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Nem de esquerda, nem de direita: de baixo? Um debate sobre auto-organização e revolução

Odete Assis

Mariana Duarte

Nem de esquerda, nem de direita: de baixo? Um debate sobre auto-organização e revolução

Odete Assis

Mariana Duarte

Diante da necessidade de enfrentar o bolsonarismo e os ataques contra a classe trabalhadora e a população, grande parte da juventude vê em Lula e no PT, mesmo que criticamente, a forma de derrotar Bolsonaro. Desde o Esquerda Diário e da juventude Faísca Revolucionária, viemos debatendo principalmente com os setores mais críticos da juventude, aqueles que mesmo pretendendo votar em Lula veem com desconfiança o caminho de conciliação de classes. Nesse texto, queremos dialogar em particular com o setor da juventude e de trabalhadores, que identifica no petismo e na sua estratégia de conciliação com a direita um entrave para sua luta, mas na busca por uma saída mais radical, se separam desse projeto petista aderindo a discursos como nem de esquerda nem de direita. Buscando demonstrar como em nossa visão esse posicionamento termina por aceitar o choque promovido pela ideologia dominante entre a periferia e a construção de uma alternativa de esquerda que aponte a superação desse sistema capitalista.

Esse foi um debate presente na entrevista com Thiago Torres, o Chavoso da USP, feita por Diana Assunção no programa Esquerda em Debate e acreditamos que muitos dos argumentos utilizados pelo companheiro são compartilhados por alguns jovens e trabalhadores que atuam conosco nas universidades, nos locais de trabalho e nas lutas, buscando uma saída mais radical nesse momento e por isso nos propomos seguir essa discussão aberta no programa, aprofundando em alguns temas. Como expressamos nas aulas do curso Uma visão marxista do Brasil, o PT nasce como produto do desvio do ascenso da classe operária contra a ditadura, passando por transformações ao longo da sua própria história quanto ao nível de integração ao sistema capitalista, chegando a gerir o Estado brasileiro por 13 anos. Essa origem ligada ao ascenso operário sempre foi a base para que amplos setores de massas associassem esse partido com a tradição da esquerda em nosso país, mas em nossa visão trata-se de um partido que foi se consolidando como um partido operário-burguês .

Para esse setor que vê mais criticamente esse partido, um primeiro aspecto se desenvolve a partir de um forte questionamento da aliança de Lula com Alckmin, e do papel que esse partido, pela via dos sindicatos e entidades que dirige, cumpriu durante as manifestações contra Bolsonaro. O que se intensifica com o papel que diversos setores da esquerda organizada tem cumprido neste momento, ao servir como disseminadores de ilusões em saídas conciliatórias, como temos visto em especial pela maioria do PSOL, que neste ano não somente declarou apoio a chapa Lula-Alckmin desde o primeiro turno, como assinou uma federação com o partido eco capitalista REDE, demonstrando sua inteira disposição em seguir o mesmo caminho de subordinação a interesses antagônicos aos da classe trabalhadora e da juventude que o PT ao longo de anos já demonstrou que somente serve para fortalecer o crescimento da extrema direita, e não o contrário.

Compartilhamos muitas críticas a este projeto petista, o que para nós num momento como este é parte de um debate programático e estratégico necessário para fazer avançar uma alternativa verdadeiramente revolucionária que se enfrente com os capitalistas e possa apresentar uma saída para que sejam eles os que paguem pela crise. No entanto, queremos debater como a conclusão de se colocar como nem de direita nem de esquerda acaba entregando para o PT, que nós sabemos ser uma falsa esquerda, o lugar da esquerda.

É preciso combater o choque promovido pela ideologia dominante entre a esquerda e os de baixo

Como Diana Assunção colocou na entrevista, a origem do termo esquerda e direita surgiu na Revolução Francesa que começou em 1789, onde os girondinos, os políticos que defendiam mais abertamente as opiniões das classes dominantes em ascensão, ocupavam o lado direito da Assembleia Nacional Constituinte, enquanto os jacobinos, os mais radicais e mais preocupados justamente com as reivindicações dos setores explorados e oprimidos, que cumpriam um papel central na revolução, ocupavam o lado esquerdo. Passando dessa forma a associar essa ideia de esquerda e direita com os posicionamentos políticos das organizações, sendo a direita aquela que está intimamente ligada com a ideologia e preservação dos interesses das classes dominantes, e a esquerda ligada com a classe trabalhadora, a população, e todos aqueles que são a base do sistema, ou seja, com os de baixo.

