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Opinião | Reflexões de uma trabalhadora da saúde: Todo mundo tem direito de lutar?

Todo mundo tem um direito de lutar, é isso que dizia Chico Science na sua música “Monologo ao pé de ouvido”. Porém, quando se trata da luta de uma categoria que sempre esteve na vulnerabilidade e cada vez mais precarizada, a maioria sendo mulheres, que trabalham doze horas por dia e nos tempos pandêmicos perdemos companheiros para um sistema que sempre coloca o lucro acima do nosso trabalho, onde está o direito à luta?

terça-feira 14 de março de 2023 | 17:44

Todo mundo tem um direito de lutar, é isso que dizia Chico Science na sua música “Monologo ao pé de ouvido”. Porém, quando se trata da luta de uma categoria que sempre esteve na vulnerabilidade e cada vez mais precarizada, a maioria sendo mulheres, que trabalham doze horas por dia e nos tempos pandêmicos perdemos companheiros para um sistema que sempre coloca o lucro acima do nosso trabalho, onde está o direito à luta? Estamos falando da enfermagem. Dentro da burocratização dos sindicatos que desmobilizam cada vez mais a classe trabalhadora, e não dá a voz para aqueles que tentam lutar nesse sistema capitalista calunioso, esse direito não existe.

A luta vem de 1988 com a construção do Sistema único de Saúde, naquele tempo acreditava que poderia florescer um reconhecimento digno da categoria da enfermagem junto com coparticipação social que previa que a categoria poderia receber honestamente. Mas, isso não aconteceu, estamos falando de trinta e cinco anos de luta para um piso digno de uma categoria majoritariamente feminina, com horas exaustivas de trabalho, assédio moral e num sistema que deveria ser gratuito para toda a comunidade, vive o sucateamento em massa e privatizações crescendo. Com esse efeito, a luta continua e quando tentamos até o dia quatro de setembro regularizar o piso, no dia oito, veio mais uma vez a emenda do Barroso para suspender por que sua justificativa é que não tinha fonte de custeio.

Outro ponto importante que vale ser analisado diante dessa luta, é que cada mobilização é um aprendizado para a categoria. No Estado de Pernambuco temos uma suposta “representatividade” feminina que é aliada do bolsonarismo e da classe burguesa do estado. Não só ela, mas, o governo dito “Democratico” de Lula-Alckmin, que promove representação de diversidade no palanque, se dizendo “um país de todos”, na prática mantém a representatividade apenas no palanque, enquanto governa com os mesmos de sempre. Estamos falando dessa conciliação com a direita burguesa que está no poder para concentrar a exploração e desumanização da classe trabalhadora, como aponta Marx na carta de 1846 a Pável V. Annenkov “Coloque tal sociedade civil, e vocês terão tal Estado político, que é somente a expressão oficial da sociedade civil”. Dentro dessas fissuras e contradição tem um grande empecilho para compreender junto com o Estado Burguês, a burocratização dos sindicatos como força para desmobilizar a classe trabalhadora para dificultar a implementação do piso.

Estamos falando de um novo dinamismo que barra as lutas sociais e impõe leis para que jamais se execute as ações da classe. Na assembleia ocorrida no dia 14 de março, tivemos um representante que não é um trabalhador, e sim, o representante desta burocracia sindical que num jogo de abuso psicológico retratava constantemente que era necessário parar a greve. Nisso, temos dois pontos importantes a serem analisados, o advogado que coloca pontos para barrar a greve e impedir que a categoria prossiga e a representante/diretora reforça o que o mesmo coloca anteriormente.

Diante disso, podemos compreender que o direito de lutar nunca foi concedido de mão beijada a classe trabalhadora, e sim, a dominação burguesa que se reforça dentro dos governos e reverbera sobre proletariado, e demais classes da sociedade, são um controle das relações de forças.

Nesse sentido, esses que falam dos palanques abraçados com nossos inimigos, nunca tiveram um ponto de vista de classe, e sempre daqueles que querem viver e divertir nas nossas costas, como afirma Lenin em seus escritos de Agitação Politica e Ponto de vista de Classe:

“a luta pela libertação política, no entanto, temos muitos aliados, a quem não devemos permanecer indiferentes. Mas enquanto nossos aliados no campo democrático-burguês, lutando por reformas liberais, sempre olharão para trás e procurarão ajustar os assuntos para que eles possam, como antes, "comer bem, dormir tranquilamente e viver alegremente" à custa de outras pessoas, o proletariado marchará até o fim, sem olhar para trás.”

Então, nem todos têm o direito de lutar quando se concentra o peleguismo contra a realização de propostas que beneficiem as massas. O governo tem uma disputa, e essa nunca foi e nem vai ser a favor da classe trabalhadora enquanto os meados caminhos se voltem para o controle de uma burguesia que explora as classes em todos os sentidos. E como já expresso nessa história, o cérebro do KPD, Rosa Luxemburgo já eviscerava em seus escritos, a revolucionária afirma:

"Precisamente porque nós não concedemos nem um centímetro de nossa posição, nós forçamos o governo e os partidos burgueses a nos conceder os poucos sucessos imediatos que podem ser ganhos. Mas se nós começamos a perseguir o que é ’possível’ de acordo com os princípios do oportunismo, sem nos preocupar com nossos próprios princípios, e por meios de troca como fazem os estadistas, então nós iremos logo nos encontrar na mesma situação que o caçador que não só falhou em matar o veado, mas também perdeu sua arma no processo."

Torna-se claro e objetivo que, num programa “Social-Liberal” onde temos figuras como a Raquel Lira e Alckmin, uma vez que, vai prevalecer os direitos burgueses com burocratização dos sindicatos e movimentos sociais, colocando sempre a classe trabalhadora com a perspectiva de negociar com quem sempre nos fez mal durante toda uma materialidade histórica.

Neste exato momento trabalhadores de toda a França estão realizando paralisações e greves gerais contra os ataques do governo. No Peru, as trabalhadoras e trabalhadores junto ao movimento indígena lutam incansavelmente contra um golpe de estado. Estes são exemplos de que quando os trabalhadores superam suas direções burocráticas se torna imparável. Então, não a conciliação da greve e não a burocratização dos sindicatos e movimentos sociais. Pelo direito de lutar sem peleguismo e conciliação. Que todo o monólogo proposto por Chico seja uma superação do capital e todas as suas contradições impostas.




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