×

Primeiro ministro australiano aliado de Bolsonaro é vaiado por cidade destruída em incêndios históricos

Em visita a uma cidade destruída pelos incêndios que consomem o país, o primeiro ministro australiano, direitista que diz não acreditar em mudanças climáticas e cuja vitória foi celebrada por Bolsonaro, foi vaiado por habitantes descontentes com sua atitude de desdém com a magnânima catástrofe ambiental.

sexta-feira 3 de janeiro de 2020 | Edição do dia

Há meses, a Austrália vive uma onda histórica de incêndios, que já destruiu milhares de casas, matou várias pessoas e devasta a biosfera local. Deste setembro o verão australiano foi castigado por uma temporada histórica de incêndios, que vêm se espalhando pelo país e deixando um incalculável rastro de destruição. Estima-se que pelo menos vinte vidas já tenham sido perdidas, sem falar nos desaparecidos, que se contam nas dezenas. Mais de 1300 casas já foram destruídas, a maior parte na região de New South Wales, no sudeste do país.

O fogo, que assola a região mais densamente populada da Austrália em uma superfície estimada do dobro do tamanho da Bélgica, causam uma verdadeira catástrofe ambiental, de proporções imensas. Tal como com os incêndios na Amazônia, anoiteceu durante o dia em vários pontos da Austrália, onde o calor intenso levou os céus a se cobrirem de fumaça negra e vermelha, enquanto milhares de pessoas fogem de suas casas. Estima-se que, até agora, cerca de meio bilhão de animais já tenham morrido nos incêndios. Acredita-se que um terço da população de coalas tenha sido dizimada.

A catástrofe, que tende a deixar uma inimaginável perda para o meio ambiente, ocorre junto com uma onda de calor de grandes proporções para a Austrália, com temperaturas que têm variado de 40 a quase 50 ºC, sufocando populações presas entre as chamas. O aumento das temperaturas e o caos climático que contribuíram para os incêndios se encaixam em um padrão mundial de desastres causados pela crescentemente catastrófica situação climática, causada pela devastação ambiental. Em meio a toda a crise, o primeiro ministro australiano, Scott Morrison, político de direita do chamado Partido Liberal, cujo êxito eleitoral Bolsonaro comemorou como uma “grande vitória” tem tido uma atitude menos do que enérgica. Morrison, que enquanto o país já queimava e após um estado de emergência ser declarado tirou férias de fim de ano no Havaí com a família, não só negou quaisquer ligações entre os incêndios e as mudanças climáticas, contrariando a avaliação de cientistas e ambientalistas, mas também foi enfático em dizer que não mudaria a política do país com relação ao meio ambiente.

A Austrália é um dos maiores emissores de CO2 per capita do mundo, em grande parte devido à dependência do país na queima de carvão. Morrison é um entusiástico apoiador da indústria de carvão australiana e há semanas já troca farpas com ninguém menos do que Greta Thunberg pela insistência infundada do primeiro ministro em afirmar que não há ligação entre a indústria do carvão, o aquecimento global, e as ondas de calor e secas sem precedentes responsáveis pelos incêndios. A jovem ativista criticou a falta de “ação política” como resposta aos desastres, algo que, na realidade, não se dirige ao fundo do problema, que só pode ser tratado de maneira significativa com a ação política das massas trabalhadoras contra sujeitos como Morrison, representantes dos grandes bilionários que lucram com a destruição do planeta e da piora da vida das massas – no entanto, foi o bastante para fomentar o ódio do primeiro ministro, que se sentiu ofendido por “pessoas de fora da Austrália” criticarem o tratamento desastroso que o direitista fez da crise.

Leia mais: Concentração recorde de CO2 na atmosfera expõe marcha catastrófica do capitalismo

Entretanto, nesta quinta-feira, quando o primeiro ministro visitava a cidade de Cobargo, no litoral sul australiano, que foi afetada diretamente pelos incêndios, e cujos cidadãos ainda estão asfixiados pelas chamas, ele recebeu críticas vindas diretamente da própria população. Recebido com vaias, Morrison encontrou uma cidade de vítimas de sua ingerência, que não pouparam palavras para denunciar sua criminosa incompetência em serviço dos grandes poluidores.

O chefe do governo foi enxotado de volta para um carro oficial, vaiado pela população local, em especial por uma jovem que criticou seus cortes ao Rural Fire Service, serviço responsável por controlar incêndios nas regiões rurais do país. Em outro momento, enquanto tentava uma foto, um bombeiro recusou-se a apertar sua mão. Pelo menos dois bombeiros voluntários já perderam suas vidas nos incêndios.

O fogo segue consumindo a Austrália, e deixando pelo caminho a mancha de uma catástrofe ambiental sem igual, que só tende a piorar enquanto grandes empresários e seus representantes políticos correm atrás de se salvar de toda responsabilidade pela crise ambiental e humanitária que causam e agravam em sua incessante busca por lucros cada vez maiores, às custas do planeta a das condições de vida da população. É nesse cenário que trabalhadores e jovens de todo o mundo se levantam contra um projeto de sociedade baseada no individualismo e no lucro, contra uma economia onde uns poucos se apropriam dos espólios do trabalho de milhões, enquanto deixam as grandes massas para amargurar as condições decrépitas em que a exploração desenfreada deixa o mundo.

Leia mais: O capitalismo destrói o planeta, destruamos o capitalismo!

Leia nossa retrospectiva do Meio Ambiente para último ano: de Brumadinho à crise Amazônica, os sintomas de uma catástrofe iminente




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias