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Distrito Federal
DF: Semana pedagógica traz Pondé e Karnal em palestras motivacionais para desmobilizar professores
Professor do DF

Nesta semana, está sendo realizada a Semana Pedagógica da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEE-DF), com o tema "Um Novo Tempo". Como parte da programação de palestras, foram convidados o dito filósofo Luiz Felipe Pondé e historiador aspirante a coach motivacional Leandro Karnal.

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Utilizando de seus já conhecidos métodos de palestras motivacionais enfeitados de palavras bonitas e referências a escritores e filósofos, Pondé e Karnal entregam uma enxurrada de balelas pós-modernas que tem como único objetivo apaziguar as demandas por direitos básicos e condições de trabalho por parte dos professores e orientadores educacionais, em um alinhamento completo com as políticas neoliberais de precarização da secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, e do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB).

Nesta quarta-feira, dia 9 de fevereiro de 2022, por meio de live transmitida pelo canal da SEE-DF YouTube, Luiz Felipe Pondé, notório coach/filósofo reacionário que já declarou coisas do tipo: "Não siga gente que discute racismo, antirracismo… Não fique se ocupando com temas trans e contra trans que isso só te deixa burro", chegou a ofender professores ao dizer que "as pessoas trabalhando em casa ficaram preguiçosas".

Imediatamente no chat, os professores que acompanhavam a live começaram a se manifestar contrários a essas afirmações, mas não houve sequer um comentário a respeito por parte da Secretaria de Educação e dos organizadores do evento.

É importante deixar claro que os professores nunca pararam de trabalhar durante a pandemia, primeiro por via remota, utilizando plataformas digitais como Google Sala de aula e Meet, e, a partir de agosto de 2021, de forma híbrida, com revezamento de metade das turmas. Durante esses períodos, inclusive, a carga de trabalho apenas aumentou, pois devíamos usar nossas redes sociais pessoais para trabalho e acompanhamento dos estudantes, atendendo em horários fora do comercial e aprendendo a gravar, além de editar e produzir vídeos sem praticamente nenhum suporte por parte da Secretaria.

A partir de outubro de 2021, as aulas presenciais foram 100% retomadas, numa decisão arbitrária e sem diálogo algum com as categorias de educação. Fomos informados da decisão via noticiários juntamente com a população e, por parte da Secretaria e das Regionais de Ensino, não havia informação oficial alguma. É importante ressaltar que a vacinação para Covid de jovens abaixo de 18 anos mal havia começado, o que significou exposição dos nossos estudantes ao vírus faltando um mês para o fim do ano letivo.

Pondé falou por cerca de uma hora com divagações que pouco dialogam com a realidade dos professores em sala de aula nas escolas públicas e culpou a "falta de educação" das pessoas na internet pelos problemas de interpretação e comportamento. O coach ignora que boa parte dos estudantes não tem celular próprio e, por vezes, nem sequer internet em casa. As atividades passadas durante o período remoto tiveram que ser adaptadas para um modelo impresso no qual o aluno precisa se deslocar até a escola para buscá-las, o que limita muito o alcance desses estudantes ao ensino, pois, com os pais trabalhando o dia inteiro e com medo de perderem seus empregos na pandemia, esse deslocamento não se torna viável.

Na quinta-feira, dia 10 de fevereiro, foi a vez do historiador Leandro Karnal. Apesar do tom mais brando e polido, o discurso muito se assemelhou ao de Pondé, em total alinhamento com a culpabilização individual do trabalhador por problemas que são, de fato, estruturais.

Karnal, ao tentar nos convencer de que, em vez de exigirmos, por exemplo, direito ao reajuste salarial que não é feito há quase 10 anos, temos que não apenas pensar positivo, mas agir positivo por meio de... Meditação. Disse que não dá mais para reclamar da colonização afinal "uma infância ruim não justifica uma vida inteira mal vivida" e que sejamos protagonistas da nossa própria exploração, pois, de acordo com uma metáfora citada por ele, "ostra feliz não faz pérola".

É uma forma atualizada e envernizada de uma suposta saúde mental do infame "não pense em crise, trabalhe" do governo Temer.

O discurso motivador dessas semanas pedagógicas escondem a intenção de individualizar um debate que é de classe, culpando o trabalhador por sua própria precariedade: "O que VOCÊ está fazendo para melhorar a educação?", "Aprenda a não se estressar em uma sala de aula lotada".

Basta de ataques à educação! Só a força dos trabalhadores pode revogar golpes como a reforma trabalhista, previdenciária e as privatizações. Não podemos aceitar que um governo elitista, racista e autoritário como o de Ibaneis Rocha e Bolsonaro nos faça acreditar que "não beber café e meditar" seja o máximo que podemos fazer para lidar com o descaso na educação deste país.

 
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