Trabalho no bandejão da USP e um dia estávamos sentadas no nosso recesso. A Cida estava comigo e eu disse pra ela:
Cida, você é negra.
Eu sou negra nada, eu sou é parda.
Não, Cida, você não é parda. Pardo é papel de banheiro, Cida, por favor. Você é negra. Eu sou negra, e você também é negra.
Tudo bem, passou. Quando foi agora, passado um mês porque isso aconteceu no começo de Dezembro, agora que voltei a trabalhar, ela simplesmente veio falar pra mim:
Vilma, eu lembrei de você quando eu fui tirar minha identidade, porque a hora que o homem perguntou minha cor eu lembrei de você e falei “Sou negra!”.
Aí eu fiquei muito feliz com isso que ela falou. Primeiramente porque ela é uma pessoa que trabalha na limpeza e que aceitou a opinião, aceitou se ver como negra. Porque eu falei pra ela:
Desde que nós nascemos, Cida, todo mundo fala “Você é uma morena bonita”, “Ah, você é parda”. Eles nunca falam pra nós que nós somos negras.
Por isso que eu fiquei feliz, porque agora ela tá passando a gostar que ela é negra. Eu até falei pra ela que ela podia parar de esticar o cabelo, porque o que mais me incomoda é que o povo fica passando esses produto no cabelo pra dizer que não é negro.
Eu acho que se a gente percebe que é negro, percebe também que tem racismo e que precisa lutar contra ele.
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