolsonaro, Guedes e cia, está mais propenso a se contaminar. É preciso dar uma resposta decisiva à pandemia com a força que essas mulheres mostram todos os dias!

segunda-feira 27 de abril de 2020 | Edição do dia

O trabalho doméstico e as marcas profundas da escravidão

O trabalho doméstico é hoje uma herança da escravidão bastante viva no seio da sociedade capitalista. O sistema escravista havia relegado às mulheres negras um destino não menos violento e opressor que aos negros escravizados das extensas plantações de café e açúcar, transportadores de mercadoria, etc. Elas foram forçadas pelos senhores de engenho a trabalharem sob pena de açoites, violência sexual e morte, caso não atendessem às necessidades domésticas da Casa Grande. A burguesia brasileira, apoiada no racismo, manteve intactas essas relações pela necessidade de superexplorar uma camada grande de trabalhadoras negras, sob um pretexto racista: as tarefas domésticas são naturalizadas no capitalismo, como "tarefas femininas" e pelo racismo no Brasil, tratadas como um trabalho destinado aos setores mais precarizados, na gritante majoria de mulheres negras.

Não é atoa que o Brasil, o último país que teve a escravidão abolida, tenha a maior população de empregadas domésticas do mundo, um contingente de 6,5 milhões pessoas em sua ampla maioria negra e nordestina. Só em 2015 as trabalhadoras domésticas passaram a poder registrar suas carteiras de trabalho com a PEC das domésticas, apenas 5 anos atrás essas mulheres negras puderam ter acesso ao direito à licença maternidade e férias remuneradas, por exemplo, uma mostra profunda do racismo que permeia a vida das empregadas domésticas. Ainda que haja essa regulamentação importante, o trabalho não deixou de ser menos extenuante e em muitos casos na prática patrões preferem não assinar as carteiras.

Na realidade elas são jogadas a um nível de exploração e precariedade muito absurdo, acordam bem cedo quando ainda está escuro, antes de suas patroas para que tenham desde o cafe da manha, todas as refeições sem nenhum atraso, pegam condições e trens lotados diariamente, são colocadas sob pressão para fazer tudo como a patroa determina, desde a limpeza a comida, quando chegam em casa depois de horas de trabalha sem parar, vão para 2 jornada de seus trabalho, as tarefas domésticas de suas próprias casas e até a 3 quando necessitam cuidar os filhos. Ou são diaristas que dependem de trabalhar em várias casas diferentes para ter o salário no fim do mês, com instabilidade porque nem sempre conseguem e sempre fazendo muitas tarefas domésticas acumuladas.

A pandemia do coronavírus deixou claro que a vida dessas guerreiras não vale de nada pros ricos e pro Estado. No Rio de janeiro, uma empregada doméstica de 63 anos foi obrigada a seguir trabalhando na casa dos patrões, mesmo com a patroa testando positivo para o coronavírus, o corpo da senhora negra não aguentou o vírus e ela foi uma das primeira vítima da Covid-19 no estado. Em Porto Alegre, um caso absurdo de racismo, a diarista negra Maria Goncalves Lopes, morreu de ataque cardíaco ao ver seu marido, um senhor negro, sendo espancado por seguranças acusado injustamente de roubo dentro do hospital, onde ela estava internada. Dedicamos a ela esse texto e a todas as empregadas domésticas que perdemos com o coronavírus.

Segundo estudo do Instituto Locomotiva, 23% dos patrões de diaristas e 39% dos patrões de mensalistas afirmaram que as trabalhadoras continuam trabalhando normalmente, mesmo durante o período de quarentena. Por outro lado, dos patrões que fizeram a dispensa a pesquisa aponta que quase 40% fizeram isso sem pagamento, ou seja milhares de mulheres negras, que muitas vezes são as que sustentam as famílias, estão em casa sem renda, portanto também sem meios para responder a crise do coronavírus, que deveria ser com métodos adequados de higiene, boa alimentação, descanso do corpo e um sistema de saúde capaz de absorver a demanda de leitos, respiradores e atendimento adequado.

