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extrema direita | Um breve histórico da extrema direita em Caxias do Sul

Caxias do Sul (RS), sempre foi uma cidade bastante religiosa e conservadora. Cidade que surgiu através da imigração italiana no final do séc. XIX, desenvolveu a industrialização e tornou-se um dos maiores polos industriais do Brasil, concentrando uma grande classe operária. Dessa forma, Caxias apresenta todas as contradições da sociedade capitalista, sendo um palco onde se desenvolve a luta de classes em todas suas dimensões.

Redação Rio Grande do SulRedação Rio Grande do Sul

segunda-feira 10 de setembro de 2018 | Edição do dia

Historicamente, setores de extrema direita se conformaram na cidade, já na década de 20 do século passado, influenciados pelo fascismo italiano. Grande parte da elite caxiense, durante a II guerra mundial, aderiu ao fascismo criando grupos e realizando atos públicos propagando as ideias fascistas. Um desses grupos foi a “Sociedade Príncipe de Nápole”, que reunia em 1936, setores da grande burguesia caxiense, como o industrial Abramo Eberle e também da igreja.

Diversos cidadãos de famílias tradicionais da cidade, como o Dr. Rômulo Carbone, Celeste Gobbato, Hércules Galló, Silvio Toigo (liderança fascista na cidade reconhecido até por Mussolini) e Aristides Germani, que hoje dão nomes a escolas e ruas de Caxias, formavam o núcleo fascista e eram vinculados ao Partido Nacional Fascista (PNF).

Setores da igreja católica também estiveram na linha de frente na perseguição de sindicalistas, comunistas e apoiaram a ditadura militar. Em 1961, quando Luís Carlos Prestes do (PCB) convidado por Bruno Segalla (presidente do sindicato dos metalúrgicos) para uma palestra em Caxias, os estudantes das escolas católicas foram mobilizados pelos padres para invadirem o local da palestra a força para expulsar Prestes. Nessa ocasião, o local foi depredado pelos estudantes em estado de fúria anti-comunista, e quem estava na palestra teve que fugir do local. Na ocasião, o Jornal Pioneiro, voz do reacionarismo e instrumento ideológico da burguesia e da igreja na cidade publicou a notícia nesse tom:

““POR TRINTA DINHEIROS O SR. ROSSI ALUGOU O CENTRAL AO DIABO (…) apesar de reiterados conselhos de amigos, o Sr. Rossi, proprietário do cinema central resolveu alugar sua casa de espetáculos aos elementos que inclusive o combatem, não se lembrando que estava dessa maneira (…) favorecendo a pregação de uma ideologia maléfica”. (jornal Pioneiro, 20/05/1961).”

imagem Jornal Pioneiro

Padres da igreja também eram conhecidos na cidade pelo reacionarismo e como notórios perseguidores de comunistas durante a ditadura militar, como o Padre Tronca e o Padre Giordani. O Padre Tronca, que dá nome a uma rua da cidade, foi o interventor da ditadura militar no sindicato dos metalúrgicos após o golpe militar. Um golpista e reacionário de carteirinha.

imagem Jornal Pioneiro

Atualmente, a extrema direita ganha força e alguns grupos de extrema direita se organizam na cidade, como os saudosistas e delirantes que clamam por uma intervenção militar e a volta da ditadura. Neste ano, na paralisação dos caminhoneiros (locaute patronal), chegaram ao disparate de ir para a frente do quartel da cidade pedir intervenção militar. Esse setor, assim como uma parte da elite e classe média caxiense, se articula em torno da candidatura do candidato ultra-reacionário, racista, machista e homofóbico, Jair Bolsonaro (PSL).

Os golpistas e reacionários do Movimento Brasil Livre (MBL), também atuam em Caxias do Sul, com grupos no facebook onde divulgam suas figuras públicas cômicas, como o racista Holliday, o ultra-liberal Kim Kataguiri e o youtuber infanto juvenil “Mamãe falei”, onde propagam suas ideias reacionárias como o “escola sem partido”, e discursos vazios como “contra a corrupção”, apoiando também o golpe institucional e a lava-jato.

Em 2015, O MBL protagonizou na cidade uma série de manifestações a favor do golpe institucional, “contra a corrupção” reunindo dezenas de milhares de simpatizantes, propagando discursos reacionários, vazios e demagógicos, discursos de ódio e o anti-petismo (que embora irracional, traduz-se de ódio a toda esquerda), queimando bandeiras vermelhas, cantando o Hino Nacional e Rio Grandense e demonstrando toda a boçalidade histórica da extrema direita. Veja o vídeo abaixo:

https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=Ub0ibI2-yPA

O MBL também defende o projeto “escola sem partido”, que pretende instaurar a censura e amordaçar os professores para que não possam debater temas fundamentais em nossa sociedade. Querem que o único discurso oficial seja as ideias dominantes, ou seja, a ideologia burguesa dentro das escolas propagando os valores da sociedade capitalista de exploração e desigualdade como a meritocracia, a competição, o individualismo e o nacionalismo. Sonham em implementar uma verdadeira “lei da mordaça” dos tempos da ditadura militar nas escolas.

É o mesmo partido que conta ainda com a presença de Marco Feliciano, autor de inúmeras declarações racistas, machistas e homofóbicas. Também foi através da família do clã Bolsonaro, que o primeiro projeto de lei do Escola Sem Partido foi encomendado. São esses os principais agentes do Escola Sem Partido, os reacionários inimigos das mulheres e da juventude, exatamente por isso um dos temas mais combatidos pelo Escola sem Partido é gênero e sexualidade.

