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Eleições em São Paulo | O que expressa a vitória de Tarcísio no primeiro turno de São Paulo?

Contra o que apontavam as pesquisas até às vésperas da eleição, candidato apoiado pelo presidente Bolsonaro não só ficou a frente do candidato do PSDB, Rodrigo Garcia, como ultrapassou Haddad e com 42% dos votos chega ao segundo turno contra o petista em primeiro lugar. Antes de desesperar e se entregar ao tudo ou nada do petismo, que vai tucanizar ainda mais a campanha atrás dos votos de Garcia, convém olhar mais de perto o resultado eleitoral e o que ele expressa.

Thiago FlaméSão Paulo

sábado 8 de outubro de 2022 | Edição do dia

O dado mais importante que as eleições cristalizam em São Paulo é a bancarrota do PSDB. No domingo e ao longo dos dias seguintes a imprensa tucana, como a Folha de São Paulo e os jornalistas da Globo News acenderam as velas fúnebres pelo PSDB, refletindo em tom melancólico sobre o que fazer com os escombros. A situação de crise do PSDB ainda se aprofundou nos dias seguintes ao da eleição, com uma divisão entre o PSDB tradicional, de FHC e Serra declarando voto em Lula e Rodrigo Garcia tentando uma jogada para se viabilizar frente a nova configuração política de São Paulo ao apoiar Bolsonaro. O próprio jornal estado de São Paulo criticou de forma contundente essa posição do atual governador em editorial que lamenta a crise doPSDB.

Não é exatamente uma surpresa, se levamos em conta o histórico do estado e sua tendência eleitoral conservadora, com o peso dos interiores e das classes médias tradicionais, que se fortaleça a direita bolsonarista frente a derrocada tucana. Ao mesmo tempo, o PT se recuperou eleitoralmente, alcançando as suas melhores marcas históricas no estado.

O que as urnas mostraram de maneira distorcida no domingo não foi um giro a direita em toda a linha na política paulista e muito mais a cristalização de um cenário de maior polarização, com o derretimento da centro direita tucana. Se o bolsonarismo conseguiu um grande resultado, avançando amplamente sobre os territórios tucanos, do outro lado o PT fez uma das suas melhores eleições em São Paulo.

A votação de Lula só foi maior no estado em 2002, quando conseguiu 46% dos votos. No município de São Paulo Lula superou a votação de 2002, com 47% dos votos, quando naquele ano havia alcançado 42%. O que desequilibra a situação do estado para a direita não é a votação em si, mas a disposição das forças políticas. Enquanto a direita tradicional se radicalizou e passou do PSDB para o militarismo bolsonarista, o PT ampliou suas alianças com a direita, incluindo parte do PSDB tradicional, e o PSOL se alinhou com o PT e com a Rede.

A magra votação do PSDB a nível nacional, elegendo apenas 13 deputados federais foi puxada pela situação dramática em São Paulo. Passou dos seis deputados federais eleitos em 2018 para apenas 3, entre os setenta deputados da bancada paulista. O PL de Bolsonaro que, com 17 deputados eleitos, foi o partido com a maior bancada nessas eleições, não alcançou a marca histórica tanto do PT como do PSDB, que nos seus auges elegeram 18. O PT elegeu 11 e o PSOL, numa votação histórica tendo Boulos o mais votado no estado, elegeu 5 deputados federais. Um quadro parecido se repete na Alesp. O PL passou a ser a maior bancada e o PSDB manteve o piso de 2018, enquanto o PT com seus 18 eleitos não só superou o número de deputados eleitos em 2018 (10), como superou também a marca de 2014 (15).

Organizar a força social da juventude e da classe trabalhadora de SP para enfrentar a extrema direita

Se do ponto de vista eleitoral São Paulo sempre pendeu a direita, não deixou de ser por esse motivo um pólo de organização da classe trabalhadora e da juventude. Nessas eleições, o estado também mostra a consolidação da extrema direita no regime político e é onde mais se aprofundou a tucanização da política petista. As eleições em São Paulo, que é onde a aliança com Alckmin poderia ter tido os melhores resultados, mostraram como não é se aliando com a direita que conseguiremos derrotar, ou mesmo debilitar, a extrema direita bolsonarista. No entanto, a votação também mostra que existem pontos de apoio para enfrentar essa extrema direita que se fortalece, na luta e na mobilização, um caminho que o PT evita a todo o custo para não afastar seus aliados da frente ampla.

Por uma série de fatores as eleições são uma expressão apenas distorcida da correlação de forças mais geral entre as classes e da subjetividade da classe trabalhadora e das classes médias. Pesam os aparatos tradicionais, a política de troca de favores, as limitações a que os partidos sem representação parlamentar apresentem suas posições, entre outros. Mas queremos chamar atenção aqui para outro fator, que faz parte da essência mesmo da democracia representativa. Cada pessoa vale um voto, mas na vida real as diferentes classes e setores de classe estão longe de ter um peso proporcional ao seu número.

Os grandes batalhões operários da grande São Paulo, na sua maioria col sindicatos dirigidos pelo PT e a CUT, que apesar de todo o processo de desindustriaização ainda é das maiores concentrações industriais de toda a América Latina, quando fizeram sua força social pesar na balança no final da década de setenta, convulsionaram o país e levaram para a lona nada menos do que o regime militar, que dominava o estado desde 1964. Na grande São Paulo e concentram outras categorias estratégicas, além de metalurgicos, como bancários e professores e muitas outras.

Às grandes concentrações operárias se somam três das universidades mais importantes do país e uma juventude de esquerda que fez história no passado recente. Em 2007 a ocupação da reitoria da USP contra os ataques do então governador do PSDB, José Serra, iniciou uma onda de ocupações a nivel nacional e abriu uma nova fase no movimento estudantil. Em 2013, essa mesma juventude foi o epicentro das mobilizações que varreram o país.

Como dissemos, nessas regiões o bolsonarismo foi amplamente rechaçado, inclusive a diferença de 2018, onde mesmo nelas ele havia ido bem. Vai ser deicisivo ´para o futuro do país se essas poderosas forças sociais, que podem mudar todo o cenário político e colocar o bolsonarismo na defensiva, se colocam ou não em movimento. Para isso será necessário superar a política de contenção petista, e a construção de uma esquerda radiocal que enfrente a extrema direita na luta de classes e que se oponha a conciliação petista.




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