Hoje à tarde, após quatro dias de assembleia e dois atos fortes, os trabalhadores terceirizados da UFRN conquistaram seus salários atrasados há mais de uma semana. Uma vitória inspiradora contra a empresa Criart, a D&L e a Reitoria da UFRN. Foram vários os relatos de trabalhadores passando mal ou chorando durante o expediente diante do desespero das geladeiras vazias, contas atrasadas e ameaças de despejo. Os quatro últimos dias foram, por um lado, inspiradores pela força dessa categoria extremamente precarizada e essencial para o funcionamento da universidade e, por outro, mais uma prova do papel da reitoria e das empresas que continuamente fizeram promessas vazias e ilusórias aos trabalhadores.
sábado 17 de dezembro de 2022 | 00:02
A vitória de hoje é fruto da exemplar luta da categoria que se enfrentou com as chefias com vários estudantes, inclusive membros de entidades estudantis como o DCE. Os estudantes estão também sofrendo com atraso de suas bolsas, tendo em vista o não pagamento delas e dos auxílios (apesar dos avanços conquistados pelas últimas mobilizações estudantis), fruto, assim como no caso dos terceirizados, dos cortes do governo Bolsonaro que descarrega a crise nos setores mais precarizados da população e que perduram desde o começo do mandato, mas que em 2022 foram brutais contra a educação de conjunto. A reitoria, por sua vez, tenta repassar a culpa para o governo ou para a empresa, mas tem responsabilidade inegável na continuidade da política de do presidente derrotado e na aplicação dos cortes aqui na UFRN, pilar de uma universidade que se apoia em trabalho semi escravo terceirizado de uma maioria de mulheres negras, enquanto mantém a imensa maioria da juventude de fora. Enquanto o reitor vive tranquilo com seu gordo e estável salário, trabalhadores estão indo dormir com lágrimas de fome!
Hoje foi o quarto dia de assembleia, dessa vez seguida de ato e com maior adesão tanto dos trabalhadores. Os terceirizados da limpeza ficaram no saguão da Reitoria cantando palavras de ordem junto a estudantes e exigiram uma posição do reitor, decidindo paralisar as atividades até que os salários fossem pagos. Na garagem da UFRN, motoristas terceirizados cruzaram os braços e fecharam os portões, piquetando a saída de carros pela mesma razão. Os trabalhadores da construção civil estão parados desde segunda, todos cansados das voltas dadas pelas empresas e pela reitoria.
Em diversas universidades do país os terceirizados estão pagando pela crise junto aos bolsistas que sem seu pagamento não tem condições de se manterem na universidade. Na UFMG, UFRJ e Unicamp seguem paralisações e mobilizações, e é por isso que não podemos recuar até que todos os salários e bolsas sejam pagos! Que a UNE, a CUT e a CTB, organizações dirigidas pelo PT e PCdoB, convoquem assembleias de base em cada local de trabalho e estudo nacionalmente para que nenhum terceirizado e bolsista fique para trás, tendo que passar Natal e Ano Novo numa incerteza feroz sobre suas condições de vida. Nossa luta precisa ser independente dos governos, dos patrões e da Reitoria, sem aliança com a direita que só tem como objetivo explorar cada gota de suor dos trabalhadores. A derrota de Bolsonaro nas urnas não significa a derrota do bolsonarismo que segue expressando força, , não é confiando na aliança Lula-Alckmin que será possível derrotar essa extrema direita e arrancar as demandas dos trabalhadores, já que na pasta do governo de transição para a educação já se encontram os tubarões da privatização, como o Itaú-Unibanco e Fundação Lemann. A revogação das reformas trabalhista e da previdência, que são responsáveis pelo aumento da precarização do trabalho,não aparece como projeto do novo governo.
Hoje as terceirizadas cantaram no vão da Reitoria junto aos estudantes, inspiradas da greve dos garis do Rio de Janeiro:
ACELERA CRIART
QUE EU QUERO VER
ESSE LIXO VAI FEDER
A REITORIA NÃO PAGOU NÃO
E A UF HOJE NÃO LIMPO NÃO!
Mostrando que quem coloca a universidade de pé tem voz e força para enfrentar o Bolsonaro, os patrões e a Reitoria, e que a aliança operário-estudantil foi o caminho para arrancar o pagamento dos salários!
Defendemos a efetivação dos terceirizados sem necessidade de concurso público como uma necessidade para que todos os trabalhadores tenham seus direitos garantidos sem a ameaça de demissão sempre à espreita que afeta uma maioria de pessoas negras pelo país, em especial as mulheres. É um recurso da Reitoria para não se responsabilizar por quem mantém a universidade funcionando. Ao contrário do que se diz pela burguesia e toda a classe dominante, a terceirização não garante mais empregos, mas permite explorar ainda mais a força de trabalho de cada um em jornadas extenuantes, por isso a garantia de empregos deve vir pela repartição das horas de trabalho entre empregados e desempregados, com jornadas de 30 horas semanais, de 5 horas por dia. Defendemos também bolsas de um salário mínimo com reajuste de acordo com a inflação para que cada estudante possa viver a universidade e tudo que ela tem a oferecer!
Nós, estudantes bolsistas e trabalhadores que construímos a juventude Faísca Revolucionária e o portal Esquerda Diário tivemos a oportunidade de dividir os últimos dias ombro a ombro com estas trabalhadoras, aprendendo da sua determinação e coragem e concretizando a defesa da aliança entre estudantes e trabalhadores, convocando estudantes, tirando fotos de apoio e exigindo a presença do DCE e nossas entidades estudantis como ferramentas de luta. Para nós, é essencial a auto organização democrática desde as bases para organizar nossa luta ao lado des trabalhadores. Estaremos juntos com vocês em cada batalha, porque para nós a juventude precisa estar ao lado da classe trabalhadora , em uma só luta!
