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ELEIÇÕES NO RIO DE JANEIRO | Eleições no RJ: porque o “mal menor” é só um passo do caminho para um maior

Nas eleições do Rio de Janeiro uma direita e extrema-direita buscam seu espaço para tornar a vida dos cariocas ainda mais insuportável, através dos mesmos métodos de corrupção e de submissão aos empresários de sempre. Do outro lado, várias variantes da mesma política do mal menor. Mas essas posições possibilistas são de fato alternativa?

Simone IshibashiRio de Janeiro

sexta-feira 6 de novembro de 2020 | Edição do dia

Imagem: Reprodução/Montagem RBA

As eleições para a prefeitura do Rio de Janeiro estão condensando contradições muito importantes postas no cenário nacional. A cidade que há tempos é um dos grandes centros da crise econômica, política e social do país, amargando elevados índices de desemprego, está imersa em um processo de fortalecimento eleitoral de velhos e conhecidos nomes da política carioca, responsáveis pelo aprofundamento de tais crises. Isso se dá no marco de uma grande rejeição à Crivella, que não é visto como mal menor, mas em parte como a verdadeira desgraça na vida do povo carioca.

Nas últimas pesquisas eleitorais divulgadas para a corrida à prefeitura do Rio de Janeiro, Eduardo Paes lidera com 31% das intenções de votos, seguido por Crivella, que apesar de ser considerado um dos piores prefeitos do país conta com a máquina eleitoral da Universal do Reino de Deus que lhe dá 14%, estando empatado com a delegada Martha Rocha do PDT e Benedita da Silva, candidata do PT, enquanto Renata Souza do PSOL, que se apresentou com um vice policial, Ibis Pereira, no afã de mostra-se viável para a direita, está sucumbindo com a mesma intenção de votos do candidato da Rede, 2%.

Portanto, até o momento o que as tendências eleitorais à prefeitura do Rio de Janeiro mostram é que existem alguns fenômenos dignos de nota. O primeiro é justamente o fortalecimento das tendências de intenção de votos em velhas figuras da política carioca, os mesmos que dilapidaram a cidade, atacando os trabalhadores e o povo para garantir seus próprios interesses. A liderança mantida por Eduardo Paes tem como fundamento um fortalecimento do sentido de “voto útil”, e de que frente à Crivella representaria uma alternativa “menos pior”.

O segundo fenômeno, que se liga ao primeiro, é caracterizado por uma diminuição do sentimento anti-política, que foi muito forte nas eleições anteriores, e que fez com que o número de votos brancos e nulos fosse muito expressivo no Rio de Janeiro. A contradição é que esse processo está sendo capitalizado por um falso sentido de mal menor sobretudo contra Crivella, apoiado oficialmente por Bolsonaro, que por ora favorece Eduardo Paes.

O legado de Eduardo Paes (DEM) à frente da cidade do Rio é lembrado pelas obras superfaturadas, cujos contratos eram dados de presente a amigos e apoiadores, pelas remoções a serviço da especulação imobiliária, de contratos superfaturados em praticamente todos serviços públicos, da instalação das OSs que privatizam os serviços de saúde expresso na crise da saúde no estado. E por ter indicado seu amigo e agressor de mulheres, Pedro Paulo, como sucessor. Mas não é apenas isso que marcou o governo do autointitulado “soldado do Lula”, como Paes se declarou antes do impeachment de Dilma, a quem apoiava. As repressões às manifestações de 2013, o desaparecimento de Amarildo, e a greve de professores que em diversas ocasiões foi duramente reprimida por Paes, também foram importantes marcas de seu governo. A defesa de Paes às milícias, que chegou a serem saudadas por ele como se fossem uma “solução”, estão ficando em segundo plano, e até mesmo setores da base do PSOL estão inclinados a votar nele. Paes é a expressão gráfica de um governo a serviço dos grandes capitalistas com grandes esquemas de corrupção que são parte inseparável da política capitalista.

Crer que Eduardo Paes é um exemplo de mal menor, seja como alternativa ao Crivella, ou ao bolsonarismo é um grande erro. Primeiramente porque como debatemos aqui Bolsonaro tem prestado um tímido apoio a Crivella, interessado na base evangélica. Mas não poupou elogios a Eduardo Paes afirmando que seria um “grande administrador”. Com isso busca acenar ao centrão, com quem Bolsonaro se uniu para garantir a base de seu governo e do qual Paes é um representante. Portanto, de nenhuma maneira Eduardo Paes pode ser considerado uma alternativa mais democrática, pois toda a sua movimentação indica que está totalmente disposto a ser um ator em favor do aprofundamento da obra autoritária do golpe, que tem corroído o regime político. Inclusive com intenções de negociar uma suavização das investigações que pesam contra si.

