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LETRAS USP | Letras USP rumo ao 29 de maio: em defesa da educação pública e da vida! Fora Bolsonaro e Mourão

No último sábado (22), mais de 50 estudantes da Letras USP se reuniram em assembleia do curso, a primeira convocada pela gestão Balalaica do CAELL (composta pelo PSTU e estudantes não organizados), para discutir os recentes cortes nas universidades federais e quais são nossos desafios do nosso curso e de uma universidade estadual como a USP nessa luta contra os ataques de Bolsonaro, Mourão e de todo regime golpista, e nossa incorporação ao dia 29, chamado pela União Nacional dos Estudantes (UNE) como dia nacional de atos em defesa da educação pública.

segunda-feira 24 de maio de 2021 | Edição do dia

Os recentes cortes e anúncio de fechamento de diversas federais como a UFRJ, Unifesp, UFBA e UFG foram parte das pautas da assembleia da Letras no último sábado. No debate que se abriu, ficou claro como é inevitável não enxergar paralelos com os níveis de precarização que enfrentamos, ano após ano, também na USP e em cursos como a Letras, como a falta de contratação de professores e funcionários, cortes nas bolsas de pesquisa, em especial nas áreas de humanidades.

Sabemos que os ataques na USP fazem parte de um projeto muito mais profundo de desmonte e privatização da educação pública e das universidades no Brasil, estampado pela extrema direita negacionista e anticiência de Bolsonaro. Mas muitos dos que hoje se colocam nacionalmente em oposição a este governo genocida também são responsáveis pelos cortes e ataques aprovados no Congresso Nacional, no STF, nos estados, municípios e universidades que dirigem. Nesta semana, por exemplo, diversos colegas do nosso curso foram surpreendidos com o atraso no pagamento das bolsas do PAPFE, programa que garante míseros R$400 como auxílio estudantil enquanto os preços e a carestia de vida em centros urbanos como São Paulo só aumentam. Alunos que dependiam do pagamento das bolsas para sua organização financeira agora são desamparados pela Universidade, enquanto os privilégios e os supersalários de milhares de reais do reitor e dos empresários do Conselho Universitário seguem intocados. Além disso, a recente construção da base da Polícia Militar no campus universitário, localizada ao lado do CRUSP para perseguir e reprimir estudantes cotistas, negros e mães, como ocorreu também nesta última semana, vem para garantir o cumprimento do novo Estatuto de Confomidades da USP, herança direta da ditadura militar que Vahan pretende reeditar para aprofundar a repressão à organização dos estudantes, trabalhadores e docentes contra seu projeto elitista de universidade, aos mandos de João Doria. Sem nem dizer da nova tentativa de mais uma leva de demissões, agora aos trabalhadores terceirizados do Hospital Universitário da USP, em sua maioria mulheres negras que garantem a limpeza e o funcionamento do hospital para que atenda à população da zona oeste durante a pandemia.

Com essa pintura difícil e desesperadora, podemos nos deixar tomar pelo ceticismo e paralisia, caindo na armadilha daqueles que nos atacam: a ilusão de que diante de tantos ataques, nada podemos fazer senão sofrer em silêncio ou esperar pelas eleições de 2022. Todavia, o que sim fica marcadamente desenhado é a urgente necessidade dos estudantes se organizarem para apresentar nossa própria resposta à crise e à precarização de nossas vidas, de forma independente dos governos e das Reitorias que nos atacam. Neste sentido, motivos não faltam para que a Letras USP se organize e discuta os próximos passos para nossa adesão ao dia nacional de luta em defesa da educação pública, chamado pela UNE para o próximo dia 29 (sábado).

Na assembleia do nosso curso, discutimos a conformação de um bloco da Letras no dia 29, que contará com todas as medidas e cuidados sanitários, e também o conteúdo da faixa que nosso curso levará no ato. A proposta inicial apresentada pela gestão Balalaica era de uma faixa com os dizeres “Letras USP em defesa da educação pública e da vida! Fora Bolsonaro”. Neste ponto, nós, da juventude Faísca, partimos da importância da nossa unificação com a luta das federais, tema que perpassou todo o debate da assembleia, para contribuir com uma proposta de consigna que contemplasse a necessidade de identificarmos claramente quem são os inimigos da nossa mobilização. Para nós, a luta contra o desmonte e a precarização da educação pública não pode ser levada até o final se não se dirigir também contra todos os atores deste regime político podre, que hoje apostam suas fichas num candidato viável para tirar Bolsonaro do poder, mas foram os responsáveis por elegê-lo logo após o golpe institucional de 2016 (apoiado, infelizmente, por setores da própria esquerda como o PSTU, organização dos companheiros que hoje são parte da gestão Balalaica). Foi com base nestas ideias que propusemos uma consigna que expressasse este conteúdo, afinal, como lutar contra Bolsonaro e tudo o que ele representa apoiando-se nos mesmos setores de direita que o colocaram no poder, que aprovam cada um dos ataques que nos afetam, e que, no caso de um impeachment, serão parte de governar junto de Mourão, os militares e toda corja racista que justifica barbáries como a de Jacarezinho? Após uma rodada de falas, foi aprovada por consenso a consigna “Letras USP em defesa da educação pública e da vida! Fora Bolsonaro e Mourão”.

