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UFMG | E se toda a comunidade universitária pudesse decidir sobre o retorno presencial na UFMG ?

Depois de quase dois anos de pandemia e sem ensino presencial, está previsto para dia 26 de Março de 2022, com o início do próximo semestre letivo, o reinício das atividades 100% presenciais na UFMG. Frente ao aprofundamento das contradições que já existiam na universidade, pelo ensino remoto, estudantes e militantes da Juventude Faísca Revolucionária afirmam o potencial que a UFMG tem e que poderia para pensar a resolução das várias mazelas capitalistas que atravessam os jovens, como a pandemia, as enchentes e a mineração predatória em MG, e que deveria portanto ser a comunidade universitária a decidir como será o retorno presencial.

Pedro GrongaEstudante de História da UFMG

sexta-feira 18 de fevereiro de 2022 | Edição do dia

Em vídeo publicado nas redes do coletivo de juventude Faísca Revolucionária, estudantes da UFMG denunciam que a gestão imperialista da pandemia, que vê a vacinação e o planejamento do controle contra a Covid através da ótica do lucro e da disputa de poder entre diferentes setores capitalistas, é o que torna possível hoje variantes como a Ômicron e novos picos de infecção no mundo. Uma demonstração da irracionalidade do capitalismo e seus governos que nunca enfrentaram consequentemente a pandemia com testes massivos, EPIs e utilização dos avanços científicos a serviço da população.

Tudo isso é agravado pelo negacionismo do governo reacionário de Bolsonaro e Mourão. Mas também são responsáveis dessa situação o Congresso, o STF, governadores e prefeitos. Em Minas Gerais, tanto o governador Romeu Zema como Alexandre Kalil, prefeito de Belo Horizonte, impuseram o retorno presencial às escolas com protocolos altamente questionados pela comunidade escolar, que foi privada do seu direito de decidir e inclusive punida por lutar por suas vidas, de seus alunos e famílias, vide o exemplo das educadoras de BH que ainda não tiveram a reversão do corte de ponto, aplicado por Kalil durante sua valente greve ao lado dos terceirizado.

Na UFMG está previsto um retorno 100% presencial para março, o que vai exigir medidas de segurança sanitária e garantia de assistência estudantil, que diminuiu durante a pandemia. Assim como foi na implementação do Ensino Remoto e Híbrido, a forma como a Reitoria vem impondo essa nova fase desconsidera várias dessas questões importantes, além de não dar espaço para nenhum poder de decisão da comunidade universitária, que inclui não só os estudantes e professores, mas os trabalhadores efetivos e terceirizados que serão responsáveis por implementar grande parte dos procedimentos sanitários exigidos.

Os cortes, ataques e todo o negacionismo do governo Bolsonaro-Mourão e da extrema direita atingem em cheio as universidades que são fundamentais para lidar com problemas sociais agravados pela pandemia. Mas suas consequências são sempre descarregadas nas costas dos estudantes sem assistência econômica e psicológica adequada; dos trabalhadores terceirizados que são essenciais para o funcionamento das universidades, mas que enfrentam o trabalho mais precário dentro dela, e deveriam agora, mais do que nunca, ser imediatamente efetivados para ter direitos; dos trabalhadores técnicos-administrativos que duplicaram sua demanda de trabalho para garantir o funcionamento de toda a parte técnica pelo Moodle; dos professores e professoras que se desdobraram para adaptar suas aulas ao modo remoto e às pesquisas sem verba e nem condições adequadas.

Os técnicos-administrativos da UFMG, inclusive, estão em greve sanitária no momento, frente à insegurança da forma de retorno que a Reitoria está impondo e têm suas demandas mínimas, como máscaras e contratações, deslegitimadas e sua greve ameaçada pela pró reitoria de recursos humanos.

