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Rio de Janeiro
Freixo e seu projeto eleitoral burguês: apoio à sua candidatura reúne capitães do BOPE, PM, capitalistas, liberais e pastores
Simone Ishibashi
Rio de Janeiro
Carolina Cacau
Professora da Rede Estadual no RJ e do Nossa Classe

Os apoios que Marcelo Freixo vem recebendo para a sua candidatura a governador do Rio provam o quando ele assumiu seu projeto eleitoral burguês. Já não é de hoje que o pré-candidato ao governo do Rio de Janeiro pelo PSB costura apoios com nomes da direita e dos setores mais reacionários, tais como representantes do empresariado, da polícia e das igrejas evangélicas. Vendendo a falsa ideia de que essas alianças absurdas seriam vitais para “combater Bolsonaro” e “defender a democracia”, Freixo abertamente diz que “não importa se é de direita, centro ou esquerda, o que nos interessa é a competência técnica”. Uma frase que poderia ter sido dita por qualquer político liberal, que governa para os empresários e capitalistas.

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Foto retirada do Jornal OGlobo: Freixo à esquerda e Fraga à direita.

Primeiro porque neutralidade técnica é algo que não existe. O que sim existe, e é absolutamente concreto são os interesses dos capitalistas que lucram milhões com a precariedade de vida imposta ao povo do Rio de Janeiro. O que cobra seu preço em sangue da população negra e pobre, são as polícias, uma instituição assassina a serviço dos interesses da minoria composta pelos capitalistas, contra a imensa maioria composta pela massa trabalhadora. Portanto, querer combinar interesses irreconciliáveis em prol de um inexistente senso de “bem comum” que envolve policiais e capitalistas é um grande desserviço.

No Rio de Janeiro, os trabalhadores amargam com aumento do custo de vida, desemprego, fome e aumento do preço dos transportes precários, fruto também da política do governador Cláudio Castro, o candidato do mesmo partido de Bolsonaro, o PL. Castro segue a política bolsonarista atacando servidores públicos, privatizando a CEDAE e aumentando cada vez mais a violência policial assassinando os negros e pobres todos os dias. Na disputa para governador, Freixo tem buscado cada vez mais mostrar que a principal diferença entre ele e o atual governador, é que este é um mau gestor público.

A lista com os nomes dos apoiadores da candidatura de Freixo é extensa, e conhecida em serviços prestados aos capitalistas. Constam nela Fernando Henrique, Armínio Fraga, o neoliberal ex-presidente do Banco Central nos anos FHC e exímio defensor dos cortes em Educação e tudo que for necessário para manter o superávit primário, e Luiz Carlos Bresser Pereira, o ex-ministro durante os governos de Sarney e de FHC, igualmente defensor da entrega das riquezas nacionais ao imperialismo e dos cortes aos direitos dos trabalhadores, além do banqueiro e ex-assessor de FHC, André Lara Resende. Ou seja, todos são referências em defender privatizações, retiradas de direitos e entrega de recursos aos capitalistas, e parte de construir uma correlação de forças que no decorrer dos anos abriu caminho para o surgimento da ultradireita na medida em que buscam atacar os trabalhadores. Além disso, constam Nelson Barbosa, ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão, o ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e Marina Silva.

Para saber mais das alianças e o projeto burguês de Freixo, veja neste artigo | Marcelo Freixo assume seu projeto burguês no PSB: um diálogo com quem ainda acha que ele é de esquerda

De braços dados com o alto escalão dos repressores

Igualmente escandaloso, e alinhado com a estratégia de ligar-se a policiais e pastores, são os apoiadores de Freixo na polícia. Não é de hoje que Freixo defende os policiais contra os trabalhadores. Qualquer visita às suas redes sociais constata facilmente a resolução de Freixo em defender melhores condições para a polícia e melhores salários, enquanto as greves como a recente feita pelos garis do Rio de Janeiro não foram sequer mencionadas, e nem falar apoiadas, por ele. Delirando ser possível acabar com as milícias através das CPIs, e de elaborar uma política de segurança pública “mais eficiente” sem assumir que isso servirá para matar mais negros e pobres, Freixo agora traz como apoiadores ninguém menos que o ex-comandante do Bope e da PM, Alberto Pinheiro Neto, o comandante da Escola Superior da Polícia Militar do Rio, coronel Antonio Carballo, e o ex-chefe do Estado-Maior da PM, coronel Robson Rodrigues.

Novamente, uma longa lista de serviços prestados contra o povo negro, pobre e trabalhador é parte do currículo dos apoiadores policiais. Alberto Pinheiro Neto, que em 2015 elogiou um coronel acusado de nazismo, é conhecido como um dos xerifes da Petrobras no período justamente da sangria imposta pela Lava Jato e do golpe institucional. Durante os anos em que esteve à frente da PMERJ aconteceram casos absurdos de assassinatos pela polícia, tal como a chacina de Costa Barros no ano de 2015, quando cinco jovens que saiam para comemorar o primeiro emprego de um deles foram assassinados com mais de 111 tiros. Trata-se de um dos casos mais emblemáticos e revoltantes da violência policial que a cidade do Rio de Janeiro já viu. Durante esses anos somente em Costa Barros, para cada policial morto em serviço no Rio de Janeiro, a polícia matou 24,8 pessoas, mais que o dobro da África do Sul e três vezes mais que os Estados Unidos.

Além disso, desde 2015, Pinheiro Neto atuou na Petrobras junto à Regina de Lucca, ex-secretária nacional de Segurança Pública que havia assumido a chefia das áreas de segurança e inteligência da empresa. A atuação de ambos na Petrobras vinha na rebarba da Lava Jato, e ajudou a instaurar um clima policialesco na empresa em meio à preparação do golpe institucional de 2016, que intensificou as privatizações na empresa.

