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UMA SÓ LUTA | Por uma forte campanha pelos terceirizados da UFMG superando a subordinação do dce/Afronte à Reitoria

Chamamos todas as Entidades Estudantis, mas também sindicatos da UFMG, a batalharmos para implementar fortemente duas resoluções aprovadas no Conselho de Entidades de Base da UFMG em apoio à luta dos terceirizados a começar por fortalecer uma arrecadação de alimentos aos que sustentam essa universidade. Ontem, o coletivo Afronte/PSOL, na direção do nosso DCE, mostrou que está muito gravemente subordinado à política da Reitoria da UFMG, de tal forma que chegou a livrar a cara dos cortes do governo Bolsonaro. Para que os terceirizados não passem um Natal de fome e não sofram qualquer retaliação à sua luta, precisamos superar a política do atual DCE.

MaréProfessora designada na rede estadual de MG

Lina HamdanMestranda em Artes Visuais na UFMG

quinta-feira 22 de dezembro de 2022 | Edição do dia

O governo Bolsonaro não podia chegar ao seu fim sem causar mais estragos. As séries de cortes e bloqueios de orçamento das universidades e institutos federais, deixam sérias sequelas para o ensino superior público.

UFRJ, UNB, UFRN e UFMG são algumas das universidades em que as empresas terceirizadas, contratadas pelas reitorias dessas federais, atacaram os trabalhadores após o último corte brutal de Bolsonaro e do Congresso Nacional, atrasando pagamentos e realizando demissões.

Na UFMG em específico, a empresa Conservo atrasou os pagamentos de salários e auxílios transporte e alimentação dos trabalhadores da manutenção e porteiros, com alguns ficando mais de 45 dias sem receber. Junto a isso, os bolsistas de monitoria e extensão também tiveram suas bolsas atrasadas por semanas devido aos cortes.

Tais consequências evidenciam como a luta contra os cortes é uma só. É tarefa dos estudantes e trabalhadores, utilizando seus sindicatos e entidades estudantis para isso, lutar não só pela reversão desses ataques, mas contra as consequências imediatas que sofremos por eles.

Quem saiu à frente dessa tarefa na UFMG foram esses trabalhadores terceirizados que entraram em greve porque estão "com as latas vazias", como muitos falam em seus atos e mobilizações, com vários tendo que pegar empréstimos com altos juros para conseguir terminar o ano. Para chamar atenção da greve, na quinta-feira fecharam um lado da Avenida Antônio Carlos, em frente à portaria principal do campus Pampulha, e na sexta-feira realizaram um estrondoso barulhaço que ecoou dentro do prédio da Reitoria da UFMG.

Assim, arrancaram o pagamento pela Conservo do auxílio transporte e, pela Reitoria, das bolsas estudantis atrasadas, e dos pagamentos de salário que começaram a ser feitos a conta gotas, não tendo sido pago o de todos trabalhadores até hoje. O auxílio alimentação, parte crucial da renda desses trabalhadores que ganham muitas vezes um salário mínimo, e cuja empresa assedia para que não tenham sequer um minuto de almoço em suas jornadas de 12h de trabalho, ainda não há sinal se será pago.

Esses trabalhadores já têm dívidas acumuladas, alguns perderam pertences ou a casa inteira com as fortes chuvas em Belo Horizonte, alguns enterraram parentes recentemente. E todos sentem o peso da ansiedade de não saberem se irão receber o que lhe é de direito e agora incertezas em relação ao emprego, já que a empresa Conservo declarou falência, após lucrar anos e anos do que tirava do trabalho desses terceirizados.

Diante de tudo isso, nós da Faísca Revolucionária estivemos em cada uma das lutas de terceirizados em diversas universidades federais e estaduais onde estamos, infelizmente quase sempre sem outras correntes da esquerda que dirigem entidades estudantis pelo país.

Na UFMG nos somamos às medidas de luta que os trabalhadores definiam, com o sindicato dos porteiros sequer dando a cara na greve, e buscamos ampliar a solidariedade chamando entidades, sindicatos, estudantes e professores.

Ao lado deles em seus momentos de "apenas" cruzar os braços e conversar para se organizar, ouvimos muitas vezes a mais pura verdade desses trabalhadores e trabalhadoras de maioria negra: essa situação é por culpa dos cortes de Bolsonaro. A própria reitoria publicou nota em 6 de dezembro dizendo que os cortes inviabilizariam os pagamentos destes trabalhadores.

Os trabalhadores também gritavam como a culpa é da Conservo: "os patrão de carro novo, e nós aqui comendo ovo". A justiça burguesa permite a alegação de falência (e não vendem um carro, um imóvel sequer, como denunciam os trabalhadores) e despejar os cortes diretamente no lado mais "frágil", marca cruel e racista da terceirização que as reitorias utilizam para tentar tirar das suas costas a responsabilidade dos trabalhadores dos serviços "invisíveis" terem as piores condições de trabalho, salários baixos e zero estabilidade em universidades ditas de excelência.

Porém, o DCE da UFMG, que deveria ser uma ferramenta de organizar os estudantes em defesa da educação, o que passa pela defesa dos trabalhadores de nossas universidades, parece viver num mundo onde magicamente várias empresas terceirizadas começam a não conseguir pagar os trabalhadores nas universidades federais. Segundo disseram no Conselho de Entidades de Base realizado ontem (21 de dezembro), os atrasos de salários na UFMG não seriam devido aos cortes de Bolsonaro e meramente porque a Conservo faliu. Uma visão tão estreita que denuncia muito de como apostam muito mais na aliança com a Reitoria do que com os trabalhadores terceirizados.

Ontem, o Afronte (juventude do Resistência, tendência interna do PSOL) que dirige nosso DCE informou da situação dos terceirizados de forma completamente incondizente com a importância desse tema. E ainda pior buscaram claramente livrar a responsabilidade da reitoria e também do governo Bolsonaro (!!!!), assim como do regime burguês que permite que as empresas saiam largando seus trabalhadores para trás, reduzindo a razão dos atrasos de pagamentos à falência da Conservo.

Retirando a força da greve que foi a verdadeira responsável para que os estudantes recebessem suas bolsas, escancaram como são apenas uma correia de transmissão, no movimento estudantil, da política da Reitoria, chegando a ler uma fala da reitora para responder às críticas de Elisa, que além de militante da Faísca é membra do Centro Acadêmico de Filosofia (CAFCA), entidade que está impulsionando uma campanha de arrecadação para os trabalhadores terceirizados a qual se somaram prontamente os Centros Acadêmicos das Ciências Sociais (CACS) e da Arqueologia (CALS).

E fazem isso sem denunciar uma vírgula ao caráter brutal que é a terceirização. "Talvez" por saberem que os governos do PT foram responsáveis por intensificar enormemente o trabalho terceirizado no Brasil. E como estão lado a lado do governo Lula-Alckmin (alimentando ilusões de que um governo que está junto com os grandes empresários da educação que apoiaram o teto de gastos e a reforma do ensino médio, poderá conceder alguma melhora à situação degradante da educação superior pública no país), precisam inventar um cenário de uma empresa terceirizada que parece estar flutuando no espaço ao invés de estar fincada na realidade do país que atravessamos, após inúmeros ataques à educação.

Tamanho é o nível de compromisso do Afronte/PSOL com a institucionalidade, que sequer aceitaram as críticas de outros coletivos e entidades estudantis sobre a ausência de espaços de discussão. Desde o ataque de Bolsonaro no dia 1º de Dezembro, há três semanas, esse CEB foi o único espaço de discussão do movimento estudantil. Na UFMG, a postura do DCE diante de uma greve dos terceirizados e também dos estudantes que trabalham no museu da UFMG, foi de desmarcar o único espaço convocado para sentar a portas fechadas com a reitoria, alegando que a mesma já tinha declarado que ia pagar. Enquanto confiam cegamente na reitoria (que administrou pacientemente todos os cortes orçamentários de Bolsonaro, que se somaram violentamente aos do governo golpista de Temer, mas também os de Dilma em 2015), os trabalhadores seguem com inúmeras incertezas.