“Nesse retorno precisamos unificar professores, técnicos, estudantes e terceirizados para que a comunidade universitária decida como e quando retornar às atividades 100% presenciais, assim como sobre os atuais protocolos sanitários, funcionamento das atividades, regras acadêmicas, assistência estudantil, etc., para que nenhuma de nossas demandas passem em branco através de decisões arbitrárias da Reitoria", afirmam os militantes da Faísca em vídeo

É preciso defender a autonomia universitária frente a qualquer ataque negacionista e a ingerência bolsonarista com seus interventores, mas os estudantes da Faísca não se calam frente à administração pela Reitoria dos cortes do governo que descarrega nas costas dos setores mais precários da comunidade acadêmica os problemas dessa crise. Elisa, coordenadora do Centro Acadêmico de Filosofia, afirma que "nós estudantes precisamos também nos organizar e discutir amplamente nossas demandas, em aliança com os trabalhadores. Chamamos o DCE e todas entidades estudantis dos cursos e prédios que realizemos assembleias para que possamos romper a fragmentação do isolamento e nos fortalecer nesse próximo período que enfrentaremos”.

A falta de assistência estudantil afeta sobretudo os estudantes vulneráveis e, na prática, expulsa estes que já passaram pelo filtro elitista e racista do vestibular e que convivem com os empregos precários e sem direitos. Essa precariedade trabalhista que afeta sobretudo a juventude foi imposta pelas reformas, como a trabalhista, que elevou a precarização do trabalho no país, fator que fez Moise ser espancado até a morte ao exigir de seu patrão o pagamento por seu trabalho.

Saiba mais: Um chamado à esquerda para uma campanha unificada pela revogação integral da reforma trabalhista

A UFMG é fundamental para lidar com problemas sociais agravados pela pandemia, incluindo as pesquisas sobre a Covid-19 e a aplicação das vacinas, como vem fazendo ao longo da pandemia. Porém, isso se deu às custas dos setores mais precários da universidade. O retorno sem que a comunidade possa decidir sobre a sua segurança sanitária e o funcionamento das atividades, a serviço de suas demandas e de toda a população, vai ao encontro do projeto produtivista da universidade em função da lógica capitalista, sem explorar a capacidade social que a universidade pode desempenhar num período como esse.

Os militantes da Faísca exigem e lutam por testagem gratuita nos campi, distribuição de máscaras N95 ou PFF2, licenças remuneradas para os trabalhadores sob qualquer suspeita de infecção;o reajuste das bolsas de estudo e trabalho para um salário mínimo de acordo com a inflação; assistência estudantil para toda a demanda, incluindo a pós-graduação e os estudantes de segunda graduação; a manutenção do Auxílio Internet e o retorno do Auxílio Transporte e do Auxílio Emergencial e Complementar, com atenção especial a todes que correm o risco de não poderem voltar à UFMG por falta de moradia, dinheiro para transporte e alimentação . Fortalecendo junto aos estudantes de cada curso da UFMG e buscando articular a mobilização com as outras universidades federais para conseguir a força suficiente para pôr abaixo a PEC do Teto de Gastos e barrar os cortes no MEC, combatendo o projeto orçamentário de 2022 para às universidades, aprovado pelo governo Bolsonaro e Mourão; um orçamento menor que o de 2019 que já era ridiculamente baixo, na medida em que os cortes no orçamento vêm desde os governos do PT, e que vem cada vez mais prejudicando o funcionamento das universidades federais do país.

Sobre o assunto: Com cortes do governo no orçamento, Universidades federais estão a beira do colapso

Para os militantes da Faísca, essas demandas só podem ser garantidas pela força da mobilização da comunidade acadêmica ligada às demandas e lutas dos trabalhadores e da juventude fora da universidade. Por isso, se opõe à política de conciliação com a direita e com o regime, que sempre atacaram os direitos dos estudantes e trabalhadores da educação. Política esta que sempre foi e segue sendo feita pelo Lula e pelo PT. A Reitoria, que se diz a favor da recomposição do orçamento da universidade, deveria garantir todas as condições para que a comunidade universitária, organizada em suas entidades estudantis, sindicatos, partidos, coletivos e movimentos, trave uma luta junto aos trabalhadores e à população de fora da universidade em defesa da ciência, da educação, do direito da juventude estudar.

Pensando nessas questões, a Faísca Revolucionária propõe uma campanha unificada entre todas as entidades estudantis e organizações de esquerda da UFMG pelo direito da comunidade universitária decidir como será o retorno, com seus protocolos sanitários, acadêmicos e de trabalho. E convida todes estudantes a conhecerem e se organizarem no coletivo, defendendo essas ideias anticapitalistas e revolucionárias para a juventude e os trabalhadores dentro e fora das universidades.




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