Para ilustrar essa mentalidade e avanço reacionário que existe em Caxias do Sul, após as ocupações estudantis das escolas em 2016, onde os estudantes lutaram contra a precarização da educação, na escola Cristóvão de Mendoza formou-se uma milícia proto-fascista com traços medievais, chamada “Pais do Bem”. Esse grupo era formado por pais de alunos e também ex-policiais armados. Os “Pais do Bem”, recebiam a diretora da escola quase de joelhos, com imagens de santos, entoando orações católicas e ocupavam os espaços da escola durante as aulas para vigiar e intimidar os estudantes e professores. Em qualquer caso de indisciplina ou manifestação política e cultural era chamada a polícia para reprimir os estudantes, inclusive com ocorrência de agressões físicas à estudantes menores de idade.

Nós defendemos a pluralidade de ideias nas escolas, ao passo que o Escola Sem Partido defende que todo o debate crítico e posicionamento do professor em sala de aula é “doutrinação”. E isso porque são os mesmos partidos que votaram a favor da aprovação da Reforma Trabalhista e pressionam para a aprovação da Reforma da Previdência o mais rápido possível e para isso querem uma juventude – os futuros trabalhadores – sem consciência da realidade social que fica cada vez pior e que não se mobilize nas escolas em unidade com professores, funcionários, comunidade e outros trabalhadores contra, por exemplo, as absurdas Reformas da Previdência e Trabalhista que os partidos por trás do Escola Sem partido defendem.

A extrema direita, também tem grande peso na representação parlamentar institucional em Caxias do Sul e que atua nos mesmos marcos ideológicos que o MBL. Em 2016, o vereador Guilla Seben (PP) tentou aprovar na câmara uma moção de apoio ao reacionário projeto escola sem partido.

Veja em: http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/politica/noticia/2016/08/apoio-ao-escola-sem-partido-vai-a-votacao-nesta-terca-na-camara-de-caxias-7344037.html

Na ocasião o vereador se encontrou com o ultra-reacionário deputado estadual Marcel Van Hatten (PP) em POA. Van Hatten, vive destilando seu ódio anti-comunista propagando mentiras e distorções sobre o comunismo, afirmando que comunismo e nazismo são sistemas iguais, demonstrando assim, sua enorme ignorância e desconhecimento científico sobre o tema. Dessa forma, pretende negar o fato da existência do conflito de classes no capitalismo e que existe exploração, opressão e desigualdades. Tudo isso, com objetivo de servir aos interesses do capitalismo e da burguesia e atacar cada vez mais os direitos da classe trabalhadora.

Veja vídeo em: https://www.facebook.com/marcelvh/videos/van-hattem-connection-o-comunismo-é-uma-fraude-farinha-do-mesmo-saco-de-onde-vêm/1774865089202059/

A cara de pau do MBL chama atenção. Com discurso demagógico de serem “contra partidos”, ou “contra os políticos”, os seus membros na primeira oportunidade saem como candidatos por partidos burgueses tradicionais da extrema direita e assumem até cargos de comissão, como no atual governo de Daniel Guerra (PRB) na cidade. Conforme jornal Pioneiro:

Um dos motivos para o fim do Movimento Brasil Livre (MBL) e o enfraquecimento do Avança Brasil é o envolvimento de alguns representantes desses grupos com a política partidária […] Pelo menos dois nomes que ganharam exposição com as manifestações concorreram a uma cadeira na Câmara de Vereadores: Rodrigo Ramos e Adalberto (Beto) Maurer. Os dois disputaram a eleição do ano passado filiados ao PR e DEM, respectivamente, mas não se elegeram. Atualmente, Rodrigo é cargo de comissão (CC) do prefeito Daniel Guerra (PRB), lotado no Departamento de Arte e Cultura Popular, na Secretaria Municipal de Cultura. Ele ocupa um CC6 com salário de R$ 3.402,73.“

veja em: http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/politica/noticia/2017/03/movimentos-sociais-de-caxias-do-sul-estao-desmobilizados-9733565.html

Embora ultimamente enfraquecida nas ruas devido a conjuntura eleitoral, a extrema direita canaliza as suas forças que se expressam em canais institucionais e vias parlamentares. Além de cargos de confiança e parlamentares, a candidata a vice-presidente da República, Ana Amélia (PP), entrou para o MBL. Outro exemplo, é o prefeito de Caxias do Sul, Daniel Guerra (PRB), que recentemente declarou apoio e voto no racista e homofóbico Jair Bolsonaro, não seguindo seu partido que apoia Geraldo Alckmin (PSDB).

Veja em: http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/politica/eleicoes/noticia/2018/09/prefeito-daniel-guerra-anuncia-que-ira-votar-em-jair-bolsonaro-para-a-presidencia-10569239.html

A extrema direita em Caxias, seja o MBL, os saudosistas da ditadura, os seguidores de Bolsonaro e os parlamentares reacionários, tentam de todas as formas enganar os trabalhadores e a juventude através de suas ideias reacionárias, justamente porque seus discursos são demagógicos, despolitizantes e já provaram na prática que não estão do povo e ao lado da classe trabalhadora. Muito pelo contrário, já provaram em inúmeras vezes que estão a serviço dos inimigos do povo, defendem a privatização dos serviços públicos, são a favor da reforma trabalhista e da previdência, tudo isso para garantir o lucro dos bancos e o interesse dos capitalistas.

Fontes:

Giron, Loraine Slomp. As sombras do Littório: O fascismo no Rio Grande do Sul. Educs. 2017.

http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/politica/noticia/2016/08/apoio-ao-escola-sem-partido-vai-a-votacao-nesta-terca-na-camara-de-caxias-7344037.html

http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/politica/noticia/2017/03/movimentos-sociais-de-caxias-do-sul-estao-desmobilizados-9733565.html




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