O DCE apresenta as palavras da reitoria numa reunião do movimento estudantil, fomentando confiança nesse órgão que agora cogita inclusive fechar cursos noturnos, como denunciou um estudante no CEB, vitimando gravemente os mais precários e que precisam trabalhar. Apresentou a promessa vazia de que os terceirizados não serão demitidos nem perseguidos por sua greve.

Frente a essa política, nós da Faísca Revolucionária afirmamos que "A relação entre os cortes de Bolsonaro e a administração que a Reitoria faz do orçamento, para jogar nas costas dos setores mais vulneráveis, é concreta. Não só aqui na UFMG, mas nacionalmente com os estudantes bolsistas, atrasos na assistência estudantil e ataques aos terceirizados".

E fizemos duas propostas a todas entidades presentes:

1) Se somarem à campanha de arrecadação de alimentos e dinheiro - que será completamente revertido em compra de alimentos também -, e a estarem presentes no dia da entrega desses alimentos aos terceirizados. Essa é uma ação de solidariedade simbólica para que esses trabalhadores atacados pelo governo e pelos patrões, invisibilizados pela Reitoria, não se vejam sozinhos em sua luta. É uma forma de demonstrar que estamos ao lado deles e os consideramos fundamentais.

2) Escrevermos um abaixo assinado com um manifesto em unidade em defesa dos terceirizados para garantia de todos seus direitos e pela recontratação de todos os trabalhadores. Depois de tanto assédio e desprezo com a dignidade desses trabalhadores, não está nada dado que esses trabalhadores que lutaram agora não sejam perseguidos e que possam não ser readmitidos, se quiserem, após o fim do contrato com a Conservo.

Tais medidas foram aprovadas por todas entidades do CEB. Mas diante da política do Afronte, nos perguntamos: o DCE irá implementar seriamente essas duas deliberações aprovadas em apoio aos trabalhadores terceirizados, como parte da luta dos estudantes em defesa da universidade e da educação? Ou o compromisso com a luta dos terceirizados, que necessariamente passa por enfrentar a administração da reitoria, coloca os companheiros em maus lençóis com sua principal aliada? Convocamos sinceramente o DCE a dar um forte giro para o último dia da campanha de arrecadação (à qual que já haviam sido formalmente convidados desde o início da campanha, o que tiveram que reconhecer no CEB) e para ser parte ativa da organização do abaixo-assinado em defesa dos empregos e direitos dos terceirizados.

Como disse Elisa no próprio CEB, a política da direção do DCE UFMG "se relaciona fortemente também com sua falta de independência política em relação ao novo governo eleito. O governo de transição está leiloando o metrô de BH junto com o Zema e o Paulo Guedes". E completou: "Não é possível que nenhuma das nossas demandas em defesa da educação, como o fim da PEC Teto de gastos, revogação cortes Bolsonaro seja feita sem ser independente politicamente e apostando nas nossas forças mobilizadas nos locais que estamos, e não nas instituições recheadas inclusive de setores bolsonaristas e da extrema direita".

Portanto, a luta junto aos terceirizados, em nossa visão, é também por um movimento estudantil com independência política da Reitoria, mas também do governo Lula-Alckmin, o que nós coloca também a tarefa de somarmos à luta dos metroviários de BH que estão em greve contra o leilão marcado para hoje às 14h. Para combater a extrema direita, que seguirá existindo e está no governo estsdual, e defender a educação, batalhando pela reversão dos cortes e revogação de ataques como a reforma do ensino médio, reforma trabalhista e da previdência; para lutar contra a terceirização e pela efetivação direta e com plenos direitos dos trabalhadores que já exercem seu trabalho exemplarmente, precisamos apostar na aliança verdadeiramente revolucionária: dos estudantes e trabalhadores com os movimentos sociais e oprimides, não com a direita e com as reitorias que administram a exploração dos trabalhadores que são pilares essenciais para o funcionamento das universidades.

Chamamos todos os CAs e DAs, assim como o SINDIFES e a Apubh a divulgarem fortemente a campanha e buscarem ativamente doações, assim como a comparecer na entrega dos alimentos, ainda a ser definida com os trabalhadores, para fazer um Natal sem fome para as famílias dos terceirizados da Conservo-UFMG.

Veja fala de Elisa Campos, coordenadora do Centro Acadêmico de Filosofia no CEB ontem:




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