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Lutar para revogar o Novo Ensino Médio machista!

Todos, familiares, funcionários, corpo docente e alunos, percebemos na prática hoje o brutal aprofundamento da precarização da escola pública que já sabíamos que ocorreria desde que o projeto da reforma se tornou público. E tal precarização é ainda mais profunda para as meninas e mulheres das comunidades escolares.

terça-feira 7 de março de 2023 | Edição do dia

Foto: divulgação

No começo deste ano, sentimos a efetivação do Novo Ensino Médio trazido pela reforma aprovada em 2016 pelo governo golpista de Temer e implementada pioneiramente pelo governo paulista sainte, de João Doria e Rodrigo Garcia, e pelo entrante de Tarcísio de Freitas, do Republicanos (Partido da Igreja Universal) e aliado de Bolsonaro. Todos, familiares, funcionários, corpo docente e alunos, percebemos na prática hoje o brutal aprofundamento da precarização da escola pública que já sabíamos que ocorreria desde que o projeto da reforma se tornou público. E tal precarização é ainda mais profunda para as meninas e mulheres das comunidades escolares.

Por um lado, as professoras, que são maioria no magistério, estão tendo seu trabalho esvaziado, na medida em que os itinerários, forjados para suposta liberdade de escolha para os alunos de acordo com seus interesses, na verdade retiram uma grande quantidade de aulas voltadas aos conteúdos das disciplinas fundamentais do conhecimento humano para dar lugar a estudos, em boa parte, voltados à formação de “jovens empreendedores”. Assim, passamos a ter nossa liberdade de cátedra cada vez mais atacada, uma vez que entramos em sala de aula, nessas novas disciplinas, não mais para lecionar sobre os conteúdos que temos formação e experiência, mas sim para aplicar apostilas de sequências didáticas já preparadas pelo governo. A consequência dessa sequência de absurdos não poderia ser diferente, aprofundamento da precariedade do trabalho docente, esse imenso exército de mulheres no Brasil.

Por outro lado, as alunas – e alunos também – recebem uma educação escolar mais voltada à lógica do trabalho autônomo, informal e sem estabilidade nenhuma – esse que o governo chama de “empreendedorismo” – ao invés de uma formação integral de jovens críticos e mais capacitados para se desenvolverem na educação superior e/ou em trabalhos que exigem mão de obra qualificada. E no caso específico das meninas, isso significa também ter o acesso à educação sexual ainda mais dificultado, tornando-as ainda mais vulneráveis a casos de assédio e abusos (na maioria das vezes, exercidos por membros da própria família), além de aprofundar as dificuldades de formação escolar que as suas realidades de dupla jornada já criam para muitas delas desde cedo – quando já precisam ajudar suas mães nas tarefas da casa, cuidando de irmãos e familiares idosos, quando não de seus próprios filhos.

Na esteira da reforma trabalhista – que já legalizou regimes de trabalho totalmente precarizados, uberizados e informais, na medida em que abriu as portas para a diminuição de ofertas de empregos com carteira assinada e com direitos trabalhistas – o Novo Ensino Médio é a nova preparação para essa juventude que está destinada, pelos governos capitalistas, a ter uma vida de ainda mais precarização que as gerações anteriores. Para as meninas e mulheres, que sempre estiveram nos postos de trabalho menos remunerados e, mais ainda, para as negras, que formam um exército de trabalhadoras terceirizadas e domésticas, todo esse quadro de agravamento é ainda mais profundo. Querem que nós, professoras, ensinemos nossas alunas, enquanto não têm nenhum suporte nos trabalhos e em suas casas e nem para se protegerem de abusos ou de gravidezes indesejadas, a se virarem para ganhar dinheiro, vendendo bolo ou maquiagem na internet, como muitos dos programas das disciplinas propõem literalmente. Com esse novo ensino médio querem formar meninas e jovens LGBTs cada vez mais para o trabalho precário, e num país como o Brasil, profundamente machista, sem direito ao aborto legal, seguro e gratuito, nem mesmo educação sexual nas escolas, a situação de muitas dessas meninas será de sustentar suas futuras familias e filhos, muitas vezes sozinhas, com extrema dificuldade financeira e trabalhando em empregos cada vez mais precarios e extenuantes.

Não podemos aceitar mais esse profundo ataque. O governo Lula-Alckmin já deixou claro que não revogará tal reforma, mesmo com toda a repercussão nas mídias tradicionais que o caos gerado pelo Novo Ensino Médio e a reprovação da maioria da população já estão tendo. É um governo que está atrelado aos interesses dos grandes capitalistas, nesse caso, dos que têm negócios diretos na educação, como os corruptos da Fundação Lemann (indiciados no escândalo das lojas Americanas), o Itaú e setores ligados a oligopólios estadunidenses. E por isso não podemos esperar nada deles.

Precisamos nos organizar para revogar o Novo Ensino Médio e todas as reformas – trabalhista e da previdência – pois estão todas interligadas para aprofundar a exploração da classe trabalhadora de conjunto, sendo a sua parcela feminina e negra a que sempre mais é atingida pelos elementos que apontamos, e também assim a opressão às mulheres de conjunto; e lutarmos também pela efetivação de todas as trabalhadoras precarizadas e terceirizadas, que na escola hoje já estão presentes: são mais da metade das professoras no estado de São Paulo (as “categoria O”) e em todos os estados, são as funcionárias da limpeza, da merenda, e da gestão escolar, e querem que sejam nossas alunas, mais vulneráveis a abusos, mães solo desde cedo e novas trabalhadoras precarizadas. Não podemos deixar. Os sindicatos, como a Apeoesp, devem romper seus laços com os governos estaduais e federal e mobilizar as categorias, junto às comunidades escolares, para lutarmos por uma educação a serviço das filhas e filhos da classe trabalhadora.

Nesse 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres, precisamos lutar também contra a reforma do ensino médio machista, que ataca estudantes, professoras e famílias trabalhadoras!




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