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França | Reforma da Previdência na França: o que fazer depois da imensa mobilização de 19 de Janeiro?

Após a imensa mobilização de ontem (19 de Janeiro), a Intersindical fez a escolha de uma estratégia de pressão chamando uma nova data de mobilização para daqui a 12 dias. Precisamos usar a oportunidade mas para impor uma outra estratégia: uma greve renovável, contra Macron e a reforma dele. Precisamos construir uma greve de 48 horas em 31 de Janeiro, que sirva de trampolim para fazer o 6 de fevereiro ao lado das refinarias!

sexta-feira 20 de janeiro de 2023 | Edição do dia

Publicamos aqui editorial do Révolution Permanente, nova organização revolucionária na França, integrante da Fração Trotskista pela IV Internacional, assim com o MRT no Brasil e impulsionadora do jornal Révolution Permanente integrante da rede internacional La Izquierda Diario

Esta quinta-feira, a batalha contra a reforma da previdência começou com uma mobilização gigantesca.

A batalha da previdência é lançada com uma massiva mobilização

As cifras são impressionantes: mais de 2 milhões de manifestantes em toda a França; 400 mil em Paris, mais de 100 mil em Marselha, 50 mil em Nantes e Toulouse, assim como mais de dez mil manifestantes em numerosas cidades menores do país pouco habituadas com grandes manifestações como Nice ou Perpignan, que estão todas as duas com mais de 20 mil manifestantes.

Devemos acrescentar que a participação de grevistas é também muito alta. Na energia, nos transportes, na educação, no funcionalismo público, entre os refinadores mas também em numerosas empresas privadas, a mobilização pela greve esteve forte a despeito de um tempo de preparação curto. A ponto de ao fim do dia, nos programas de TV, os editorialistas terem que progressivamente fazer referência às cifras das mobilizações de 2010 e de 1995 para poder fazer comparações. Se a oposição ao projeto de reforma da previdência está massiva nas enquetes de opinião, esta oposição se cristalizou nas ruas. Macron agora está diante de uma mobilização de amplitude inédita, cujos números são muito superiores aos das lutas dos últimos cinco anos.

A Intersindical aposta em uma estratégia de pressão anunciando a data de 31 de Janeiro

Diante desse enorme sucesso, a Intersindical se reuniu para anunciar uma nova data de mobilização das diversas categorias no próximo dia 31 de Janeiro. Uma data distante, que necessitará ser evidentemente investida fortemente, mas cuja escolha nos revela muitas coisas. De cara, ela consagra a hegemonia da CFDT dentro da atual direção do movimento, adotando a linha estabelecida pela central de Laurent Berger antes da reunião.

Em suma, a opção por anunciar uma nova data isolada para 31 de Janeiro, sem propor um plano para construí-la e uma perspectiva para prolongá-la, expressa claramente a estratégia da Intersindical. Na verdade, uma data alternativa como o 26 de Janeiro teria possibilitado uma adesão ao calendário das refinarias, que colocaram sobre a mesa um plano para construir a greve sem fim determinado, ou seja, revovável, o problema é que esta se choca com a lógica que está por detrás do comunicado da Intersindical.

Com seu anúncio, a Intersindical expressa de fato que ela adota uma estratégia de pressão, com grandes mobilizações isoladas que fariam explodir as contradições no campo inimigo para impedir a reforma. No campo inimigo se mostram de fato divisões iniciais, seja dentro da maioria heterogênea de Macron ou de seus aliados Republicanos, que não se juntaram todos a Ciotti. Apesar disso, creditar nossas aposentadorias nas manobras parlamentares e ambições eleitorais desses partidos anti-operários, que são de todo capazes de ceder em aparências antes de contra-atacar no essencial, parece a um jogo perigoso.

