A imagem que usamos nesta coluna é ilustrativa, mas é um retrato do Brasil recente onde metade da população está sofrendo algum nível de insegurança alimentar, o que significa que ou não têm o que comer, ou não sabem se poderão ter no futuro próximo.
Cristina SantosRecife | @crisantosss
sábado 3 de setembro de 2022 | 17:25
Imagem: Poder 360
Com as diferenças regionais, o problema tende a ser ainda mais profundo sobre alguns setores da população.
No começo da semana, uma matéria do Diário de Pernambuco veiculou pesquisa feita por fiscais do Procon que constatou que o preço dos alimentos na região metropolitana de Recife já acumula 16,64% este ano, chegando a uma média de R$667,45, mais da metade do salário-mínimo.
Numa região que acumula índices de desemprego, informalidade e trabalho precário muito alto (Pernambuco está entre os estados recordistas de trabalho informal, com 48,8% da força de trabalho ocupada nesta condição), este nível de inflação significa literalmente impedir o acesso a estes itens especialmente para os mais pobres que são sobre quem o aumento dos alimentos mais pesa.
Está demais dizer que vivemos no país que é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, mas que por uma lógica que só é explicada pela irracionalidade capitalista, escolhe produzir soja para alimentar porcos na China e gados para exportação, em detrimento da produção de alimentos de qualidade para a população.
Segundo informações da Associação Brasileira das Indústrias de Milho (Abimilho), das 88 milhões de toneladas de milho produzidas no Brasil na safra de 2021, somente 2 milhões foram diretamente para o consumo humano, o grande montante produzido foi destinado para ração animal (55 milhões) e exportação (22 milhões). São essas as prioridades dos capitalistas.
A Agricultura familiar que aqui no estado é responsável por 70% dos alimentos de hortifruti que chega nas mesas das pessoas, ou seja, também os mais saudáveis e nutritivos, vem sendo atacada. O governo Bolsonaro suspendeu agora em 2022 um dos principais programas de incentivo à atividade, o PRONAF; e a urgente demanda de reforma agrária não passa nem perto do programa de governo de Lula e Alckmin, que já garantiu pra burguesia que não irá revogar a reforma trabalhista e na entrevista ao Jornal Nacional disse que movimentos como o MST estão “disciplinados”. Não por acaso, já no começo do ano, antes mesmo de oficializar a chapa, Lula ofereceu a Alckmin o comando do ministério da agricultura.
Há algumas semanas assisti uma reportagem no TV1 da Rede Globo aqui de Pernambuco orientando os consumidores a comprarem produtos de baixa qualidade para driblar o aumento dos preços, houve momentos em que inclusive diziam para comprar menos: “se antes levava cinco quilos de arroz, agora levo três” ... o que isso significa? Que tem menos bocas para alimentar ou que literalmente a população está comendo menos quantidade de alimento? Vamos naturalizar que a população consuma “alimento à base de leite” em vez de leite? O que acontece com as necessidades diárias de nutrientes?
A carne virou item de luxo. São inúmeros os relatos de trabalhadores que comentam a tristeza na hora do almoço nos refeitórios, quando abrem as marmitas, as quentinhas e só tem arroz e feijão… e olhe lá!
Fica cada vez mais evidente que para derrotar a extrema-direita e o conjunto da direita, é preciso os métodos da luta de classe e não permitir que tentem nos “disciplinar” no canto da sereia de meras saídas institucionais e eleitorais. Hoje vemos o PSB e a oposição de direita fazendo demagogia com a miséria e a fome na disputa pelo governo de Pernambuc, sabemos que é pura mentira, porque para isso é preciso expropriar a grande indústria do agronegócio e reajustar os salários de acordo com a inflação. Além de fazer uma reforma agrária radical que tocaria nos interesses dessas famílias que estão na disputa eleitoral e também de outras que lucram com a fome e com o agronegócio.