Partindo disso, é importante vermos como segue sendo até os dias de hoje parte de uma operação ideológica da burguesia separar os setores mais precarizados da classe trabalhadora das ideias da esquerda, se utilizando de todo tipo de figuras políticas que se colocam como parte da classe trabalhadora mas defendem as ideias da classe dominante.

No Brasil atual, ao contrário da narrativa petista de que junho de 2013 foi o que permitiu a eclosão da direita, tese defendida por intelectuais como a professora Marilena Chauí, o que vimos foi como a revolta popular contra os ataques que vinham sendo implementados pelo governo Dilma não confluiu com uma esquerda que apontasse uma saída radical diante dessa indignação com os governos petistas. Em nossa visão as jornadas de junho marcaram um momento importante de uma etapa de crise orgânica em nosso país, ou seja, um momento no qual as velhas formas de dominação de classe estavam bastante questionadas, mas ainda não existia uma força capaz de substituir essa hegemonia dominante por um outro projeto. É nesse marco que a atuação do PT foi fundamental para dar sustentação ao regime capitalista, papel que esse partido já cumpriu em muitos momentos desde a sua fundação.

Naquele momento a opção do PT foi se aliar com outros setores da burguesia para reprimir as manifestações, sendo um exemplo marcante a aliança entre Dilma, Haddad e Geraldo Alckmin, naquela época governador de São Paulo e uma figura histórica da direita neoliberal brasileira, para reprimir as manifestações. Ao mesmo tempo que seu governo reprimia as manifestações, as burocracias do PT no movimento sindical e estudantil atuavam para separar as lutas, buscando conter a raiva popular diante dos gastos exorbitantes na construção de estádios para a Copa, enquanto a saúde, a educação, o transporte e tantas demandas básicas seguiam precarizadas. Nas ruas também se escutava um grito muito forte de “Cadê o Amarildo?”, simbolizando a luta contra a violência policial que assola em particular a população das periferias brasileiras.

Esse acontecimento marcou uma inflexão na política brasileira, abrindo um forte questionamento anti sistema, no entanto, a falta de uma alternativa que combatesse a divisão promovida pelas burocracias traidoras fez com que a crise de representatividade não pudesse encontrar uma saída anticapitalista e revolucionária. Mesmo após uma intensa onda de greves operárias em 2014, das ocupações secundaristas que derrotaram a reorganização escolar de Alckmin, e das diversas lutas que surgem questionando a opressão de gênero, o racismo e a LGBTfobia, o que vimos foi a direita também se sentir à vontade para tomar as ruas, buscando canalizar a raiva da população no combate a corrupção, algo que é inerente a esse sistema capitalista, radicalizando seu discurso com movimentos como o MBL e articulando o golpe institucional de 2016.

Essa era uma operação ideológica em dois âmbitos, ao mesmo tempo que os setores mais reacionários da sociedade, depois de anos de política de conciliação de classes petista se sentiram à vontade para avançar contra nossos direitos num ritmo ainda mais acelerado que o PT vinha fazendo, ideologicamente a burguesia buscava associar todas as mazelas que a população estava sofrendo com esse governo, como se não fosse também uma consequência da crise capitalista, mas sim de uma forma de administrar esse sistema. Tudo isso se dava ao mesmo tempo que também buscava associar esse partido e seus 13 anos de governo com o projeto da esquerda. Essa forma de ideologicamente colocar a população contra a esquerda também vinha acompanhada de anos de política e ideologia neoliberal, que conscientemente aprofundou a precarização do trabalho, que no Brasil carrega os traços do passado colonial e escravista, um legado que o PT também não combateu, pois foi parte de triplicar a terceirização e aumentar a repressão, mandando as tropas brasileiras para o Haiti e militarizou as favelas.

Diante da experiência de 3 anos de governo Bolsonaro, dos impactos das odiosas reformas da previdência, trabalhista e do ensino médio, da uberização do trabalho, do teto de gastos, e das consequências da pandemia na vida da população, grande parte da esquerda agora coloca como sua principal batalha a defesa de Lula e do PT, como se essa fosse a alternativa para enfrentar o bolsonarismo. Essa concepção se expressou na sequência de manifestações que se desenvolveram ao longo de 2021, que tinham como principal objetivo fazer com que Lula e o PT pudessem capitalizar eleitoralmente as crises que se abriam no governo Bolsonaro, por fora de uma estratégia, que envolveria se utilizar dos nossos métodos, da luta de classes, para de fato derrubá-lo e impor uma saída pela via da luta para os trabalhadores e da população pobre.

Hoje, vemos os efeitos dessa política, seja como fazem setores majoritários do PSOL ao reivindicar o projeto de Lula de administrar o capitalismo em aliança com a direita, como parte da construção de uma alternativa de esquerda, ou como fazem os estalinistas da UP e PCB que apesar de terem suas próprias candidaturas, já declararam inúmeras vezes que uma frente compostas pelos seus partidos, o PSOL, PT e PCdoB seria a verdadeira frente de esquerda em nosso país. Um dos muitos exemplos de como a independência desses partidos da política de conciliação que o PT representa é muito mais conjuntural do que de fato uma diferença estratégica, conforme debatemos aqui e aqui e tem se expressado cabalmente com a política que está levando a frente a UP nas eleições para o sindicato dos metroviários em SP, em que estão junto com a chapa da burocracia sindical do PT, PCdoB e PSB, partido de Geraldo Alckmin.

Nós do MRT, que estivemos na linha de frente do combate ao golpe institucional com independência do PT, e na luta contra o bolsonarismo chegamos a ter mais de 7 milhões de acessos em nosso portal Esquerda Diário, batalhamos todos os dias em cada local de trabalho e estudo para construir uma alternativa que enfrente o bolsonarismo, a direita e o conjunto dos ataques e reformas na luta de classes, e por isso também não aceitamos que se identifique quem quer administrar esse sistema apodrecido com o projeto da esquerda. Mas divergimos quando a conclusão diante dessa questão é abrir mão de dar um combate por qual seria de fato o projeto da esquerda. Isso porque não se trata meramente de um debate sobre o uso de determinada palavra para dialogar, e sim de ter clareza de qual programa e estratégia vamos adotar para poder apontar um caminho de transformação radical desse sistema, um caminho revolucionário. Em nossa visão essa diferença não está somente em como falar que não é nem de esquerda nem de direita é aceitar o choque da burguesia contra um programa revolucionário e radical que questiona esse sistema, mas também aponta uma diferença estratégica sobre a forma de chegar a construção de uma outra sociedade, da qual Chavoso e outros setores não organizados, mas que também veem criticamente o papel do PT dizem ter acordo, já que também se reinvindicam marxistas e revolucionários.

Breves considerações sobre o populismo e a classe trabalhadora

A radicalização da direita, o papel de conciliação que o PT cumpre e a diluição da esquerda institucional nessa estratégia lulista tem aprofundado o fato de que setores que contestam de forma mais radical esse sistema, desde o ponto de vista dos mais explorados e oprimidos, acabam se aproximando de uma estratégia populista para levar adiante suas demandas. Inclusive o populismo atualmente tem muitas formas. Tradicionalmente a discussão sobre populismo no Brasil tem sido usada pela burguesia de um modo diferente da tradição marxista revolucionária. Para a burguesia brasileira o termo é utilizado para identificar determinadas lideranças políticas que buscam se relacionar mais diretamente com as massas, como forma de distorcer o papel protagonista dos setores populares em determinados processos.

Na tradição marxista revolucionária, o termo populismo surge para identificar nos fins do século XIX, um movimento de caráter subversivo, mas baseado no terrorismo contra o czarismo russo, que não conhecia ou não aceitava o marxismo como teoria e nem a classe operária como classe revolucionária de vanguarda. Ao longo do século XX, o populismo foi mostrando como não era apenas um fenômeno russo, mas um movimento que perpassa diversos países, com seus aspectos e características particulares em cada local. Nesse momento o populismo aparecia muito fortemente como uma ideia de que era possível evitar o avanço do desenvolvimento capitalista, que mantinha como eixo fundamental uma forma de resistência cujo caráter predominante se liga a um desejo individual de se opor ao desenvolvimento do capitalismo.

Atualmente, podemos dizer que existem várias formas de populismo. Desde aquelas abertamente ligadas com a ideologia capitalista, fomentando ideias de ascensão por dentro desse sistema, como o empreendedorismo e a ocupação de espaços de poder por parte de algumas figuras dos setores mais explorados e oprimidos, sempre desde uma perspectiva de ascensão individual, buscando desviar qualquer questionamento das bases mais profundas desse sistema, até aquelas mais difusas que chegam a aparecer mescladas com conceitos do marxismo revolucionário. O fato é que, com o desenvolvimento do sistema capitalista se impondo majoritariamente em diversos países e territórios, o populismo se expressa, numa certa tendência de embelezar ou romantizar formações sociais pré-capitalistas que ainda existem em nossa sociedade, o que também se dá quanto ao papel dos países da periferia do sistema capitalista, por fora do eixo EUA-Europa.

Essa perspectiva foi aumentando sua influência dentro da classe operária, das suas organizações políticas e da vanguarda revolucionária, inclusive com os impactos da Revolução Chinesa e as discussões do maoísmo contra o stalinismo que foi implementado na URSS. Até chegar nos dias atuais, onde também encontramos formas como as teorizadas por Chantal Mouffe e Ernesto Laclau, que forneceram as bases do que podemos definir como um "momento populista" na esquerda internacionalmente. São muitas as formas do populismo hoje, que se constitui como uma ideologia difusa que influencia inclusive outras correntes, mas um aspecto central dessa ideologia é diluir o papel central da classe trabalhadora como produtora que move as engrenagens da produção capitalista, no povo pobre em geral. Mas esses debates, apesar de muito interessantes e fundamentais, extrapolam os objetivos iniciais deste artigo.

Se fizemos essa breve explicação sobre a acepção do termo populismo, é justamente porque queremos mostrar como a opção de não se nomear como nem esquerda nem de direita de fundo deixa de dar um combate fundamental para que as lutas da classe operária e da população possam ser vitoriosas. E nesse sentido, em particular nessa entrevista com Chavoso, se revela um aspecto do populismo na sua versão mais radical e de esquerda, que é uma visão um pouco idealizada sobre ir ao povo, ouvir e aprender com as massas, partindo é claro de que esse aspecto é fundamental para a política dos revolucionários, mas que somente ele não basta para preparar os grandes desafios de levar a frente uma revolução capaz de se enfrentar com todas as armadilhas que os capitalistas vão colocar para impedir a organização da nossa classe. Nesse sentido, como Lênin colocou em seu livro “Que fazer?”, as condições objetivas podem e quase sempre levam a que setores da população tendam para uma perspectiva revolucionária, esse é um ponto de acordo que temos. Nossa diferença é que isso não é suficiente por si só, sendo necessário o papel da organização consciente, preparada com a teoria, o programa e a estratégia para que esses elementos espontâneos, surgidos a partir dos sofrimentos das massas e das condições objetivas, possam a partir de confluir com um setor organizado e preparado previamente com as experiências teoria e a prática revolucionária - o que em nossa visão significa construir um partido revolucionário da classe trabalhadora - permita uma fusão na luta de classes que de fato leve a uma saída de superação desse sistema capitalista com uma revolução operária e socialista, tendo como seus grandes aliados as massas pobres e oprimidas do campo e da cidade.

Sabemos que nas ocupações, nas moradias populares e nas comunidades podem se criar inúmeros laços de solidariedade que são claramente uma contrapressão a ideologia burguesa, isso fica ainda mais evidente quando temos processos de luta de classes. Esse foi um interesse debate que se desenvolveu na entrevista com Irene Maestro Guimarães também no Esquerda em Debate, cujo centro está em como potencializar o papel dessas pessoas como sujeitos de transformar a realidade, como podemos organizar melhor essa força social para enfrentar os patrões e os políticos burgueses. E para isso, reconhecer seu papel como parte da classe trabalhadora, com um programa, política e ideologia bem definidas é fundamental.

A pressão da ideologia burguesa, mesmo quando os trabalhadores sofrem na pele a precarização do trabalho, o racismo, o machismo e a lgbtfobia pode fazer com que eles reproduzam esses mesmos preconceitos, inclusive aceitando a ideologia dominante que trata um trabalhador uberizado como empreendedor. É nesse sentido que os discursos populistas de que hoje o principal problema da esquerda se concentra somente em não buscar se conectar como povo, em não estar na periferia ou de não ter como parte dos seus membros organizados os setores mais precarizados da nossa classe, termina por localizar o combate de forma muito parcial, subestimando o peso de algumas batalhas que precisam ser dadas contra a ideologia dominante que busca nos dividir.

Auto-organização e hegemonia operária

No Brasil, após o fim da escravidão a incorporação das massas negras no mercado de trabalho assalariado se deu com aquilo que Marx chama de “trabalho barato”, ou seja, como era muito perigoso transformar milhares de negros anteriormente escravizados em trabalhadores assalariados, a burguesia nascente, herdeira dos grandes latifundiários, buscou por distintas vias que esses setores fossem marginalizados e precarizados dentro da própria classe. Colocar o povo negro ocupando os piores postos de trabalho com os salários menores e praticamente sem direitos era também a via da burguesia rebaixar o conjunto do salário da classe trabalhadora brasileira, ao mesmo tempo que mantinha uma massa de trabalhadores desempregados, como mão de obra reserva, destinada a cumprir funções informais e sem acesso a direitos básicos como saúde, educação, transporte, moradia, entre outros. Essa característica estrutural do capitalismo brasileiro é algo que podemos verificar até hoje, em particular nas periferias do país e foi intensificada com o neoliberalismo.

Essa condição da formação da classe trabalhadora em nosso país, faz também com que os setores mais sindicalizados e organizados dos trabalhadores sejam justamente aqueles que ocupam postos de trabalho formais, e mesmo sendo uma classe trabalhadora majoritariamente negra e feminina, essa divisão imposta pela burguesia se expressa em como esses setores são minoritários em nossas organizações de classe. Contra essa política da classe dominante, nós marxistas revolucionários, devemos sempre batalhar para que os sindicatos e a esquerda tenham como parte da sua atuação um programa que luta pela equiparação salarial entre negros e brancos, entre homens e mulheres, e nos cargos públicos defendemos a efetivação sem concurso. Como forma de combater até o final o desemprego, defendemos a redução da jornada de trabalho e a divisão das horas entre empregados e desempregados, sem redução dos salários. Para combater a fome defendemos a expropriação das grandes indústrias alimentícias e uma reforma agrária radical, assim como uma reforma urbana que possa combater o problema da falta de moradias. Ou seja, buscamos apresentar um programa para atuarmos em comum, um programa de esquerda, para que os setores mais organizados compartilhem dessas batalhas junto aos setores mais precarizados, buscando responder às demandas do conjunto da nossa classe, em combate as burocracias que mantém a divisão da ideologia dominante dentro dos nossos sindicatos. Um combate que o populismo deixa de lado.

Um exemplo muito forte de que se ver como parte da classe trabalhadora e ter ao seu lado suas entidades está na atuação dos revolucionários pela unidade das fileiras operárias. Nas lutas dos trabalhadores buscamos atrair todos, inclusive os de direita, para defender os interesses que são comuns, fazemos isso mantendo e aprofundando essa experiência, ao mesmo tempo que combatemos abertamente a influência da direita. Em uma greve, na busca por essa unificação em torno dos interesses comuns que aparecem imediatamente, como a defesa do salário, do emprego e/ou determinadas condições de trabalho, é bem comum que se tenha trabalhadores bolsonaristas, e não ocorre a ninguém a loucura de impedir que sejam parte da luta, pelo contrário, isso enfraqueceria a luta de todos. Mas, do nosso ponto de vista, a melhor experiência para dar oportunidades de que avancem em sua consciência, sabendo que isso não acontece espontaneamente, é fazendo também a luta política contra a direita e a sua influência, chamando-a pelo nome.

Quando questionamos a estratégia de dizer que não se trata de ser nem de esquerda, nem de direita, mas defender o direito dos de baixo, é justamente porque ao fazer isso sem um combate aberto contra a influência da direita, o trabalho de ganhar esses setores para um programa que questione profundamente o sistema capitalista responsável por todas as mazelas que sofremos fica muito mais dificil.

Se temos como ponto de partida, em primeiro lugar, a impossibilidade de reformar o sistema capitalista como forma de enfrentar a situação de miséria em que se encontra a imensa maioria da população mundial, e, sendo assim, que a única saída para os trabalhadores e todos os setores oprimidos deve passar por varrer a classe burguesa e por fim a este sistema de exploração e opressão, é necessário em primeiro lugar, termos clareza do sujeito que pode levar tal objetivo a frente. É nesse sentido que para nós a auto-organização dos trabalhadores pela via de seus próprios organismos, cumpre um papel fundamental para levar a frente esta tarefa estratégica. Esse aspecto, desde o início desenvolvido por Marx e Lenin, tem como centro o papel que milhões de homens e mulheres pelo mundo desenvolvem na produção e reprodução da vida. Ou seja, aqueles que detém o mundo em suas mãos têm o poder de atacar no cerne o lucro dos capitalistas e, a partir disso, ameaçar sua dominação. Essa foi a tarefa levada a frente por Lenin na direção do partido Bolchevique que deu cabo a maior revolução da história, a Revolução Russa. Num país cuja maioria da população era camponesa, a classe trabalhadora, com seu programa, seus métodos e sua organização junto a um partido revolucionário foi capaz de dirigir o conjunto das massas oprimidas a vitória. E é nesse sentido também que a teoria revolucionária serve como uma guia de ação para a nossa prática, nos servindo das lições do passado para pensar os desafios do presente e do futuro.


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Odete Assis

Mestranda em Literatura Brasileira na UFMG

Mariana Duarte

Estudante | Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
Estudante | Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
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