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CORONAVÍRUS | Restrição e triagem de passageiros? Um debate com o Sindicato dos Metroviários de SP

sexta-feira 17 de abril de 2020 | Edição do dia

O governo Doria junto a direção do Metrô de SP, não garantem condições seguras para os metroviários e a população que necessita usar o transporte durante a pandemia. Álcool gel, máscaras, luvas entre outros itens básicos de segurança e higiene para proteção dos funcionários, faltam cotidianamente nas áreas da empresa. Ao contrário dos vídeos de propaganda que a direção do Metrô promove, na prática, atua para não cumprir as orientações da OMS, como o último ato do Diretor-Presidente que permitiu o retorno ao trabalho presencial dos funcionários com mais de 60 anos, emitido horas após a cassação da liminar que o sindicato do metroviários havia conseguido, onde obrigava a empresa a fornecer EPIs a todos funcionários efetivos e terceirizados, além de dispensar do trabalho todos do grupo de risco.

Dentro desse cenário de completo descaso por parte do governo Doria e dos dirigentes do Metrô, a maioria da diretoria do sindicato dos metroviários está defendendo um plano de emergência que em seu conteúdo coloca o controle nas entradas das estações, alegando que apenas os setores essenciais devem poder embarcar nos trens. Sem que o conteúdo desse controle tenha sido discutido entre os trabalhadores na base, o Plano de Emergência entregue pelo sindicato ao governo do estado pede: " - A restrição de entrada de passageiros, nas estações em funcionamento, deverão ser garantidas com critérios de extrema necessidade, a serem definidos e controlados por órgãos definidos pelo Governo do Estado e da Prefeitura Municipal."

Nós do movimento Nossa Classe, minoria na diretoria, defendemos que é necessário um plano de emergência, mas que os trabalhadores tem que decidir qual plano. Consideramos essa política da maioria do sindicato extremamente equivocada. A solução seria impedir a entrada de outros trabalhadores enquanto ainda estão sendo obrigados a trabalhar, exigindo explicações e credenciais, avaliando se sua entrada no metrô é justificada ou não?

Há muitos outros setores (como alimentação, higiene, limpeza, logística e distribuição, energia e combustível, água e saneamento, comunicações, e as cadeias produtivas das quais dependem) que são necessários para responder à crise, e inclusive em relação aos trabalhadores de atividades não essenciais, temos que exigir sua liberação remunerada e paralisação das atividades, nos contrapondo a seus patrões e ao governo, que os obrigam a seguir trabalhando. A diretoria diz abertamente que são o Governo do Estado e a Prefeitura que devem definir os critérios e controlar o acesso. Todos sabemos que isso aponta para que o controle seja feito pela PM (parte dos "setores essenciais" mencionados pela nota do sindicato), ou talvez a GCM, tal como está fazendo Witzel no Rio de Janeiro, com enorme autoritarismo. E se não fosse isso, seriam os metroviários que estariam ainda mais expostos, tendo que controlar e negar acesso a milhares de passageiros por dia.

Justamente ao contrário, um plano de emergência definido pelos trabalhadores, deve se apoiar no que muitos companheiros que estão trabalhando percebem e dizem: a grande maioria das atividades que mais expõe os agentes de estação - venda de bilhetes, linha de bloqueio, fiscalização contra burla - não são necessárias para que o metrô funcione, apenas para que a tarifa seja cobrada, e não deveriam ser realizadas em meio à pandemia. Basta liberar catracas que é possível fechar bilheterias e atender a população ficando em postos muito mais protegidos. Quem está deixando de utilizar o metrô agora é porque pode e quer proteger sua saúde, não por conta da tarifa, e não voltará por isso; medidas como essas podem proteger os metroviários, e se combinar a todas as demais que apontamos para redução do fluxo. Um plano de emergência dos metroviários, deve começar pela contratação emergencial de funcionários efetivos, para suprir os afastamentos, a garantia de acesso a todos os EPIs, licença remunerada para os adoentados e grupo de risco, estendida aos trabalhadores terceirizados.

É essencial lutar também por demandas que estão para além do metrô. É preciso que nossa pauta inclua a luta por testes massivos já, para que o isolamento seja efetivo, pois os testes são indispensáveis para evitar muitas mortes, e tanto Bolsonaro como Dória, Maia, Mandetta, o STF, os governadores, se negam a garantir. É fundamental exigirmos essa medida, entre outras, para garantir todos os leitos, equipamentos e profissionais para o atendimento necessário, como já defendemos em artigos anteriores, para apontar uma solução efetiva, buscando que a população esteja ao nosso lado. Só assim poderemos salvar vidas.

Defendemos em todos os momentos que a diretoria do sindicato deveria chamar a categoria a fazer reuniões por local de trabalho, levantando as demandas da área e elegendo representantes para junto ao sindicato formar um comitê dos trabalhadores, comitê que deveria encaminhar as necessidades das bases e os métodos de luta, definindo inclusive em qual plano emergência o Metrô deveria funcionar. A maioria da diretoria foi contra essa proposta, deixando todas as decisões da categoria para os diretores do sindicato e, quando muito, fazendo enquetes consultivas.

Não concordamos com essa postura, sem estimular a base a se organizar e decidir, ficamos reféns da empresa, que já demonstrou na prática não estar preocupada com a saúde da população e dos metroviários efetivos e terceirizados. É o mesmo que todas as grandes centrais sindicais, como CUT e CTB, estão fazendo no país, deixando os trabalhadores reféns das demissões e chantagens para redução de salários que vêm dos patrões e de todos os setores do governo e do regime.

Por isso chamamos a maioria da diretoria do sindicato dos metroviários a rever sua posição e chamar imediatamente reuniões por local de trabalho, para formar um comitê dos trabalhadores, onde a base decida qual plano de emergência os metroviários devem ter enquanto essa crise durar, um plano que seja a favor da vida e da população, sem pedir ao Estado que reprima quem tentar entrar nas estações porque está sendo obrigado pelos patrões e por Doria a continuar trabalhando.




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