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Editorial MRT | Sem banqueiros e empresários, por um plano de lutas diante do 7 de setembro bolsonarista, das reformas e ataques

A partir dessa terça-feira, 16, iniciou-se formalmente o período de campanha eleitoral. Os fatos políticos que antecederam essa data foram permeados por intensas disputas que delinearam a disposição de forças para outubro. Mais do que isso, está se desenhando o arranjo que irá constituir as relações de poder em 2023, e junto com isso, ganham novos contornos os prognósticos para a situação política, econômica e social para o próximo período.

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

Danilo ParisEditor de política nacional e professor de Sociologia

terça-feira 16 de agosto de 2022 | Edição do dia

O dia 11 de agosto foi uma data fundamental para isso. As principais federações do capital industrial e financeiro se colocaram na arena política. Em especial, a Fiesp e a Febraban tornaram públicas sua “carta pela democracia” em uma clara delimitação da forma de governo que quer Bolsonaro, embora esteja em pleno acordo com os ajustes ultraliberais aplicados pelo bolsonarismo, como mostra o documento oficial da FIESP. Apresentada junto com ela, outra carta, mas com conteúdo semelhante angariou assinaturas de um amplo arco de setores. Empresários, banqueiros e reacionários representantes da política, como Temer, assinaram uma carta ao lado das centrais sindicais, Lula, PSOL e os presidenciáveis do PCB e UP.

Os principais meios de comunicação saudaram esse dia como a grande conciliação nacional em defesa da democracia. Segundo alguns editoriais, bem como o ex-ministro que fez a leitura da carta da FIESP, seria o dia em que o “capital e o trabalho” estavam do mesmo lado. Enfim, a Frente Ampla estava conformada, tendo a chapa Lula-Alckmin como sua representação política, ainda que não tenham dito isso de maneira explícita.

Contudo, diferente da propaganda, os setores que ali estavam representados estão muito distantes de qualquer apreço democrático. Vários desses foram os responsáveis pelo golpe institucional de 2016 que foi o abre alas para que Bolsonaro chegasse ao poder, inclusive apoiando sua candidatura em 2018, após naufragar o plano inicial da burguesia, que era Geraldo Alckmin.

Mesmo no Judiciário, o novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, promoveu uma posse com a presença de Bolsonaro, Temer, Lula, Dilma, Sarney, além de muitos governadores e figuras do regime. Uma imagem que representa uma política de repactuação do regime política após a fratura do golpe de 2016, e quatro anos de governo Bolsonaro, que tem como objetivo manter todos os ataques, reformas e privatizações contra as massas trabalhadoras e populares. Objetivos que esses setores do regime expressaram no dia 11, e com os quais se vê que impuseram uma correlação de forças desfavorável para Bolsonaro, ainda que possa manter ações reacionárias no dia 7 de setembro para manter sua base coesa, e seu projeto reacionário vivo, mesmo que perca as eleições.

Voltando ao dia 11, o que vimos foi uma manifestação para lavar a cara de todos que foram responsáveis para que o Brasil chegasse à atual situação. STF, Fiesp, Febraban, empresários, Temer e uma série de outros setores, buscaram construir um dia de “manifestações” com o objetivo de evitar que a insatisfação contra Bolsonaro se manifeste de forma independente e se volte contra as reformas e ataques, e também relegitimar esses atores econômicos e do regime político após tantos anos de ataques e investidas contra as condições de vida das massas. Para isso contaram com apoio não somente do PT e da CUT, mas também do PSOL, do PCB e
da UP. Mesmo o PSTU, que corretamente não assinou as cartas, foi às manifestações (com um chamado da própria CSP-Conlutas junto com a Intersindical, sem nenhuma delimitação de classe,) se diluindo frente ao dia marcadamente patronal e burguês em defesa de uma vazia democracia que só serve para garantir a manutenção das reformas e ataques.

Nós do MRT não apoiamos essa operação burguesa e patronal, e não participamos desse dia. Denunciamos seu caráter dialogando com trabalhadores e jovens que queriam se mobilizar e buscamos alertar que a Frente Ampla com burgueses não só é incapaz de ameaçar o projeto bolsonarista, como desarma a luta contra as ameaças golpistas de Bolsonaro. Como condição para que ela se conformasse, foram excluídas as demandas mais sentidas da população, ignorando a situação de fome, desemprego e miséria que atingem a maior parte da população pobre e trabalhadora. É uma escolha política consciente, afinal de contas nem Fiesp, nem Febraban, nem os inúmeros representantes da burguesia embarcariam em um dia com esse conteúdo. O que vimos foi nenhuma palavra sobre as reformas e privatizações que são os verdadeiros responsáveis pela alarmante condição de vida das massas. Não admira, já que a FIESP, que havia sugerido que não seria necessário “hora de almoço” para os trabalhadores, que poderiam “comer o sanduíche com a mão esquerda, e operando a máquina com a direita”, agora pedem o respeito aos ajustes e maior flexibilização das normas trabalhistas, no mesmo tom de Paulo Guedes.

O resultado foram manifestações com forte repercussão midiática mas muito baixa participação nos atos, vendendo como aliados aqueles que foram nossos algozes nos últimos anos. De fora ficou a classe trabalhadora e toda população pobre que sofre com as consequências da crise. Mais uma vez se demonstrou, assim como nas manifestações do ano passado do “Fora Bolsonaro” que a suposta “unidade mais ampla possível” contra Bolsonaro, incorporando burgueses e golpistas, não aumenta a força de mobilização nas ruas, ao contrário.