Do modo como as estratégias parlamentares da esquerda institucional são impotentes perante a determinação do governo, é somente pela força das nossas greves e mobilizações, com a força que nós estamos construindo, que podemos estar no jogo, como fizemos nas grandes batalhas de 1936 e 1968, passando por 1995 e 2010. Essa questão se torna ainda mais importante num período de crise aguda como a que estamos vivendo, em que o Estado e a burguesia não cederão nada a não ser que tenham medo de tudo perder. Foram nestes momentos que conseguimos nossas principais vitórias no passado, e isto se torna ainda mais verdadeiro num período em que o capitalismo mostra que não tem mais nada a oferecer a não ser o retrocesso.

É necessário impor um plano de batalha sério pela construção da greve renovável

Ainda por cima, Macron não só está apostando seu mandato de cinco anos na reforma da previdência e não recuará facilmente, como, ainda temos, mais a exigir e a ganhar na atual situação do que apenas a derrota da reforma previdenciária. Sob condição, evidentemente, de que as forças do movimento operário e de todos aqueles que rejeitam o projeto se ponham em marcha numa mobilização geral através da greve.

Como ficou demonstrado nesta última quinta-feira, contra o plano da Intersindical que pretende economizar forças e empregá-las ao mínimo numa greve de pressão, é possível construir uma situação completamente diferente: que combine o poder massivo das greve de 1995 - 2010 com a radicalização das mobilizações dos últimos cinco anos. Para isso, é necessário aproveitar o sucesso de 19 de Janeiro para construir rapidamente um calendário que permita generalizar a greve e construir a greve renovável.

Uma greve renovável enorme que unifique todos os setores da nossa classe, dos mais estratégicos aos mais precários, ao redor de um programa que não se limite à derrota da reforma, mas que avance na luta por aposentadorias dignas, a indexação dos salários de acordo com a inflação, e de aumentos para todas e todos. Para tal, é fundamental aproveitar a data de 31 de Janeiro, chamando 48 horas de greve neste momento no modelo do calendário dos refinadores, servindo de trampolim para preparar 72 horas a partir de 6 de Fevereiro antes de entrar em greve com eles.

11 dias para pôr as bases de uma outra estratégia: há urgência!

No entanto, tal objetivo implica aproveitar ao máximo os 11 dias que nos separam do prazo. Em primeiro lugar, discutir e militar sobre este plano, convocando AGs em todas as nossas empresas e locais de estudo, começando a lançar fundos de greve. Aqui, o fim do recesso nas universidades deve ser visto como uma oportunidade para construir uma mobilização massiva da juventude que pode mudar profundamente a dinâmica do protesto.

E também, para que todos os setores convencidos da greve se dirijam para os setores mais precários ou menos habituados a conflitos duros numa lógica ativa de extensão da greve. Subempreiteiros, trabalhadores temporários, empresas sem tradição de luta: electricistas, refinadores, motoristas de ônibus, trabalhadores ferroviários, professores, devem ir ao encontro deles com a mesma vontade de mobilizá-los que os agentes da RATP e da SNCF, que prepararam durante dois meses a data de 5 de Dezembro a partir do final de Setembro de 2019.

Por fim, começar a organizar os elementos de coordenação inter-categoriais dentre os setores. A ausência de algum elemento neste sentido é uma fraqueza do movimento nascente, que impede nossa organização e a atração de mais pessoas para a greve. É necessário ajustar isso para adquirir as ferramentas que nos permitirão construir uma mobilização sólida num período renovável, mas também para conquistar os instrumentos que nos permitirão impor um outro plano de batalha à Intersindical.

Se os setores mais combativos tomarem este plano, podem mudar a subjetividade e a determinação da maioria da nossa classe. Se se opõe à reforma, grande parte deles estão marcados pelo peso de derrotas passadas sob a liderança das burocracias sindicais que lideram o movimento atualmente, e acreditam que o governo conseguirá impor a reforma. A vitória é possível, mas com a condição de impormos uma estratégia eficaz, que combine massividade e radicalismo. Com Révolution Permanente, faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para que isso aconteça, e para mudar o medo de lado.

Leia também: França e Peru mostram o caminho contra a extrema direita e as reformas reacionárias na luta de classes




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