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Qual será o balanço da UP após se juntar à burocracia contra a esquerda e ser derrotada no Metrô-SP?

Na última semana, com 56,5% dos 4 mil votos, a Chapa 2, integrada pelo Nossa Classe (grupo de trabalhadores do MRT com independentes) junto ao PSTU e correntes do PSOL, venceu a burocracia sindical nas eleições para o Sindicato de Metroviários de São Paulo com um programa de independência de classe. A Unidade Popular (UP), por sua vez, mesmo com insistente chamado a romper com essa política, optou vergonhosamente por fechar com a burocracia da CUT e CTB e como próprio PSB de Alckmin, saindo derrotada. Qual balanço estará fazendo neste momento?

Fernanda PeluciDiretora do Sindicato dos Metroviários de SP e militante do Mov. Nossa Classe

sábado 10 de setembro de 2022 | Edição do dia

Desde o início, evidentemente, o que estava em jogo nas eleições do Metrô de São Paulo era se o sindicato estaria nas mãos da burocracia sindical da CUT (PT) e CTB (PCdoB e PSB), responsáveis por defender aceitar a retirada de direitos dos metroviários e por desmobilizar a classe trabalhadora em todo o país diante da extrema direita e dos ataques, ou se estaria como um instrumento da luta nas mãos dos trabalhadores. Felizmente, ao final, venceu a chapa que defendeu um programa de independência de classe, contra a conciliação, em defesa da efetivação dos terceirizados e por ampla democracia sindical, para avançar na organização dos trabalhadores contra Bolsonaro e o bolsonarismo, o regime e a empresa, independente dos governos que vierem.

Dessa vitória, entretanto, a Unidade Popular, que tem nacionalmente Leonardo Péricles como candidato à presidência e se diz parte da esquerda radical, estava na oposição. Insistiu em seguir com PT, PCdoB e com o partido de Alckmin e França (PSB) contra toda esquerda. Juntos na mesma chapa, fizeram uma campanha centrada em "priorizar a categoria metroviária", alimentando o corporativismo, e "priorizar o diálogo na busca de soluções e ter a greve como último recurso" - como a burocracia chama sua linha de desmobilização. E com essa chapa da conciliação de classes a Unidade Popular disse ter “unidade programática”, no caminho oposto de impulsionar a luta. “Priorizar o diálogo" em detrimento da luta contra os governos e patrões é exatamente o que têm feito as burocracias sindicais desde o golpe institucional e em todo o governo Bolsonaro, aceitando ataques sem resposta. E a campanha que fizeram juntos foi de reivindicação de todo o legado de décadas da burocracia sindical da CTB e da CUT na categoria. Portanto, a UP compôs uma chapa que em nenhum momento escondeu sua estratégia. Aliás, bastante anti-popular para uma corrente que se diz defensora do "poder popular", fazer uma campanha por "priorizar a categoria”, separando e contrapondo a defesa dos interesses de uma categoria que, por sua luta e por sua posição, arrancou vários direitos historicamente, à defesa dos interesses dos demais setores empobrecidos da classe, terceirizados, uberizados, precários, desempregados e à toda população que utiliza o transporte de São Paulo e tem menos condições de se organizar. Fez isso junto aos setores que justamente aceitaram a retirada de direitos no último período contra os metroviários, longe de "priorizá-los". Ao contrário, os trabalhadores do Metrô e de todas as demais categorias são mais fortes quando unificados com o conjunto da classe, em torno de seus interesses de classe comuns.

Para sermos justos, não é a primeira vez que a Unidade Popular é parte de uma chapa com a burocracia sindical, honrando a tradição stalinista que reivindicam, e que historicamente fortalece a burocracia sindical, auxiliar da burguesia no interior da nossa luta. Mas nesse caso é ainda mais escancarado. Em primeiro lugar, porque se trata de uma categoria de peso, capaz de impactar fortemente na principal capital do país quando se organiza, e de influenciar milhões de outros trabalhadores, como já mostraram que podem os metroviários. Mas também porque havia uma chapa unificada da esquerda disposta a derrotar a burocracia e que inclusive chamou a UP a fazer parte - como nós fizemos pelo Esquerda Diário aqui. Tudo isso prova que havia "convicção" nessa corrente por fortalecer as burocracias, mesmo existindo alternativa, e mesmo com chances de saírem derrotados, como de fato ocorreu. Essa convicção também mostrou que sua política está à direita de um expressivo setor da base da categoria. Que balanço dessa linha a direção da UP está fazendo a seus militantes neste momento?

Qual será a resposta de seus militantes a esse questionamento nos locais de estudo e trabalho? Será seguir se esquivando, com o argumento de que é uma política "do Metrô", "do movimento operário", e que não cabe à juventude e a outras categorias debater, explicar ou mesmo compreender o que faz sua própria corrente no Metrô? Então por que se constrói um partido, se a política em cada lugar pode seguir princípios que não se sabe quais são e às custas dos interesses da classe trabalhadora? Não chama a atenção da militância da UP essa corrente estar, ainda por cima, com o Partido do Alckmin, histórico inimigo dos metroviários e responsável por reprimir greves ali? E com “unidade programática”?? Contra a esquerda??? Além disso, o PT e o PCdoB, fortalecidos pela UP no Metrô, dirigem e travam a luta em centenas de outros locais de trabalho e na própria juventude, a partir da direção da UNE. Essa resposta evasiva mostra apenas o oportunismo da UP.

Na aparência, inclusive, essa política contrasta com o que essa corrente supostamente discursa na juventude, como movimento Correnteza, sobre a importância da luta, do "trabalho de base" e, ocasionalmente, da "auto-organização". Somente na aparência. Na prática, a UP chama às ruas em datas de calendário contra o bolsonarismo, mas justamente sem mencionar o papel das direções dos movimentos de massas ou exigir que organizem os estudantes e trabalhadores por uma resposta de fato. Isso além de seu presidenciável assinar carta em defesa da democracia com banqueiros e patrões. Levam isso até o fim ao se juntar a essas mesmas burocracias responsáveis por deixar as ruas livres para o bolsonarismo, como vimos no 7 de Setembro.

Felizmente, no Metrô de São Paulo, venceu outra perspectiva, apesar dos esforços da UP. A organização independente da classe trabalhadora é fundamental no enfrentamento aos governos e patrões, principalmente diante do bolsonarismo, que seguirá após as eleições, e de uma chapa como Lula-Alckmin com sua política de conciliação, que fortalece a direita e os patrões.




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