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Garimpeiros da Maçã no RS | Trabalhadores indígenas denunciam trabalho escravo nas colheitas de maçã em Vacaria

Indígenas denúnciam trabalho escravo com requintes de crueldade, onde os trabalhadores são sujeitos a tortura física, chantagem, alojamentos insalubres e comida estragada. Os indígenas denunciam que foram aliciados em aldeias no Mato Grosso do Sul e trazidos para trabalhar em condições analógas a escravidão na colheita das safras de maçã na cidade de Vacaria, no RS. Há registros de alguns indígenas serem literalmente arrastados de suas aldeias para dentro dos ônibus com destino ao Rio Grande do Sul. Há diversos relatos das violências empregadas contra os trabalhadores que chegam ao absurdo de torturas físicas realizadas com facas contra o corpo dos trabalhadores.

quarta-feira 1º de março de 2023 | Edição do dia

“Vai morrer muito índio (...) Índio está sendo escravizado (...) Tem alguns ‘dos pessoal’ que dorme no chão, não tem condição nenhuma de se manter lá. A comida no alojamento é uma porcaria”. Esses são relatos sobre os “garimpeiros da maçã”, como se referem os indígenas que denunciam mais uma situação de trabalho análogo a escravidão no estado.

O caso fica ainda mais nefasto na medida em que essa rede de exploração capitalista supostamente atuava desde as aldeias no MS, vendendo cestas básicas por valores absurdos para “criar dívidas” com os trabalhadores e obrigá-los a se sujeitar a quaisquer condições de trabalho impostas. Uma verdadeira chantagem em nome dos lucros.

“É um trabalho escravo sim (...) A exploração começa aqui, antes da saída deles, as cestas básicas que são vendidas a preços abusivos, além de outros produtos que são vendidos pelos ‘cabeçantes’ nas fazendas, nas usinas, é toda uma rede de exploração que obriga o trabalhador a se sujeitar já, antes de sair para trabalhar, ele já sai devendo (...)”, diz uma das fontes que denuncia a situação.

Ao que tudo indica as empresas têm fontes dentro dos órgãos de fiscalização da região já que há denúncias de que as empresas ficam sabendo da data em que vão passar por vistorias e fiscalização das comissões que monitoram o regime de trabalho. A partir da informação de quando será realizada a fiscalização os dormitórios recebem uma "maquiagem", a alimentação prometida é diferente do que é ofertada no dia a dia, etc.

A face mais nua e crua do que o sistema capitalista pode mostrar: os trabalhadores são obrigados e forçados a trabalharem em situações que remetem à época da escravidão. Esses casos, lamentavelmente, são algo "comum" e "recorrente" nesse Brasil que sempre foi governada por uma elite herdeira direta das oligarquias escravocratas e que não tem nenhum receio de violentar e escravizar indígenas para aumentar seus milionários lucros.

A situação é desesperadora porque alguns dos indígenas não veem alternativa a não ser tirar suas próprias vidas, como o que aconteceu no último dia 11 no alojamento da Frutin, onde um grupo de indígenas da etnia guarani-kaiowá, da Aldeia Paraguassu, de Paranhos, tenta desamarrar um jovem indígena que se enforcou com pedaços de pano em um cabo de madeira. Os trabalhadores sacodem o jovem, na esperança que ele recobre os sentidos, que volta chorando. O indígena que tentou a suicídio voltou para o pomar dois dias depois do ocorrido (na ultima segunda-feira, dia 13).

Confira os registros em vídeo, que mostram um indígena sendo arrastado para o ônibus, imagens das marcas da tortura realizada em um dos trabalhadores, um grupo de indígenas socorrendo um trabalhador que tentava suicídio e registros dos alojamentos.

Os indígenas denunciam as situações nas empresas Rasip (RS), Frutini (RS) e Fischer (SC). “Na Fischer, por exemplo, localizada em Fraiburgo (SC), acontece uma verdadeira chacina. Os crimes acontecem dentro de alojamentos. Acabam fazendo acerto de contas lá e muitos já morreram”, conta uma indígena.

Não é de hoje que ônibus carregados de indígenas cruzam mais de mil quilômetros de estrada, rumo ao Sul. Desde 2015, cerca de 32 mil indígenas do Mato Grosso do Sul foram trazidos para atuar nas macieiras do Sul do Brasil. A prática de procurarem trabalho de migrantes para aumentar os lucros não é uma prática isolada no RS, como vimos recentemente com a greve de Trabalhadores da REFAP (Refinaria Alberto Pasqualini), em Canoas (RS), e no ainda mais recente caso em Bento Gonçalves, onde mais de 200 terceirizados das vinícolas Salton, Garibaldi e Aurora encontravam-se em condições análogas a escravidão. É absurdo e revoltante nos depararmos com esse tipo de situação de exploração e humilhação de trabalhadores, que entretanto é comum no Brasil afora. Como se já não bastasse todos os ataques contra os trabalhadores, como a Reforma Trabalhista e a terceirização irrestrita que precarizam os postos de trabalho a níveis de semi-escravidão.

Todas as reformas e brechas legais, também se mostram como uma prova de que não se pode confiar nem mesmo no poder judiciário, que se utiliza das lacunas burocráticas para chancelar verdadeiros absurdos contra os trabalhadores, quando não se torna uma ferramenta para realização de práticas escandalosas por parte de quem o integra, como o provável repasse de informações do setor público ao empresariado. Tudo isso, sempre em função de favorecer os capitalistas nos seus intentos de exploração mais brutais possíveis. Esperar que a justiça burguesa gentilmente resolva a situação da superexploração no país, ou até mesmo crer que uma simples “multa” serviria para “educar a burguesia escravocrata” é, na verdade, nutrir ilusões sobre o próprio capitalismo, que lança mão desses e outros artifícios para normalizar a brutalidade e a morte da nossa classe em nome dos lucros. Somente a luta dos próprios trabalhadores pode dar fim a esse regime de exploração e a todos os crimes contra a nossa classe.

Escravidão e sofrimento dos trabalhadores é o plano desta patronal do campo e da cidade. A única resposta que leve até o final a luta contra esta exploração é a expropriação dessas empresas, colocando-as sob controle dos trabalhadores, aqueles que colocam de pé tudo que é produzido. Isso só pode ocorrer com uma grande mobilização da classe trabalhadora, unindo empregados e desempregados, efetivos e terceirizados, estudantes e juventude, para fazerem frente contra ao trabalho escravo e precário. Para isso, as centrais sindicais, como a CUT (PT) e a CTB (PCdoB), precisam romper a paralisia e organizar essa luta, inclusive como parte de uma grande batalha pela revogação da reforma trabalhista e de todos ataques que colocam o lucro dos capitalistas acima da vida dos trabalhadores. Confiando nas nossas próprias forças podemos fazer justiça por todos trabalhadores colocados em situação análoga à escravidão e enterrar de vez o legado escravista herdado pelos patrões mundo à fora.




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