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Análise | O que esperar do apoio policial aos atos bolsonaristas do 7 de Setembro?

Em nova escalada da disputa autoritária entre Bolsonaro e os militares contra o STF, essa semana assistimos a convocação por parte de coronéis da PM à manifestação do dia 7 de setembro em apoio ao governo Bolsonaro. Qual será a repercussão dessas convocatórias é difícil prever, mas Bolsonaro em momentos anteriores teve dificuldade em conseguir provocar uma quebra de comando das policiais estaduais em prol de seus objetivos políticos. Se a possibilidade de uma golpe com bandas paramilitares, como propôs o Coronel da reserva Davi Azim parece remota, a movimentação dos coronéis parece servir para desgastar as chances da terceira via de disputar eleitoralmente a base policial e reacionária do presidente, ao mesmo tempo que em meio a diminuição da base social de Bolsonaro, os contingentes militares podem ser funcionais para aumentar as proporções dos atos anteriores.

Ítalo GimenesMestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN

sexta-feira 27 de agosto de 2021 | Edição do dia

Semana passada o cantor e ex-deputado bolsonarista Sérgio Reis teve prisão decretada pelo STF após gravar vídeo tocando o berrante pra convocar caminhoneiros e sojeiros para a manifestação do 7 de setembro. Depois de se mostrar arrependido pelo vídeo, foi internado e até agora segue em liberdade. Outros 6 bolsonaristas tiveram mandados de busca e apreensão pelo STF frente a escalada das ameaças golpistas no 7 de setembro.

Análise: A quem serve o toque reacionário do berrante de Sérgio Reis?

Mas o próprio general Braga Netto, ministro da Defesa que apoiou o reacionário desfile militar em meio a votação do voto impresso, anunciou que não haveria desfile militar no 7 de setembro. Um elemento que indica, frente à chacota que se tornou o último desfile nas redes sociais, até onde o Exército está disposto a ir no apoio às disputas do presidente com o STF, que não envolve a passagem da disputa para o campo militar, de enfrentamento direto.

Isso porque não se trata de um ato bolsonarista como os outros, já que envolve uma forte convocação para caminhoneiros, apoiados na burguesia sojeira da Aprosoja Brasil, uma forte convocação de pastores liderados por Silas Malafaia. Mas principalmente pelo alto grau de convocação por parte de coronéis e outras figuras das PMs estaduais, falando em invadir o STF e todo tipo de retórica golpista.

Não é a primeira vez que Bolsonaro tenta mover tropas policiais em favor dos seus interesses políticos. No Ceará em 2019, quando Bolsonaro vivia ainda uma “lua de mel” do seu governo, as motivações que levaram ao motim reacionário de policiais eram econômicas, exigências salariais. Em março de 2021, em um momento que se aprofunda o desgaste do governo com as mortes crescentes na pandemia, fim do auxílio emergencial e aumento da pobreza no país, tentou-se na Bahia um motim policial bolsonarista com objetivo de provocar uma intervenção militar no estado governado pelo petista Rui Costa, arrastando setores resistentes das Forças Armadas. O resultado foi a morte de um PM amotinado pelos próprios pares, e o recuo no enfrentamento de Bolsonaro com os governadores. Significou uma prova de que, quando Bolsonaro busca movimentar tropas de policiais militares para fins não apenas econômicos, mas em prol das suas intenções intervencionistas ou golpistas, tensionando para uma quebra de comando das polícias estaduais, não encontra respaldo suficiente nas tropas. Em um momento de um Bolsonaro ainda mais isolado, parece que os fins golpistas anunciados pelos coronéis estão longe de serem concretizados.

Mas então, o que Bolsonaro pode querer ganhar com a convocação ostensiva a policiais às manifestações? Sem a participação ativa dos militares, mas que seguem sustentando cada passo da sua política, Bolsonaro procura provocar a quebra de comando das policias estaduais e atritos entre essa base reacionária que o apoia os governos estaduais. Principalmente em São Paulo, onde o governador João Doria (PSDB) se lança como o principal nome da chamada “terceira via”, que busca se colar nessa base de extrema-direita.

Isso por que o que teve de mais importante das convocatórias para policiais participarem do ato na Paulista foi o do Coronel da ativa Aleksander Lacerda. Comandante das polícias de 78 municípios do interior de São Paulo, gravou vídeo nas suas redes sociais chamando o governador João Dória (PSDB) de “cepa indiana”, e convocando ao 7 de setembro. Apesar de ter sido afastado do comando das tropas por Dória, serviu de estopim para outros coronéis se pronunciarem, como o Comandante da Ceagesp, coronel da reserva Ricardo Augusto de Mello, vestindo camiseta da assassina Rota.

O deputado federal por SP, o bolsonarista Coronel Tadeu (PSL), anunciou que há pelo menos 50 ônibus fretados de policiais de grandes cidades como Itapetininga, Campinas, Ribeirão Preto e Bauru, para a manifestação que ocorrerá na Avenida Paulista. É difícil confiar nas promessas desse tipo de escória, mas não podemos descartar que haja sim uma mobilização expressiva de policiais na capital paulista, como principal centro de tensões nesse dia.

Como prova de que o governador de São Paulo quer na realidade disputar eleitoralmente essa base bolsonarista, proibiu a manifestação opositora ao governo Bolsonaro, deixando a Av. Paulista exclusiva à marcha golpista dos bolsonaristas, que seguem sendo “democráticas”, segundo ele, enquanto propõe que o ato da “oposição” será no 12 de setembro, encabeçado pelo MBL. Por mais que queira evitar a quebra de comando das polícias, que favoreça o Bolsonaro, defende que o ato bolsonarista ocorra em detrimento dos atos pelo Fora Bolsonaro. Novamente provando que aqueles que defendem que o PSDB pode ser um aliado contra Bolsonaro só pode estar delirando.

Veja também: Doria se junta a Bolsonaro, proíbe atos da oposição, vomita autoritarismo e tira máscara de terceira via

Não obstante, o afastamento do coronel da PM por parte de Dória foi realizada em uma reunião entre os governadores de 24 estados se reuniram para discutir a possibilidade de setores ativos de policiais participarem das manifestações. No Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina e Ceará, figuras de policiais com influência nas redes sociais publicaram chamados ao 7 de setembro, defendendo voto impresso e enfrentamento com o STF. Temendo a quebra de comando das tropas, os governadores convocaram uma reunião com os comandantes das Forças Armadas e com o governo.

É necessário acompanhar o que será discutido nessa reunião e até onde vai se concretizar essa convocatória em força policial para os atos do dia 7. Por ora não parece o mais provável que seja forte, e essa reunião deve indicar algum tipo de acordo para que Bolsonaro desescale a convocatória, com os governadores evitando correr qualquer risco de insubordinação, mas também Bolsonaro obtendo melhores condições na sua disputa com outros poderes, frente a perseguição de seus apoiadores, enquanto mantém fiel a sua base de apoio.

Editorial MRT - 7 de setembro: enfrentar Bolsonaro, os ataques e a medida ditatorial de Doria nas ruas




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