Outro tema que permeou várias das falas dos que estavam presentes na assembleia foi o histórico de luta do movimento estudantil nacional que foi o primeiro setor do país a se levantar contra o bolsonarismo e sua tentativa de avançar na privatização do ensino público com o Future-se, em 2019. Naquele momento, estudantes do ensino superior e secundaristas do Brasil inteiro foram uma verdadeira pedra no caminho dos projetos de Bolsonaro, Weintraub e dos golpistas, num levante que tomou as ruas e ficou conhecido como Tsunami da Educação. Essa memória recente é um enorme ponto de apoio para retomar também hoje nossa mobilização, e poderia ter ido muito além se não fossem os esforços conscientes das direções do PT e PCdoB, à frente da UNE, do nosso Diretório Central dos Estudantes na USP (DCE Livre Alexandre Vannucchi Leme) e de grandes centrais como a CUT e CTB, para separar a luta dos estudantes contra os ataques à educação em 2019 e a mobilização de milhões de trabalhadores que se organizavam naquele mesmo momento contra a Reforma da Previdência. Também hoje vemos algo semelhante se repetir: por que a UNE convoca os estudantes de todo país para se mobilizar no dia 29, enquanto a CUT e CTB chamam atos de trabalhadores para o dia 26? Qual é o intuito de dividir nossas forças quando mais do que nunca precisamos unificar a mobilização contra nossos inimigos em comum?

Enquanto Lula se reúne com FHC e outras figuras do centrão “progressista” (a boa e velha direita tradicional) para provar que perdoou os golpistas, não queremos nos conciliar com nossos inimigos históricos para apenas desgastar Bolsonaro até 2022. Essa estratégia não será capaz de impedir outras milhares de mortes desnecessárias, reverter as reformas que nos farão trabalhar até morrer, as privatizações, a presença dos militares no regime político, os cortes nas federais, a Lei do Teto de Gastos, ou os Parâmetros de Sustentabilidade de 2017 que congelaram por cinco anos as contratações na USP, afetando em primeiro lugar os cursos de humanidades como a Letras. Essa política não só nos enfraquece como nos impede de seguir batalhando por mais, de nos unir com as lutas dos trabalhadores que estão em curso, como mostraram os metroviários de SP nesta semana, do movimento negro contra a violência policial, e de conquistar, por exemplo, uma Assembleia Constituinte, Livre e Soberana que poderia não apenas mudar trocar os inimigos que nos atacam, mas também as regras do jogo, impondo com a força da nossa luta a revogação de todos os cortes e ataques, para que os de cima não sigam descarregando essa crise nas costas dos de baixo, dos trabalhadores e da juventude, especialmente a mais precarizada.

Inspirados nos ventos que sopram do Chile e da Colômbia, e na resistência do povo palestino, no dia 29 vamos às ruas “porque nosso governo é mais perigoso do que o vírus”. Mas para que a nossa mobilização seja realmente capaz de dar hoje um basta ao cenário de miséria, desemprego e fome que vivemos, extrapolando os limites impostos pelas direções do movimento estudantil e de trabalhadores, é urgente que todos possam ser parte ativa de contribuir com opiniões, críticas e propostas para a organização do calendário e dos próximos passos dessa luta.

É por isso também que propusemos, na última assembleia da Letras, que o CAELL se some na exigência a que a UNE organize milhares de assembleias em cada universidade e instituto federais, garantindo, diferente do que vem ocorrendo, voz e voto a todes estudantes, e não somente lives nas quais apenas a burocracia estudantil fala. Esta medida foi aprovada pelos presentes na assembleia do nosso curso, e será apresentada na Assembleia Geral dos Estudantes da USP na próxima quarta-feira (dia 26, às 17h30), a primeira convocada em um ano e meio pela gestão Nossa Voz do DCE (composta pelo PT, PCdoB e Levante Popular da Juventude). Justamente pelo longo período sem espaços reais e democráticos de discussão e deliberação estudantil, e pela gravidade do cenário de ataques que enfrentamos dentro e fora da Universidade, é igualmente decisivo que o nosso DCE, como entidade representativa de todes estudantes, mobilize cada um dos cursos dos diversos campus para que a Assembleia Geral seja verdadeiramente representativa e construída desde a base, organizando um forte bloco unitário dos estudantes da USP no dia 29. Este é um passo fundamental para unificar a força das estaduais como a USP com os estudantes das federais, preparando os atos do próximo sábado não como um dia isolado, mas como início de um plano de luta para golpear e fazer tremer Bolsonaro, os militares, a extrema direita e todos os golpistas. Estendemos esse chamado ao PSOL, PSTU, PCB, UP e todas as organizações que fazem parte da Oposição de Esquerda à UNE, que podem hoje dar um importante exemplo contra a política burocrática da direção majoritária, construindo assembleias democráticas em cada Centro Acadêmico e DCE que dirigem no país (como na UFRJ, UFMG, UFRGS e USP).

Foi justamente com esse espírito que buscamos intervir na assembleia da Letras, e nos diversos cursos em que estamos na USP, como as Ciências Sociais, Pedagogia e História. Mas a batalha por estas ideias também damos de norte a sul do país, em cada curso e universidade estadual e federal em que a juventude Faísca atua, contribuindo para fortalecer um movimento estudantil que volte a se colocar na linha de frente de transformar nossa dor e ódio em luta e organização.




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