Martha Rocha e Benedita da Silva do PT também têm se fortalecido na esteira do sentimento de “mal menor”. A candidata do PDT foi ninguém menos que chefe da Polícia Civil durante o governo de Sergio Cabral, um dos mais detestados no Rio de Janeiro. Votou em favor de Domingos Brazão, acusado de fraudar as investigações sobre o assassinato de Marielle Franco, ao TCE. Tal como debatemos aqui, não há novamente nenhum mal menor com Martha Rocha. Tanto Eduardo Paes como Martha Rocha são nomes de direita, que nada podem fazer pelo povo e os trabalhadores do Rio de Janeiro a não ser atacá-los. Muito menos farão qualquer coisa para “salvar” o regime político que degrada em autoritarismo. Pelo contrário, serão representantes ativos do aprofundamento dos ataques aos direitos democráticos dos trabalhadores e do povo, seja os que vierem de Bolsonaro, seja das decadentes instituições do regime como o Congresso ou o STF.

Benedita da Silva do PT, por sua vez, como já apontamos aqui não propõe qualquer saída que ataque os interesses dos capitalistas, tal como foram as administrações do PT ao longo dos últimos 13 anos. Seu partido esta coligado em 140 cidades com o PSL. Numa situação tão grave como a que estamos vivendo, quer se ligar e fortalecer a presença dos pastores-capitalistas na política, e promete um reformismo farsesco, que além de não ter condições de ser realizado ainda desarma os trabalhadores para os combates que virão. Tal como o PT veio fazendo no Estado do Rio de Janeiro com apoio a bolsonarista em Belford Roxo, não oferece qualquer via de resistência séria à direita e à ultradireita, não oferece qualquer via de resistência séria à direita e à ultradireita.

Como se chegou a isso e o que fazer?

O PSOL também seu papel para a construção desta situação. Marcelo Freixo mirando as eleições de 2022, sendo parte dos setores que creem absurdamente que é assim que derrotarão Bolsonaro, abandonou sua candidatura em nome da construção de uma Frente Ampla com golpistas e a burguesia. Renata Souza que ocupou o posto de candidata aliou-se ao ex-comandante da PMERJ, Ibis Pereira, como debatemos aqui, política com a qual não concordamos e por isso retiramos nossa candidatura aqui no Rio. Como resultado deste imenso giro à direita, a candidatura do PSOL deixou órfão seu eleitorado, que em grande parte migrou para Benedita, Martha Rocha, e até Eduardo Paes. Uma expressão de não ter uma candidatura com um forte programa anticapitalista, ajudaram a disseminar o sentimento do mal menor.

No entanto, mesmo que a classe trabalhadora e o povo carioca realmente não tenham uma alternativa sua nas eleições do Rio de Janeiro, sucumbir à pressão do mal menor é um erro. Como diz o marxista italiano Antônio Gramsci “Um mal menor é sempre menor que um subsequente possivelmente maior. Todo mal resulta menor em comparação com outro que se anuncia maior e assim até o infinito. A fórmula do mal menor, do menos pior, não é mais que a forma que assume o processo de adaptação a um movimento historicamente regressivo cujo desenvolvimento é guiado por uma força audaciosamente eficaz, enquanto que as forças antagônicas (ou melhor, os chefes das mesmas) estão decididas a capitular progressivamente, em pequenas etapas e não de uma só vez [...]”. (Antônio Gramsci, Cadernos do Cárcere, Caderno 16, §25)

Portanto ao contrário de eleger os que já sabemos que nos atacarão, é preciso ver que as eleições deste ano não podem ser encaradas em seus limites municipais. São as eleições para prefeito mais nacionais da história recente, que se dão em meio a um regime que se degenera pelos mandos e desmandos do STF, de juízes eleitos por ninguém, do Congresso e das abjetas figuras de Bolsonaro e Mourão. Qualquer alternativa de esquerda precisa, ao contrário da lógica do possibilismo do menos pior, ligar os destinos dos trabalhadores das cidades aos de todo o país. E ao contrário de se adaptar às regras do jogo do regime político cada vez mais autoritário, defender abertamente uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que possa anular as reformas, a Lei de Responsabilidade Fiscal, e proibindo as demissões. Que pode instituir que todo político e juiz ganhe o mesmo que uma professora, e sejam revogáveis. Para isso ao contrário de apoiar a polícia, como Marta Rocha e Íbis Pereira chamam a fazer, os trabalhadores e o povo deveriam se auto organizar contra a repressão estatal e cada um dos ataques no Rio e no país. Aos que creem que uma via de fundo como esta é uma utopia, chamamos a refletir que utopia ainda maior é acreditar que algo positivo pode vir de Eduardo Paes.




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