Na contramão dessa verdadeira operação para desarmar a luta dos trabalhadores, jovens, mulheres, negros, indígenas e LGBTQIA+, as candidaturas do MRT pelo Polo Socialista Revolucionário para deputado se apresentam nessas eleições para batalhar por uma perspectiva política de independência de classes e para construir pela base cada uma das lutas que aqui defendemos. Com Marcello Pablito e Maíra Machado em São Paulo, Flávia Valle em Minas Gerais, Carolina Cacau no Rio de Janeiro e Valéria Muller no Rio Grande do Sul nossas candidaturas estão a serviço de se colocar na primeira linha da luta contra o bolsonarismo, ligando ela a luta contra todos os ataques, reformas e privatizações, única política possível para colocar de pé uma força social que reverta o conjunto dos ataques dos últimos anos. Nessa perspectiva, como parte do Polo Socialista Revolucionário que reúne diversos setores que defendem distintas posições no marco da independência de classe, vamos chamar voto na candidatura presidencial do Polo Socialista e Revolucionário, representados por Vera Lucia, do PSTU, e por Raquel Tremembé.

Junto com isso estamos batalhando para que as centrais sindicais rompam com a verdadeira trégua que estão com o governo há muito tempo, e que agora se aprofunda com suas mãos dadas a setores centrais da burguesia e do regime político. Bolsonaro pretende novamente fazer sua política reacionária no dia 7 de setembro, chamando sua base para voltar a reafirmar seu projeto e suas ameaças golpistas, junto aos seus aliados nas forças militares.

Contra isso, precisamos organizar os trabalhadores pela base para exigir das direções majoritárias um verdadeiro plano de lutas, para fazer calar Bolsonaro, os militares e reverter todos os ataques. Repudiamos a movimentação reacionária de Bolsonaro e do governo para o 7S, junto com militares de alta patente que recebem inúmeros privilégios, como salários de mais de 100 mil reais num país que passa fome. Não será com showmícios e com atos eleitorais que a extrema-direita será barrada. Nem mesmo um ato no dia 7 de setembro o PT pretende fazer, dando como razão “evitar qualquer confronto”, convocando para o dia 10 de setembro uma manifestação rotineira de fim de semana. Mesmo as organizações, como UP, PCB e MES, que pretendem chamar atos no dia 07/09, não partem de exigir que as centrais sindicais convoquem um plano de luta real reduzindo a discussão a um debate de datas para mais uma vez fazer manifestações testemunhais como se expressou no dia 11 de agosto. Batalharemos no Polo Socialista e Revolucionário e na CSP-Conlutas para a defesa desse conteúdo, chamando as outras organizações para se somarem a essa perspectiva de construir a luta efetivamente em cada local de trabalho e estudo.

Lula e Alckmin pretendem governar mantendo a aliança que se conformou no dia 11. Ao lado da grande burguesia não irão reverter as privatizações e reformas que ajudaram a aumentar os lucros do grande patronato. Por isso, querem uma eleição afastada de qualquer “turbulência” na luta de classes, preparando sua forma de governar em aliança com aqueles que são parte importante dos setores que levaram Bolsonaro ao poder, o que só irá significar consequências nefastas para os trabalhadores e povo pobre, mesmo em um eventual novo governo Lula. Ao mesmo tempo querem calar o movimento estudantil e a força social que pode representar os estudantes preparando-os, como vimos em seus discursos na USP, para aceitar um governo “difícil” onde “a mudança vai ser lenta, porque primeiro é preciso recuperar a economia e os fundos públicos”, ou seja, será preciso fazer “sacrifícios” enquanto se espera pelas “mudanças que queremos”. São Lula e Alckmin dando o recado de que vão governar para a burguesia, mantendo a obra econômica do golpe institucional. Lembremos, inclusive, que o bolsonarismo ainda que derrotado nas urnas vai seguir existindo como força política reacionária.

Por tudo isso, mais do que nunca é preciso uma política de independência de classes. Convidamos todos os trabalhadores, jovens e ativistas a apoiarem e se somarem ativamente às campanhas eleitorais dos candidatos do MRT, para difundir as ideias e o programa que de fato pode barrar o avanço da extrema-direita, que não irá desaparecer com as eleições. Nossas candidatas e candidatos começaram sua campanha apontando o caminho que precisamos seguir: enfrentar o bolsonarismo e a direita na luta de classes. O que isso significa? Que somente a luta organizada da classe trabalhadora com assembleias, reuniões de base, coordenação das lutas, greves, paralisações, atos de rua em aliança com os movimentos sociais e a juventude poderá derrotar não somente as ameaças golpistas de Bolsonaro como o conjunto dos ataques em curso, abrindo espaço para que sejam os capitalistas que paguem pela crise. Apoiar as candidaturas do MRT é fortalecer essa perspectiva de luta pela base.

É por isso que estamos defendendo como pontos hierárquicos de nossa campanha a defesa da revogação de todas as privatizações e reformas, em primeiro lugar da reforma trabalhista, abolindo qualquer tipo de flexibilização laboral e lutando por plenos direitos trabalhistas, ligado à construção de uma grande batalha pela redução da jornada de trabalho, sem redução de salários, com 30 horas semanais para enfrentar a precarização e o desemprego, na perspectiva da divisão das horas de trabalho entre empregados e desempregados, e da sua unificação. Trabalho digno para todos: basta de naturalização da precarização do trabalho, devemos atacar o fundamento dos lucros dos capitalistas. Enfrentar Bolsonaro, os militares e todo o regime político degradado da burguesia precisa ser feito na luta de classes. Devemos unir forças para exigir das direções majoritárias do movimento de massas, em primeiro lugar da CUT, CTB e UNE, que impulsionem um verdadeiro plano de luta contra Bolsonaro e suas ameaças golpistas, e pela revogação de todas as contrarreformas e ataques.




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