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1000 DIAS SEM MARIELLE | Investigação do assassinato Marielle completa 1000 dias. Porque ainda sem respostas?

Hoje completa 1000 dias que a companheira Marielle Franco teve sua vida arrancada forçadamente e até os dias de hoje seguimos sem resposta pra pergunta: quem mandou matar Marielle?

terça-feira 8 de dezembro de 2020 | Edição do dia

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Mais uma vez o Estado burguês e todo seu jogo de interesse é oposto dos interesses de nossa classe, pois seguimos sem nenhuma resposta dessa enorme injustiça. Quer fazer parecer que se trata de mais uma morte como qualquer outra. Mas não é. Silenciaram uma vereadora de esquerda, negra, lésbica, que denunciava a violência policial nos morros do RJ.

A investigação vem sendo conduzida até agora para que não tenhamos respostas e que o caso seja normalizado, assim como todo avanço autoritário, repressivo, racista e de ataques aos trabalhadores, também seja. Estão tentando fechar a ferida aberta do golpe institucional, deixando impune o regime responsável por sua morte.

Nesse artigo recuperamos os principais momentos dessa investigação, que mostra a seletividade judicial e a insuficiência articulada entre os poderes do Estado para não ir mais a fundo no crime contra a vida de Marielle Franco.

Restrospectiva dos principais momentos da investigação

Em setembro de 2018, seis meses após o assassinato de Marielle, sua companheira, Mônica Benício, já afirmava o descaso das investigações: “Denunciei o descaso do governo brasileiro na ausência de justiça frente à execução política de Marielle. Também solicitei apoio internacional, para uma investigação imparcial, e sigo afirmando que as autoridades brasileiras estarão com as mãos sujas de sangue até que respondam quem matou e quem mandou matar minha companheira Marielle Franco”.

Aventava-se a possibilidade do vereador Marcello Siciliano (PHS) ser o mandante do crime mas sem nada concreto que indicasse esse caminho. Meses depois, a própria investigação admitiu que vinha seguindo pistas falsas, por meses a fio. Segundo notícias que surgiram nas mídias e redes sociais, a polícia expulsou do local testemunhas oculares do crime, se negando a pegar seus depoimentos, além disso, existiram "erros" de perícia que impossibilitaram a chegar à conclusão de qual arma foi utilizada para a execução do caso.

Passados mais de nove meses sem solução para o crime brutal, em dezembro de 2018, o Ministério Público rompe com a delegacia de homicídios na investigação, por divergências entre os dois. A polícia teria perdido as imagens de segurança que poderiam ser cruciais ao inquérito. Nesse mesmo período o General e Secretário de segurança admitiram que o crime não teria previsão de ser resolvido.

O desenvolver das investigações e toda a ausência de informações precisas indicava que o assassinato da Marielle teria envolvimento de pessoas do alto escalão do sub mundo do crime organizado, da polícia e da política. Ronie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz, apontados pela própria polícia como milicianos e matadores profissionais conhecidos, foram acusados pela polícia depois de um ano do assassinato brutal de Marielle.

O Delegado Giniton Lages, responsável pela investigação, classificou como “crime de ódio”, e que o acusado Ronnie Lessa teria uma "obsessão por personalidades que militam na esquerda política", sendo capaz de "resolver suas diferenças políticas com violência".

Até hoje a tese de policiais e promotores é de que Lessa era um "lobo solitário". Uma versão bizarra que aprofunda o cinismo da linha anterior, que simplesmente ignora o forte armamento armazenado pelos suspeitos, a parceria com Élcio, e mais de um milhão em suas contas. Não foi crime de ódio, mas um crime político e exigimos saber quem são os responsáveis.

Mesmo encontrando os atiradores, seguimos sem saber quem foi o mandante do crime. Nesse momento vimos Mourão, vice de Bolsonaro, um reacionário dos porões da ditadura, declarando que estavam enchendo o saco com o caso da Marielle. Bolsonaro, permaneceu meses calado no ano de 2018 sobre a morte de Marielle, quando abriu a boca esbravejou que a morte da Marielle foi uma morte como qualquer outra. Porém, conforme o desenrolar das investigações o caso Marielle passou a dar sinais de que a morte teria ligação com a família Bolsonaro e o sub mundo das milícias cariocas.

O envolvimento de Bolsonaro e sua família começou a crescer a partir dos registros da portaria do condomínio de Bolsonaro e de Ronnie Lessa, um dos suspeitos do assassinato de Marielle, que mostravam que Élcio, outro suspeito do crime, entrando no condomínio no dia da morte da vereadora e de seu motorista afirmando que ia na casa do presidente. A última conclusão sobre isso é que quem atendeu o telefone não foi Bolsonaro, mas Ronnie Lessa.

Porém, a pedido do Bolsonaro a justiça escancarou sua seletividade e racismo, ao arquivar esse depoimento e provas. Fizeram isso logo depois de encontrarem Queiroz na casa do advogado de Bolsonaro. Ex-funcionário e amigo policial de Bolsonaro teria envolvimento com o Escritório do Crime, milícia comandada por Lessa, assim como esquema de rachadinhas do escritório de Bolsonaro no RJ. Usaram dessa investigação para pressionar Bolsonaro em um momento de escalda de tensões políticas entre Bolsonaro e o STF.

Depois chegaram a um entendimento em favor da aprovação de ataques aos trabalhadores em meio a pandemia, de avançar com as privatizações e outras medidas, disciplinando Bolsonaro. Ou seja, para esse regime, as investigações que envolvem Marielle são usadas dentro das disputas políticas para atender interesses que se voltam contra o conjunto dos trabalhadores.

Mil dias sem Marielle: uma ferida aberta do golpe institucional e nossa luta por justiça

A resposta do crime contra a vida de Marielle só será arrancado pelas mobilizações nas ruas, exigindo justiça por Marielle. Depois do dia 14 de março de 2018, as vozes ecoaram por todo país por justiça a Marielle. Não podemos confiar em uma instituição que a própria Marielle denunciava e morreu por isso. A polícia civil, militar e esse judiciário, a Globo, são de interesses opostos do nosso, justamente por isso, responsáveis pelo avanço autoritário do e racista regime político responsável pelo seu assassinato.

São 1000 dias sem Marielle e 1000 dias que seguimos sem respostas. Por isso não confiamos nessa justiça burguesa, racista e seletiva. A única via de obrigar o Estado a chegar numa conclusão deste crime é garantir uma investigação independente que puna os culpados e mandantes. Não podemos ter nenhuma ilusão de que sem uma investigação independente, que trabalhe em paralelo e controle todo o processo, será possível chegar a alguma verdade. A investigação do Estado deve ser acompanhada e fiscalizada rigorosamente por uma investigação que seja independente, composta por defensores notórios dos direitos humanos, sindicatos, familiares, parlamentares do PSOL, movimentos sociais com todos os recursos, acessos e condições necessárias para acompanhar e fiscalizar a investigação da Justiça.




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