Por sua vez, o coronel Antonio Carballo e o coronel Robson Rodrigues aparecem como defensores da utopia regressiva de “polícia comunitária”, que mascara que a violência policial do Rio de Janeiro emana da própria desigualdade de classes existente. Não é possível que uma população explorada, cada vez mais empobrecida e oprimida pela polícia possa colaborar em “práticas preventivas” contra ela mesma junto à instituição armada do capitalismo que a cada dia mais mata nas favelas. Não se pode esquecer que o sentido de existência de toda e qualquer polícia é justamente salvaguardar a exploração capitalista, e manter a população trabalhadora e pobre controlada. E, cabe ainda mencionar, que Robson Rodrigues foi um dos implementadores das UPPs no Rio, projeto que nada mais fez que elevar o medo da população trabalhadora e negra, abrir espaço para as milícias e para especulação imobiliária, cuja falência é uma demonstração prática de que projetos implantados sob o discurso de “unir população e polícia” sempre termina com a primeira sofrendo os efeitos da violência policial.

Apoio evangélico: governando com as igrejas

Freixo também vem buscando apoios entre os pastores evangélicos, com a declaração favorável à sua candidatura dos pastores Ariovaldo Ramos, líder da Comunidade Cristã Renovada e apoiador de Lula e do PT, e Aécio Pinto Duarte, da Ordem dos Pastores Batista do Brasil (OPBB).

Como viemos denunciando aqui, Freixo afirmou ao “Estúdio B” que quer “governar com as igrejas" e que conversa semanalmente para consultas políticas especialmente com o pastor Abner, da Igreja Assembleia de Deus, ministério de Madureira, mesma vertente subordinada ao arqui-reacionário Silas Malafaia.

Essa também foi a política levada pelos governos do PT, com acenos e concessões aos grandes pastores-capitalistas, enquanto se negaram a avançar em direitos democráticos como o direito ao aborto legal, seguro e gratuito, abrindo caminho para ofensivas reacionárias como a tentativa de retorno à patologização dos LGBT’s, e a retirada do projeto “Escola sem Homofobia”, que mais tarde daria origem à fakenews do Kit Gay. Enquanto a bancada da bíblia defendia pautas abertamente regressivas, Dilma inaugurou ao lado de Edir Macedo o Templo de Salomão, dizendo que apesar do Estado brasileiro ser laico "citou o salmo de Davi, que ‘Feliz é a nação cujo Deus é o senhor".

Essas relações foram parte do que abriu caminho para a extrema direita, e para os setores golpistas que deram o golpe institucional de 2016, mostrando que os pastores-capitalistas são “fiéis” apenas aos seus objetivos próprios. Com essa busca de apoios de pastores, Freixo repete o receituário petista que já demonstrou cobrar o preço em negação de direitos para os setores oprimidos, mas vai além se propondo a governar com esses setores, que já no governo de Marcelo Crivella, ex prefeito do Rio de Janeiro, mostraram o alto custo para a classe trabalhadora. Na contramão da defesa de um estado laico e separado da Igreja, Freixo se prepara para atuar com eles assim como fazem a extrema direita e a direita em diversos lugares no país.

Construir uma alternativa de independência de classes

Os apoios obtidos por Marcelo Freixo indicam qual seriam as características de um futuro governo. E essas não serão nada boas para os trabalhadores, negros e pobres. É preciso não se deixar enganar, e ver que Freixo busca se aliar com o que existe de mais contrário aos interesses da ampla maioria da população negra e pobre do Rio de Janeiro. Com isso busca nada menos que manter o regime do golpe, e sequer adota mais a retórica de que se trataria de um governo de esquerda, abraçando abertamente a mentira tantas vezes repetidas de que busca articular um governo “democrático” sem classes. Como se os capitalistas que não são bolsonaristas hoje experimentassem a mesma democracia que os pobres e negros do Rio de Janeiro.

Nós do MRT sempre buscamos mostrar que Freixo, nunca defendeu um projeto à serviço da classe trabalhadora e a política reformista do PSOL, permitia ficar a reboque de políticos, que como ele romperam e foram para partidos burgueses. Mesmo com o giro prolongado de Freixo a direita, as principais figuras do PSOL carioca, já declararam seu apoio a ele como governador. Isso é parte da crise histórica do PSOL, que está totalmente diluída na chapa Lula e Alckmin e na campanha de Freixo e acaba de constituir a vergonhosa federação com a Rede, de Marina Silva, financiada pelo Itaú.

Por isso fizemos um chamado a todos os militantes do PSOL que se indignam com essa enorme capitulação e rompam com o PSOL, tirem as lições necessárias nesse processo, para construir uma alternativa de independência de classes nas lutas e nas eleições para trabalhadores, jovens, negros e setores oprimidos. Uma alternativa que defenda um programa revolucionário, que defenda e organize o enfrentamento com os capitalistas para impor uma reforma urbana radical, que coloque as riquezas nacionais a serviço dos trabalhadores sob controle popular, e que acabe com as reformas que retiraram direitos dos trabalhadores.
Um primeiro passo para isso é reagrupar os setores que têm uma posição de esquerda independente do PT, buscando impulsionar conjuntamente todas as ações que surgirem na luta de classes. Nesse sentido, o MRT chama a construir o Polo Socialista e Revolucionário junto ao PSTU, setores do PSOL e outras organizações, para contribuir nesse necessário reagrupamento da vanguarda, que precisa expressar também eleitoralmente uma política de independência de classe.

 
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