Como sabemos também, boa parte dessas mulheres negras são moradoras de bairros periféricos e favelas, de norte a sul do Brasil. E são justamente nas periferias que se encontram as piores condições sanitárias, falta de rede de saneamento básico, casas com falta de espaço e ventilação adequadas. São elas que também sofrem com a violência policial, milhares de mães negras têm seus filhos assassinados covardemente pela polícia, como foi caso do massacre em Paraisópolis.

A realidade brutal dessas mulheres Bolsonaro se referiu de maneira nojenta, quando se elegeu afirmando frases como: "que seu filho nunca se casaria com uma negra". Para negar a pandemia e salvar os empresários precisa fazer com que sejam as massas negras trabalhadoras que paguem todos os dias a conta da crise, é esse o recado que dá quando, no pronunciamento para se defender das acusações de Moro, tem que atacar Marielle. Paulo Guedes chegou a fazer uma afirmação muito racista que até empregada doméstica estava indo a Disneylândia com o dólar baixo, justificando com seu ódio às mulheres negras, além de ser uma mentira absoluta. Hoje os que dizem encontrar as saídas para a crise do novo coronavírus nada mais são que os herdeiros dos antigos senhores, se utilizam do racismo para que as massas negras sejam as mais afetadas pelo vírus, que paguem com a vida pela crise sanitária que não foram os trabalhadores que criaram.

A força das mulheres negras trabalhadoras deve ser por Fora Bolsonaro e Mourão

Do ônibus lotado à tela do aplicativo da caixa que não libera os $600,00, a realidade colocada ao batalhão das mulheres negras trabalhadoras nesse país é de carregar essa crise nas costas, mesmo que ela custe a própria vida, e é claro, atenuada pelo racismo estrutural. Por isso, a força que sustenta tudo, que produz tudo, pode também dar uma resposta de fundo à crise, se ligando a outras tantas mulheres trabalhadoras que estão na linha de frente da saúde lutando para salvar vidas. Essa luta deve ser também por Fora Bolsonaro e também por Fora Mourão, porque não vamos aceitar que os autoritários que lavaram a ditadura com sangue negro estejam a frente do país.

Essa saída deveria hoje ser colocada à frente por todas as entidades que representam os trabalhadores, como os sindicatos, que também deveriam ter o papel de lutar por cada uma das demandas dessas trabalhadoras domésticas, exigindo liberação com remuneração e auxílio emergencial de pelo menos 2 mil reais para todos sem renda e desempregados. Também é preciso lutar por igualdade salarial entre brancos e negros ainda mais frente à crise, e que os que moram em locais insalubres possam ter direito à moradia a partir da expropriação dos imóveis sem atividade, e também das vagas em hotéis. E para resolver a crise precisamos de EPIs, testes massivos e mais contratações na saúde.

Infelizmente nesse momento, em que estamos às vésperas do dia 1 de maio, dia histórico dos trabalhadores, as centrais sindicais do país, como a CUT, CTB, que são dirigidas pelo PT, PCdoB, estão forrando o palco para dar palanque à figuras como Maia, Alcolumbre, FHC, que se sustentam com a exploração da classe trabalhadora e votaram e apoiaram a reforma da previdência. Por isso, nós chamamos o bloco de esquerda socialista do PSOL e o PSTU a romper com essa política traidora e chamar uma manifestação independente que diga Fora Bolsonaro e Mourão e não sustente nenhuma confiança nos golpistas que seguem atacando os trabalhadores.

Vemos que essa força das mulheres trabalhadoras que mantém as casas de milhares de famílias, tem um potencial poderia colocar abaixo todas as heranças da escravidão. Elas estão nas fábricas, nas empresas, nas escolas, nos hospitais também, podem dar uma saída à crise e erguer no país numa luta por uma assembleia constituinte livre e soberana para que não seja nenhum desses poderes a dar a saída deles para a crise, mas que seja o povo, que no Brasil é feito das massas trabalhadoras negras, que decidam os rumos do país.




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