×

Povos originários | Mortes de indígenas no Maranhão: é preciso lutar junto aos povos indígenas contra o genocídio

Ontem, terça-feira 31 de janeiro, mais um brutal assassinato ligado a violência contra os povos originários ocorreu no estado do Maranhão.

Cristina SantosRecife | @crisantosss

quinta-feira 2 de fevereiro de 2023 | 14:18

Fonte: Apib

Raimundo Ribeiro da Silva estava voltando para a cidade de Arame, há 475 km da capital São Luís, quando foi surpreendido por atiradores. Atingido por 7 disparos, faleceu no local. Raimundo era técnico da Funasa e trabalhava na instituição mais de 30 anos, casado com Marta Guajajara, liderança indígena muito reconhecida na região, Raimundo estava no carro com outras duas pessoas, ambos indígenas, que conseguiram fugir dos assassinos. Somente em 2023 - ou seja, apenas no intervalo de 1 mês - já foram 3 assassinatos relacionados à violência contra os Povos Indígenas no estado do Maranhão. Segundo reportagem veiculada pela Globo News, houveram também outras 2 tentativas de assassinato.

Estamos assistindo uma verdadeira comoção nacional pelo nível de violência na qual se encontram os povos Yanomamis no norte do país. Esse cenário, que a mídia burguesa noticia como se fosse alguma novidade, nós viemos denunciando no Esquerda Diário há bastante tempo. Colocamos isso pois viemos de anos do regime degradado do Golpe Institucional de 2016, que significaram retrocessos na vida da classe trabalhadora de conjunto e dos povos indígenas em particular. O mesmo golpe que abriu espaço pra Bolsonaro que junto aos militares e atendendo aos interesses do garimpo ilegal e agronegócio atacou e assassinou povos indígenas. Não por que os governos anteriores não tivessem nos atacado, afinal, foram os governos do PT que fortaleceram as posições destes setores no congresso nacional, mas porque o Golpe foi extremamente beneficioso para os setores do agronegócio, inimigos históricos dos direitos dos povos originários. As alterações da reforma da previdência incidem de forma ainda mais dura nos trabalhadores rurais, que significa na realidade, degradação das suas condições de vida, aumentando os lucros dos empresários do setor, que sabemos que junto com o varejo, representam os principais financiadores do bolsonarismo.

Pode te interessar: Uma ponte para o atraso: o ataque de Bolsonaro aos Yanomamis

Por essa razão, os povos indígenas marcaram uma das principais oposições aos avanços do golpismo, tendo ocorrido diversas manifestações em defesa de seus territórios e seus direitos. É inclusive simbólico pensar, que quando diversas organizações do campo da esquerda se juntavam com figuras reacionárias como Kim Kataguiri e Joice Hasselmann em defesa de um pedido de impeachment de Bolsonaro por fora de qualquer mobilização da classe trabalhadora e dos movimentos sociais e que somente colocaria outro reacionário como o general Mourão no poder, ao mesmo tempo que milhares de povos originários se manifestaram há apenas alguns metros do mesmo local e eram reprimidos pela polícia do governo de Ibaneis Rocha no Distrito Federal. Aí já era evidente que a luta por direitos elementares dos povos indígenas vai em sentido contrário da confiança nas instituições do mesmo regime que vem dando seu aval, há anos, a ataques brutais contra estes mesmos direitos.

As direções das nossas entidades - sindicais, estudantis, movimentos sociais - precisam romper com a subordinação ao governo de frente ampla de Lula-Alckmin, que traz como aliados setores que historicamente são inimigos da classe trabalhadora e dos setores oprimidos como os povos originários, o povo negro, as mulheres e LGBTQIAP+. A defesa destes direitos não virá de mãos dadas com figuras como Simone Tebet, representante do agronegócio, Geraldo Alckmin, responsável pelo massacre do Pinheirinho em São Paulo - repressão em uma reintegração de posse que deixou milhares de famílias na rua - ou Daniela do Waguinho, ministra de Lula vinculada à milícia no Rio de Janeiro. Será preciso construir uma força independente do governo eleito, que se coloque como oposição a esses setores.

Para isso, será necessário recuperar nossas entidades como ferramenta de luta - e não âncora do governo eleito para controle e desvio delas - construindo em cada fábrica, empresa, cada local de trabalho, cada escola, cada universidade, um plano de lutas com mobilizações, cortes de ruas e greves, exigindo que seja levantado a defesa dos povos originários, demarcação imediata de todos os territórios demandados pelos indígenas, construindo um plano de auto-defesa contra as bandas reacionárias da extrema direita vinculadas ao agronegócio e garimpo e também do próprio estado, pois o exército e as polícias vieram todo esse tempo atuando com os bandos criminosos, contra os povos originários, como bem ficou marcado no absurdo assassinato de Dom e Bruno em 2022; e na própria responsabilidade de Mourão que estava sob o comando do Conselho Nacional da Amazônia Legal enquanto uma verdadeira invasão garimpeira atingia populações como os Yanomamis, que hoje se encontram nesta tremenda crise humanitária.

A burguesia não tem interesse em defender mulheres, negros, povos originários, LGBTQIAP+. As opressões representam lucros extraordinários para a burguesia. Vemos isso na diferença salarial entre homens e mulheres, vemos no exército de mulheres negras obrigadas a trabalho precário e terceirizado com poucos ou nenhum direitos, vemos isso no genocídio contra os povos originários no nosso país em benefício do agronegócio e do garimpo, vemos na expectativa de vida das mulheres trans de apenas 35 anos e em jovens LGBTQIAP+ sendo mão de obra barata para empresas de telemarketing e fastfood.

É preciso batalhar por uma força que se oponha como classe aos interesses da burguesia. Como socialistas que batalham pela construção do comunismo, entendemos que só a luta independente da classe trabalhadora e setores oprimidos contra a burguesia e seus aliados é o que poderá responder aos nossos anseios.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias