×

Eleições 2022 | Em entrevista ao Flow, Lula reafirma que é contra o direito ao aborto: "não é bom pra ninguém"

O ex presidente e candidato Lula (PT) mais uma vez declara seu posicionamento contra o direito ao aborto. Para lutar pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito, é preciso enfrentar a extrema direita sem conciliar com a direita, com as bancadas religiosas e com a patronal.

Tassia ArcenioProfessora e assistente social

quarta-feira 19 de outubro de 2022 | Edição do dia

Em entrevista ao Flow Podcast nesta terça (18), Lula reafirmou que é contra o direito ao aborto. Com mais de um milhão de espectadores acompanhando a fala do candidato do PT e com a campanha contra o aborto no centro da disputa eleitoral, Lula se colocou mais uma vez contra o direito das mulheres decidirem sobre seu próprio corpo.

Enquanto as mulheres ainda enfrentam o governo ultra reacionário de Bolsonaro, que ataca as suas demandas sempre que possível e vocifera aos quatro cantos barbaridades relacionadas ao tema de gênero e sexualidade, o direito ao aborto mais uma vez volta com destaque nas campanhas dos candidatos, mas sempre para ser atacado.

Bolsonaro utilizou em um dos seus programas mais recentes, cinco dos dez minutos de propaganda eleitoral diário na para mostrar imagens de um ultrassom sem o feto, que teria sido abortado. Já Alckmin, declara “Então, aborto, o presidente Lula é contra, eu sou contra. Ele foi presidente oito anos e não mudou lei nenhuma”, relembrando uma verdade difícil de engolir para as feministas que defendem o legado petista e trazendo à tona que, para arrancar suas pautas, o movimento de mulheres precisa se organizar confiando apenas em suas forças, aliada à classe trabalhadora de forma independente, sem que o direito ao aborto legal, seguro e gratuito vire moeda de troca com as bancadas religiosas.

Na entrevista para Igor 3K, Lula disse no Flow “Eu sou contra o aborto. O aborto não é bom nem pro pai nem pra mãe nem pra ninguém”, ignorando conscientemente as milhares de mortes de mulheres por aborto clandestino, sobretudo às mortes de mulheres trabalhadoras, pobres e de mulheres negras, que representam 3 entre 4 mortes que poderiam ser evitadas se não fossem o peso da religião, da direita e da conciliação legislando sobre os nossos corpos.

Sobre isso, Diana Assunção colocou no Ideias de Esquerda dessa semana:

(...) Não é a primeira vez que o direito ao aborto atravessa o centro da disputa eleitoral. Ele aparece quase como um “ponto de acordo” entre as forças progressistas e reacionárias: desta linha não podemos passar. Funciona como uma garantia, uma concessão, um ponto de trégua. Que Bolsonaro e sua corja de Damares Alves, Michele Bolsonaro, Paulo Guedes e companhia são contra o direito ao aborto e querem fazer retroceder inclusive os três casos que são permitidos por lei, todos já sabemos. Os 4 anos de governo Bolsonaro foram uma campanha permanente contra o direito ao aborto. Mas é preciso dizer com todas as letras: os governos do PT, que em seu programa tem a pauta de “descriminalização do aborto”, em 13 anos nunca legalizaram esse direito. Ao contrário, naquele momento vimos justamente Dilma Rousseff lançar uma “Carta ao Povo de Deus” garantindo que o direito ao aborto não seria legalizado em seu governo (...)

Dando continuidade a essa política e ao que apresentou mais uma vez na entrevista do Flow, nesta quarta (19), Lula está reunido com lideranças evangélicas em São Paulo, apresentando sua carta aos evangélicos que diz " Nosso Projeto de Governo tem compromisso com a Vida plena em todas as suas fases. Para mim a vida é sagrada, obra das mãos do Criador e meu compromisso sempre foi e será com sua proteção. Sou pessoalmente contra o aborto e lembro a todos e todas que este não é um tema a ser decidido pelo Presidente da República e sim pelo Congresso Nacional. ".

Frente a essa conjuntura política polarizada onde o bolsonarismo mostra sua força é preciso cavar a existência de um outro caminho, que seja sem submissão a esse tipo de aliança e de conciliação com o que é inconciliável. Um caminho inspirado na força internacional das mulheres, como mostram as iranianas nesse momento. Construir uma vanguarda do movimento de mulheres e de trabalhadores que possam apontar que o único caminho é a nossa mobilização independente, confiando nas nossas próprias forças, buscando construir uma força social sem empresários e patrões com um programa para que sejam eles que paguem pela crise, e não nós. Exigindo das burocracias sindicais que organizem a luta para que nossa classe possa tomar nas suas mãos essa demanda elementar das mulheres, e garantir que nossos corpos não sejam mais controlados, que possamos ter direito ao aborto livre, seguro e gratuito e separação da igreja e do Estado. Basta de rifarem nossos direitos! Basta de mulheres, homens trans e não bináries mortas por abortos clandestinos! Unir a luta das mulheres com a luta da classe trabalhadora, por um feminismo socialista!




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias