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SEMANÁRIO

O castigo psíquico da juventude e a construção de um novo mundo sobre as ruínas do capitalismo

Ítalo Gimenes

Éri Mahin

O castigo psíquico da juventude e a construção de um novo mundo sobre as ruínas do capitalismo

Ítalo Gimenes

Éri Mahin

O capitalismo hoje mostra sua face mais podre em meio a uma crise brutal agravada pela pandemia do Covid-19. O Brasil da extrema-direita de Bolsonaro e Mourão, das 600 mil mortes, da fome, e do desemprego, junto às queimadas na Amazônia e Cerrado, nos mostra até onde os capitalistas estão dispostos a nos levar para salvar seus lucros da crise que eles criaram. Um punhado de parasitas aumentam suas fortunas, brincam de viagem espacial, enquanto a juventude é condenada a viver confinada à rotina de carregar bags pesadas, de assédio no telemarketing, ou do desemprego desesperador.

O capitalismo hoje mostra sua face mais podre em meio a uma crise brutal agravada pela pandemia do Covid-19. O Brasil da extrema-direita de Bolsonaro e Mourão, das 600 mil mortes, da fome, e do desemprego, junto às queimadas na Amazônia e Cerrado, nos mostra até onde os capitalistas estão dispostos a nos levar para salvar seus lucros da crise que eles criaram. Um punhado de parasitas aumentam suas fortunas, brincam de viagem espacial, enquanto a juventude é condenada a viver confinada à rotina de carregar bags pesadas, de assédio no telemarketing, ou do desemprego desesperador.

Nas cúpulas da ONU, seus líderes discursam preocupados com o futuro das novas gerações, frente a uma juventude cada vez mais deprimida e ansiosa. Segundo a Unicef, 22% dos jovens brasileiros entre 19 e 24 anos se sentem deprimidos ou sem interesse, frente a uma média mundial de 19%. Os transtornos relacionados a saúde mental atingem camadas cada vez mais novas da sociedade. Não acreditamos nas intenções dos discursos desses canalhas que estão juntos aos capitalistas responsáveis pela tragédia que vivemos.

Transformaram o planeta em uma “suja prisão” para a ampla maioria, como dizia Trotski, fonte de todo tipo de transtorno de saúde mental que as novas gerações são obrigadas a enfrentar. Se é esse o futuro que os capitalistas têm a oferecer para nós jovens, nos negamos a aceitar como nosso! Seu futuro não cabe nas nossas aspirações. A gente se nega a aceitar a superficialidade das relações capitalistas, a viver continuamente com a sensação de um elefante pisando no nosso peito. Ao contrário do que querem que a gente pense, é possível um futuro que não estejamos fadados a morrer de Covid, de fome, ou das balas da polícia. Um futuro onde a gente possa viver nossa juventude, amar quem quisermos, estudar não para ter melhores condições de ser explorado, mas pra fazer o que a gente gosta, desenvolver nossas individualidades ao máximo, longe da mesquinhez e da opressão burguesa.

Nada disso cabe no capitalismo, que a cada dia prova que não tem mais nada a oferecer para a humanidade a não ser a destruição das riquezas que nós criamos, e com isso nossa própria capacidade criativa, em especial da juventude. Mas é possível destravar essa potencialidade criativa do conjunto da humanidade, e a história nos mostra isso. Por isso, resgatar aqueles processos em que a juventude pode cumprir um papel decisivo na criação de um novo mundo, e tirar as lições estratégicas para avançar até esse objetivo, permite hoje nos armarmos para encarar não só nossos inimigos de classe, mas todas os castigos psíquicos que a burguesia nos impõe de muitas formas com objetivo de nos paralisar e continuar reinventando suas formas de dominação. Ao mesmo tempo, é necessário resgatar a experiência daqueles que, como o PT, ao prometerem ser possível conciliar com os piores inimigos da juventude e os trabalhadores, também são responsáveis por termos chegado a essa situação.

Transtornos mentais como a depressão e a ansiedade são consequência de termos que entrar cada vez mais cedo no mercado de trabalho para conseguir colaborar com a renda familiar, e em muitas situações, se sustentar sozinho. Uma realidade que dificulta ainda mais de entrar e permanecer nas universidades, sobretudo com a política de Bolsonaro, Mourão e do ministro da educação Milton Ribeiro, que disse abertamente que as universidades deveriam ser para poucos. Atacam a ciência, a permanência, depois de passarmos todo tipo de stress e adoecimento por conta do vestibular, cada vez mais excludente, pra que assim possam nos explorar cada vez mais em empregos ainda mais precários.
Novas medidas como o corte de 92% nas bolsas de pesquisa, o atraso nas bolsas PIBID e RP, são parte desse projeto que busca arrancar as nossas aspirações de poder estudar pra ter a profissão que queremos, depois de anos de promessas de que fazendo universidade poderíamos melhorar de vida. Que teríamos condições de vida melhores que a dos nossos pais, inclusive sendo os primeiros da família a ingressar na universidade.

