×

Reforma da previdência | Líderes sindicais ameaçam greve nacional. A "batalha pelas pensões" está se aprofundando na França?

A ameaça da Intersindical francesa de bloquear o país em 7 de março gerou uma onda de entusiasmo entre muitos trabalhadores. De baixo, a necessidade de “radicalizar o combate” está clara há uma semana. No entanto, essa convocação de greve de 24 horas ainda está longe de constituir a perspectiva de uma greve ampla e indefinida, essencial para derrubar a reforma da Previdência.

quarta-feira 15 de fevereiro de 2023 | 14:57

O último sábado, 11 de fevereiro, marcou uma virada no conflito pela reforma da previdência. Os dirigentes sindicais, em conferência de imprensa, ameaçaram “convocar os trabalhadores, trabalhadoras, jovens e aposentados para aprofundar a luta parando toda a França dia 7 de março” se o governo e os deputados se recusarem a ouvir “o protesto popular”.

“Parar a França”: uma mudança de tom diante da rigidez do governo

Até agora, a Intersindical recusou qualquer apelo à “radicalização” do movimento, rejeitando qualquer ideia de “bloqueio”. No dia 8 de fevereiro, Laurent Berger (dirigente da CFDT, central sindical que domina a Intersindical), explicou em um programa de TV: “Não acreditamos que o bloqueio seja a solução”. Uma posição que encontrou amplo consenso na Intersindical, agrupada em torno de uma estratégia de pressão, baseada em dias isolados onde a massificação contaria mais do que parar efetivamente a economia. Uma lógica que resultou em uma erosão progressiva do índice de grevistas ao longo dos três primeiros dias de mobilização.

O discurso da Intersindical mudou nos últimos dias diante da rigidez do governo, que não cede migalhas em relação ao seu projeto de reforma, enquanto se multiplicam os apelos da base para radicalizar o movimento. Em reportagem feita em Marselha, a rede Mediapart destacou: "Em nome da CGT e da Force Ouvrière (FO), os representantes sindicais já transmitiram à sua direção a perspectiva de grande parte dos trabalhadores: Se é preciso perder salário, é melhor planejar uma paralisação”. Isso se tornou o debate central em cada reunião, assembleia geral, cada balanço de manifestação. Uma perspectiva que também é transmitida por vários filiados do CFDT entrevistados nas manifestações.

Esses elementos explicam a mudança de tom da intersindical, que enfrenta os limites de uma estratégia baseada na convocação de múltiplas manifestações pacíficas de massas, das quais a manifestação de 11 de fevereiro, um sábado sem greve, tem sido o mais claro exemplo. Porém, se o tom mudou, a estratégia por enquanto continua sendo a lógica da pressão.

Parar o país de verdade?

Se o apelo a “parar a França” está longe de ser banal, há que ter em conta que por hora só se trata apenas de uma nova greve de 24 horas e de uma ameaça. Como Leaurent Berger explicou no sábado: "Não defendemos a ideia de uma greve indefinida (...) não estamos convocando uma greve geral." Uma ideia que voltou a confirmar no domingo na rádio RTL: "Decidimos chamar o dia 7, mais nada (...) entre 12 de fevereiro e 7 de março temos muito tempo para discutir."

Sobre a questão da greve indefinida, o tom muda em outras centrais sindicais que geralmente tendem a ignorá-la. Em nome da CGT, Philippe Martinez afirmou no sábado, dia 8 de fevereiro, ser a favor das greves indefinidas, afirmando que: “não se decide ao nível das confederações sindicais, mas sim em cada local de trabalho”. Algo semelhante defende a direção da FO que dizia: “no dia 7 de março à noite, nos diversos setores ou sindicatos, haverá assembleias gerais e eles decidirão o que querem fazer”.

Portanto, a Intersindical ainda está longe de pensar seriamente na perspectiva de uma greve indefinida que mobilize toda a classe trabalhadora, e muito menos busca colocar todas as suas forças na construção dessa perspectiva. Eles continuam confiando que até 7 de março há a possibilidade de uma mudança de opinião do executivo ou do parlamento. Por isso, apela-se à “discussão do artigo 7.º” (o artigo 7.º do projeto é o que aumenta a idade de reforma) na Assembleia Nacional, condenando qualquer obstrução parlamentar. Uma política que se baseia na esperança de que a direita derrote Macron, e que repasse a derrota da reforma pelo Parlamento.

No entanto, o fato de ter mencionado a questão do bloqueio da economia já gerou grande entusiasmo em parte das bases, que interpretaram essas declarações como a promessa de uma greve indefinida. O desafio é, portanto, como aproveitar esse espírito para definir uma perspectiva que vá além dos objetivos das direções sindicais.

Preparar a greve indefinida desde a base se apoiando nas convocatórias setoriais

Ao contrário dos dirigentes sindicais, alguns setores começaram a se pronunciar explicitamente a favor da greve indefinida. É o caso da CGT Ferroviários e do sindicato Sud Rail na SNCF (empresa pública ferroviária), mas também da RATP Intersindical (empresa de transporte parisiense) que anunciou na semana passada o apelo a uma greve indefinida a partir de 7 de março. Uma perspectiva que o sindicato Solidaires defende a nível confederal.

Essas chamadas funcionam como pontos de apoio para começar a trabalhar nessa direção. Ao mesmo tempo, é claro que a mobilização dependerá de amplos setores que se comprometam seriamente com essa perspectiva. Em inúmeros setores operários, a rejeição às greves isoladas ainda permanece forte, depois das experiências de 2019 e 2010 em que os sindicalistas não levaram as lutas além de uma estratégia de pressionar para negociar.

Nesse sentido, é fundamental realizar uma política ativa para permitir a organização de uma greve ampla e indefinida a partir de 7 de março. Isso significa organizar todos os locais de trabalho desde a base, convocar Assembleias Gerais que reúnam sindicalistas e não sindicalizados para usar as próximas três semanas para defender a greve na empresa e também no setor como um todo: subcontratados, empresas vizinhas... Um trabalho que deveria permitir o desenvolvimento de Assembleias Gerais interprofissionais que atualmente infelizmente não existem.

Por outro lado, um trabalho como esse implica ir além das palavras de ordem impostas pela Intersindical, que tentam se manter no terreno estritamente reivindicativo. A retirada da reforma por si só não seria suficiente para envolver toda a nossa classe, inclusive os que já sofrem com miseráveis ​​aposentadorias, em uma dura e custosa batalha. Nesse sentido, é urgente estabelecer um programa de reivindicações que vincule a retirada da reforma à obtenção da aposentadoria aos 60 anos para todos (e aos 55 para trabalhos insalubres), ao aumento dos salários e sua indexação à inflação, mas também a medidas para reduzir o tempo de trabalho, partilhando-o entre todos.

Leia mais: Potencialidades e problemas estratégicos do levantamento da classe trabalhadora na França




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias