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Sintomas dos cortes
Por que o RU da UFRGS está tão precário e com filas enormes?
Giovana Pozzi
Estudante de história na UFRGS

Desde o início do retorno presencial na UFRGS, a situação dos Restaurantes Universitários (RUs) está bastante caótica e qualquer estudante ou trabalhador da universidade é testemunha disso. Filas enormes, comida faltando ou estragada e sobrecarga de trabalho aos terceirizados. Mas essa situação é normal? Sempre foi assim? Como chegamos até aqui e como reverter tamanha precarização? O abaixo-assinado do DCE ajuda ou mais atrapalha o problema?

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As filas gigantescas do RU têm uma explicação, mas a justificativa de que isso “é normal” para o começo do semestre não consegue responder até o fim. Pois se é verdade que as filas em começo de semestre sempre são maiores do que no final, também é verdade que essa diminuição nada mais é que uma consequência da evasão. Ao mesmo tempo, se as filas intermináveis do RU não são uma novidade, fato é que recentemente houve um aumento bastante significativo das filas, da precarização da comida e do trabalho dos terceirizados. Por que isso aconteceu?

Em primeiro lugar, trata-se de uma consequência direta dos cortes bilionários na educação que os inimigos nº1 da educação, Bolsonaro e Mourão, aplicaram ao longo desses 4 anos de governo, que junto ao Congresso e ao STF também aplicou reformas e privatizações para fazer com que sejamos nós a pagar pela crise capitalista. Tudo isso se soma aos consecutivos cortes realizados desde 2015 nas universidades federais, ainda durante o governo Dilma do PT. O resultado, combinado à política bolsonarista e privatista do interventor Bulhões, é o que vemos hoje na UFRGS: precarização dos espaços físicos dos cursos, da assistência estudantil e do trabalho dos terceirizados.

E esse é o segundo elemento crucial para entender a situação dos RUs: a precarização do restaurante universitário aumentou na mesma medida em que se aprofundou a precarização do trabalho dos funcionários que fazem os restaurantes universitários funcionarem diariamente. Hoje temos filas gigantes e demoradas (tanto do lado de fora como do lado de dentro, nos buffets onde a comida é servida ou nas ilhas de pratos e talheres) porque concretamente faltam funcionários para atender tamanha demanda. Há uma sobrecarga enorme de trabalho dos terceirizados por conta disso, além de já estarem submetidos a um regime ultra precário como é a terceirização, que paga salários de miséria (que, com a inflação e crise econômica, mal dá para pagar as contas) e não garante mínimos direitos trabalhistas, e apenas serve para a UFRGS lavar as mãos de qualquer responsabilidade sobre o serviço prestado enquanto algumas empresas privadas lucram em cima da retirada de direitos e das comidas estragadas que servem aos estudantes.

Vimos isso acontecer claramente quando a PRAE-UFRGS inicialmente se pronunciou se esquivando do problema, jogando a responsabilidade para a empresa encarregada do RU centro (SEPAT). Mas não nos enganemos: a reitoria e o Conselho Universitário da UFRGS são tão responsáveis pelo caos dos RUs quanto as empresas privadas que prestam serviço à universidade, já que foi inicialmente a administração da Federal gaúcha que implementou o regime precário da terceirização dentro da universidade. A UFRGS responde ao problema mudando a empresa, como a PRAE anunciou ontem (21), avisando que a empresa GN Refeições Coletivas Eireli irá assumir os RUs do centro e da saúde a partir de agosto. Porém isso pode significar, em primeiro lugar, a demissão em massa dos atuais terceirizados, além de que as rotações de empresas sempre aconteceram e nunca se resolveu o problema, porque a estrutura da questão é a terceirização. Defender a real melhoria no atendimento dos RUs passa diretamente por defender primeiramente a manutenção do trabalho dos atuais funcionários, a imediata contratação de mais funcionários e ser intransigentemente contra a terceirização, batalhando pela efetivação dos terceirizados sem necessidade de concurso público para que eles tenham os mesmos direitos que qualquer funcionário público dentro da UFRGS. Isso é o que pode garantir a melhoria do serviço, com mais direitos e menos sobrecarga.

As filas gigantes afetam principalmente os alunos que precisam do RU, via de regra os mais pobres, pois muitas vezes perdem aulas e disciplinas por conta dessa situação, já que a oferta de horários das disciplinas é restrita na universidade. Ou seja, tanto estudantes quanto trabalhadores saem perdendo diante dessa precarização. E por isso, a luta contra a precarização dos RUs passa necessariamente pela luta contra a precarização do trabalho. Para isso, é imprescindível que haja unidade entre os estudantes e os terceirizados. E infelizmente o papel que o atual DCE vem cumprindo, dirigido pelo Juntos/PSOL, Alicerce/PSOL e Correnteza/UP, vai na direção contrária dessa batalha. Seja no abaixo-assinado que estão impulsionando, nas falas em frente aos RUs ou nos panfletos, não há uma palavra sequer sobre a situação dos terceirizados nem exigência a novas contratações, muito menos política contrária à terceirização.

Em suas reivindicações, vemos apenas demandas estudantis por melhoria no serviço, o que acaba aprofundando a divisão entre estudantes e terceirizados na medida em que não se coloca ao lado dos trabalhadores, porque a chefia utiliza esse tipo de pressão por demandas estudantis para fazer os terceirizados trabalharem mais e mais. Concretamente, na medida em que o abaixo assinado sequer exige mais contratações, ele pode ser muito funcional para a chefia abusar e assediar os trabalhadores, culpando-os pelas filas grandes. E tampouco a política levantada por outras organizações do movimento estudantil, como o “Eu Defendo a UFRGS” levado a frente pelo PT, UJS e Afronte/PSOL, é capaz de responder a situação dos RUs, uma vez que o máximo que conseguem defender é a demanda abstrata de “RU de qualidade já!”, mais uma vez sem mencionar os trabalhadores ou a terceirização. A realidade é que seria um crime se a diminuição das filas, do jeito que o DCE ou Eu Defendo a UFRGS propõem, significasse um aumento do já sobrecarregado trabalho dos terceirizados, ou mesmo demissão. Uma melhoria imediata na vida dos estudantes não pode significar uma piora na vida dos terceirizados!

Recentemente, nós do Coletivo Faísca Revolucionária e do Esquerda Diário recebemos uma denúncia de uma terceirizada da UFRGS dizendo que elas são invisibilizadas dentro da universidade. O movimento estudantil não pode corroborar com essa invisibilização que é levada a frente pela reitoria e pelas empresas privadas, atuando de modo estudantilista ao exigir serviços prontos sem se importar com os trabalhadores que garantem esses serviços. Pelo contrário, precisamos de um movimento estudantil profundamente aliado aos trabalhadores, que esteja ombro a ombro dos terceirizados contra a precarização do trabalho, a intervenção e os cortes na educação, pois são inimigos comuns aqueles que enfrentamos e que tentam a todo custo descarregar a crise capitalista em nossas costas.

Por tudo isso, viemos levantando uma campanha de unidade entre estudantes e trabalhadores contra a precarização dos RUs, por contratação imediata de mais funcionários e pela efetivação dos terceirizados sem a necessidade de concurso público. Chamamos todes a se somarem nessa campanha e construirem ela com a gente em seus cursos.

Leia mais sobre a campanha: Basta de filas e precarização nos RUs! Pela efetivação das terceirizadas sem necessidade de concurso!

Esses debates são ainda mais importantes frente ao fato de que se aproximam as eleições ao DCE da UFRGS depois de 3 anos, onde está colocado para o movimento estudantil discutir quais bandeiras precisamos levantar para construir um movimento estudantil combativo e que se enfrente de maneira consequente contra a extrema-direita, os cortes, as reformas e todos ataques e ameaças golpistas. Para nós da Faísca Revolucionária essa batalha precisa ser dada em unidade com os trabalhadores, os únicos verdadeiramente interessados em defender até o fim a educação pública, e não em aliança com a direita como refaz o PT através da chapa Lula-Alckmin.

 
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