Esses cortes de verbas da educação e das bolsas de auxílio vem sendo aplicadas desde os governos do PT, como Dilma que cortou 13 bilhões da educação, atacou as bolsas PIBID, e deu início a aplicação da agenda neoliberal. Expandiram as universidades federais em chave precária, quando protagonizamos greves e ocupações nas universidades por todo o país, parte da luta que depois arrancou as cotas étnico-raciais. Ainda que a maioria da juventude negra seguisse fora da universidade graças ao vestibular, provamos que com a força da nossa mobilização que fomos capazes de realizar transformações profundas nas universidades. Enquanto isso, o PT fortalecia os grandes monopólios privados de ensino, que hoje estão por trás da política de Milton Ribeiro, com políticas que levaram ao endividamento de amplos setores da juventude, com a promessa de empregos qualificados no futuro que nunca veio.

Foi parte de abrir caminho para a direita e extrema direita atuar depois com o golpe institucional de 2016, que aplica os ataques agora de forma bem mais acentuada pelo atual governo negacionista de Bolsonaro, como a reforma da previdência, revelando o quão ilusórias eram as promessas feitas no período anterior, baseadas na conciliação que levaram adiante. Assim, o PT fortaleceu os pastores, que com Damares querem impor ainda maior controle sobre nossos corpos, e com a pandemia reforçando a pressão da família contra o livre desenvolvimento da nossa sexualidade, assim como todo tipo de violência em reação ao anseio de libertação após as jornadas de Junho de 2013. Também fortaleceu a bancada da bala e as forças repressivas do Estado, como com as operações militares no Haiti, que com aval do Judiciário potencializaram as operações nas favelas e as mortes de crianças e a prisão sem julgamento da juventude negra.

Agora Lula busca se colocar como quem pode derrotar Bolsonaro e a extrema-direita, voltando a governar com a mesma direita e os mesmos capitalistas misóginos e racistas que o colocaram no poder. Se apoiando na base podre dos latifundiários, imperialistas, banqueiros e privatistas da educação, dispostos a arrancar até a última gota do sangue operário e indígena para se salvar, Lula tenta recriar as esperanças de que progressivamente o capitalismo pode ir melhorando, pouco a pouco, para todos. Lula sabe que nem mesmo isso é capaz de realizar, e já nos prepara para nos contentarmos com os ajustes que terá que aplicar, tal como os kirshneristas fazem hoje na Argentina com Alberto Fernandez.

Nossas aspirações não cabem nas urnas desse regime político decadente que Lula e o PT querem salvar. Para varrer Bolsonaro, Mourão e a extrema-direita, que não vai sair das ruas em uma eventual derrota eleitoral, somente a força organizada da juventude aliada a cada luta dos trabalhadores, dos povos indígenas, das mulheres, negras e negros e LGBTs, contra os capitalistas e seus representantes, é que pode dar uma resposta. Recuperar a confiança dessa força explosiva é o que pode não só barrar os ataques, mas também recuperar o potencial criativo da juventude, presa hoje no desânimo, na bad contínua da falsa ideia de que o fim do mundo está mais próximo que o fim do capitalismo. Uma ideia difundida a todo tempo pela burguesia pelos jornais, redes sociais, nas séries da Netflix.

Por isso é que é tão importante recuperar o legado de lutas da classe trabalhadora, que em cada momento decisivo e que pôde realizar transformações mais profundas, teve a juventude como aliado insubstituível para sacudir o conservadorismo arraigado nas velhas gerações. Porque é a juventude que não carrega o peso das derrotas e pode, aprendendo com as experiências da luta de classes, tirar as lições estratégicas e aproveitar as brechas que a história, de tempos em tempos, abre para a vitória definitiva contra nossos algozes. Com Bolsonaro, a direita neoliberal não será diferente. E para isso será necessária uma juventude que recupere os fios de continuidade da teoria, do programa e estratégia deixados por revolucionários como Marx, Engels, Rosa Luxemburgo, Lênin e Trotski, para construir um partido que supere o PT e suas burocracias que alimentam o conservadorismo e a despolitização da nossa classe.

