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Jean Paul Prates | Um petista com passado neoliberal na Petrobras: para onde vai a empresa símbolo do Brasil?

Lula discursou várias vezes que queria a Petrobras como uma empresa indutora de crescimento e de tecnologia. Milhares de petroleiros votaram na chapa Lula-Alckmin com uma expectativa de retomada da empresa. A privatização total da empresa foi suspensa por decreto presidencial, porém diversas privatizações seguem em curso e o novo presidente da empresa tem extenso currículo neoliberal. Para onde vai a empresa símbolo do país?

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

segunda-feira 30 de janeiro de 2023 | Edição do dia

Jean Paul Prates (PT-RN) assumiu como novo presidente da Petrobras. Sua posse foi comemorada pelos sindicalistas da FUP, dirigida pela CUT e também por outros sindicalistas da FNP que estão alinhados com o governo de Lula e Alckmin. No entanto, o novo presidente da Petrobras tem um extenso passado neoliberal que contrasta fortemente com as expectativas.

Prates foi pioneiro como consultor privado no setor de petróleo, sua empresa de consultoria, a EXPETRO prestou serviço a gigantes imperialistas como a Shell. A Associação dos Engenheiros da Petrobras - AEPET - denuncia que Prates foi um dos autores da lei de quebra do monopólio da Petrobras no governo FHC e foi ainda autor da lei da concessão, para organizar a maneira de privatização dos campos de produção no país.

Essas denúncias localizadas entre os anos de 1997 e 2001 não são algo isolado em sua trajetória política e empresarial já que em pleno governo do golpista Temer ele elogiou o processo de privatizações.

O que é sim novidade em sua carreira é se posicionar contra privatizações, como fez ao assumir o cargo de líder da bancada parlamentar "em defesa da Petrobras" ao se tornar senador em 2019. É com essa credencial que assume a empresa e é elogiado pela FUP (que ignora as denúncias da AEPET).

O que esperar de sua gestão e o que o mercado espera?

Levando em consideração a Bolsa de Valores e seus sinais, as ações da Petrobras se valorizaram 11,78% no último mês, mas ainda estão 23,93% abaixo de seu valor de 6 meses atrás. Traduzindo esses números em texto: os grandes capitalistas investidores na Petrobras e que lucram bilhões ao deter os 65% de seu capital social (aquele que fica com o lucro) receberam bem o nome de Prates para presidente da empresa. Ele atenua (mas não elimina) insatisfações desses acionistas, que preferiam uma empresa em liquidação como sob Bolsonaro.

A Petrobras sob Prates e Lula tende a continuar remunerando fartamente seus acionistas, mas talvez deixe de ser a empresa que mais paga dividendos em todo o mundo, como aconteceu no ano passado ao desbancar a Samsung.

Prates tem extensa carreira na indústria eólica, e em seu estado natal há vastas críticas dos movimentos sociais pela devastação que as turbinas gigantes tem causado e como nenhuma riqueza ficam com as populações. Sob sua gestão já se anunciou que a empresa será uma empresa de energia, é de se esperar investimentos em fontes renováveis, possivelmente com ênfase eólica.

No que tange às privatizações, apesar das reuniões de Prates com a FUP e FNP, ainda não há nenhuma sinalização de suspensão das dezenas de privatizações que estão em curso, inclusive com prazos finais de entrega em meados de fevereiro. Até o momento está garantido um carnaval de lucros aos capitalistas que vão abocanhar as instalações do Rio Grande do Norte e Ceará, ambas com assinatura final da privatização em duas semanas.

Com relação aos preços dos combustíveis, Prates discursou para os acionistas dizendo que não haveria interferência. Ou seja, seguirá havendo algum nível de vinculação com a cotação internacional do petróleo. Descolando os preços nacionais de seus custos de produção e vinculando-os ao preço internacional para maximizar lucros. É conhecido como o ex-senador procurou criar um projeto de lei para criar um "fundo", a partir de impostos à exportação, que servisse de financiamento às empresas pelo diferencial do preço nacional em relação ao internacional. Ou seja, haveria um subsídio público ao lucro dos acionistas. Não está claro qual vinculação do preço internacional o governo Lula irá fazer, mas é possível que exista alguma alteração parcial à vinculação total e imediata que foi praticada por Temer e Bolsonaro. Uma solução de compromisso que mantenha lucros exorbitantes, mas tenha alguma ação política para o governo mostrar.

Há muitas incertezas ainda, seja na determinação dos preços dos combustíveis, seja nas privatizações ou ainda nos investimentos. Mas está claro que não serão suspensas todas as privatizações em curso (há muita chance de continuidade de no mínimo algumas) e menos ainda há qualquer sinalização de retomada de todas as entregas já feitas, a mais notória sendo os ativos da Bahia entregues ao fundo soberano dos Emirados Árabes.

Com o aval dos “mercados”, de Alckmin, de Tebet e de tantos golpistas e privatistas que fazem parte do governo não teremos nem a suspensão das privatizações nem a suspensão dessa espoliação dos trabalhadores brasileiros através do preço exorbitante dos combustíveis, muito menos teremos a reversão das privatizações que já aconteceram. Para isso é necessário que os petroleiros confiem em sua própria força pois pelo caminho da conciliação não teremos a concretização plena e efetiva das expectativas em retomar a empresa como uma empresa estatal e que opere do “poço ao posto”. Para isso os petroleiros podem se apoiar em sua história de luta como na heroica greve contra FHC em 1995, ou na greve nacional contra o fechamento da FAFEN-PR em 2020 e exigir dos sindicatos que organizem um plano de luta para impedir as privatizações em curso, batalhar pela reversão do que foi privatizado e colocar todos recursos do petróleo à serviço da população brasileira, garantindo combustíveis baratos e uma nova relação com o meio-ambiente e populações através de uma Petrobras 100% estatal administrada democraticamente pelos trabalhadores.




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