Uma juventude crítica a tudo que existe, disposta a demolir os pilares da ideologia burguesa que corroem as relações de amizade, amorosas, através da sua opressão patriarcal e racista. Que almeje revolucionar as formas de expressão de arte e cultura, a ciência contra o negacionismo e para que todo o desenvolvimento tecnológico não sirva mais para aumentar a exploração do homem pelo homem e da natureza, mas reestabelecer o metabolismo quebrado pela acumulação desenfreada. Ou ainda, como disse Trotski em uma Conferência na Dinamarca:

"A antropologia, a biologia, a fisiologia, a psicologia, reuniram montanhas de material para edificar diante do homem, em toda a sua amplitude, as tarefas do seu próprio aperfeiçoamento corporal e espiritual e o seu desenvolvimento posterior. Pela mão genial de Sigmund Freud, a psicanálise levantou a cobertura por cima do poço poeticamente chamado de "alma" do homem. E o que nos revelou? O nosso pensamento consciente constitui apenas uma pequena parte no trabalho das forças psíquicas obscuras. Mergulhadores sábios descem ao fundo do oceano e fotografam a fauna misteriosa. Para que o pensamento humano desça ao fundo do seu próprio oceano psíquico deve iluminar as misteriosas forças motrizes da alma e submetê-las à razão e à vontade. Quando acabar com as forças anárquicas de sua própria sociedade, o homem (e a mulher) irá trabalhar a si mesmo, nos laboratórios e nos tubos de ensaios químicos. Pela primeira vez, a humanidade irá considerar a si mesma como matéria-prima, no melhor dos casos um produto semi-fabricado física e psiquicamente. O socialismo significará um salto do reino da necessidade ao reino da liberdade, também no sentido de que o homem de hoje, cheio de contradições e sem harmonia, abrirá o caminho a uma espécie nova e mais feliz”.

O legado da experiência dos bolcheviques da Revolução Russa é o que tem de melhor do legado estratégico para a nossa juventude hoje, pois souberam criar as ferramentas políticas que derrotaram o capitalismo naquele país e mudaram o mundo abrindo caminho para a perspectiva da revolução socialista em todo o planeta, que foram os soviets e o partido bolchevique. A experiência da revolução elevou a imaginação daquela geração a limites muito além do seu tempo, inclusive dos dias de hoje, com objetivo de criar um mundo novo, verdadeiramente comunista, longe do que foi a degeneração burocrática do stalinismo, onde de fato as mulheres e a juventude puderam planejar a sua libertação das amarras da opressão e exploração. Se o gozo que existe no mundo é para poucos, a gente se organiza por que quer conquistar o mundo por inteiro, como fizeram os bolcheviques na Rússia. Construíram um Estado operário e puderam pensar alto em transformações profundas para que a maioria deixasse de ser oprimida e gozasse de uma vida plena de sentido.

Diante do desafio de resgatar na prática esse legado, é importante dizer que a juventude nunca se resignou. Basta ver o que foi a radicalidade de lutas como a rebelião do Chile de 2019, onde a ira da juventude contra o aumento da passagem se transformou em uma revolta contra os 30 anos de ataques neoliberais de Pinochet e do seu regime, ou nos EUA do Black Lives Matter, que entenderam que para dar um basta ao assassinato da população negra é necessário se organizar para acabar com a polícia. No Brasil, a juventude provou muitas vezes que o seu ódio contra Bolsonaro, Damares e a extrema-direita, apesar de todo controle burocrático do movimento estudantil por parte da UNE que separa os estudantes da luta dos trabalhadores, é um perigo para o imperialismo e seus ataques.

Em todos esses casos, é necessário uma partido que organize a juventude com base em uma estratégia para que ela possa cumprir novamente seu papel na história de se ligar com cada demanda mais sentida da população para ser parte de despertar as forças da classe operária. E assim, criar a possibilidade dessas revoltas passarem à revolução e, no caso do Brasil, passar por cima dos velhos aparatos burocráticos do PT no movimento estudantil e sindical, para que possa ser parte de escrever sua própria história, sacudir as vestes poeirentas desse velho mundo, e criar as bases do mundo comunista através da vitória sob o capitalismo em todo mundo.


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Ítalo Gimenes

Mestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN
Mestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN

Éri Mahin

Estudante de Ciências Sociais da UFRN e militante da Faísca Revolucionária
Estudante de Ciências Sociais da UFRN e militante da Faísca Revolucionária
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