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Unicamp
Demitindo terceirizadas, Tom Zé também ataca a permanência estudantil na Unicamp
Sagui
Juliana Begiato
estudante de Ciências Sociais da UNICAMP

Nas últimas semanas se intensificou a denúncia da troca da licitação da empresa responsável pela administração dos Restaurantes Universitário da Unicamp, o que pode levar à demissão de pelo menos 330 trabalhadoras e trabalhadores contratados pela FUNCAMP, com corte de direitos, e aprofundamento da terceirização na universidade. Além do próprio absurdo de como o processo tem se dado, também chamam a atenção os impactos dessa mudança na universidade contra o conjunto dos estudantes.

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Veja também: Manifesto contra a demissão das terceirizadas do bandejão da Unicamp

Em primeiro lugar, é necessário colocar o interesse da reitoria pela terceirização dos funcionários. Esse tipo de vínculo trabalhista precariza e explora ainda mais um setor de trabalhadores que é base para o funcionamento da universidade. Foram os que tiveram que se expor ao longo de toda a pandemia, já que são responsáveis pelo fornecimento da alimentação a grande parte do campus, incluindo os hospitais, e que forem condicionados a um aumento de trabalho com a volta às aulas para garantir os protocolos sanitários. Mas, além disso, a terceirização auxilia na rotatividade do trabalho, causando maior pressão de produtividade, e maior descaso das empresas com seus trabalhadores, que os jogam de um canto a outro quando há acidentes ou denúncias de más condições do ambiente de trabalho. É uma contradição que uma das maiores universidades da América Latina, referência nas pesquisas sobre precarização do trabalho, terceirize seus trabalhadores para pagar menos direitos e precarizar os serviços.

Esses pontos, que são a face cruel da terceirização, da qual o maior contingente de trabalhadores são justamente as mulheres e negras, também afetam os estudantes. Agora nos bandejões será uma empresa diretamente do ramo terceirizado que já foi punida no Rio de Janeiro por falta de higiene e servir comida estragada em presídios aos quais presta serviço.

Ainda nesse sentido, não à toa, em conversas com os trabalhadores que estão preocupados com seus empregos, mas também com o serviço de alimentação que será ofertado aos estudantes e funcionários da Unicamp, alguns informam que os representantes da empresa questionam a repetição das refeições e o valor cobrado do bandejão. Sendo que nesta semana, a reitoria anunciou através do Conselho Universitário (CONSU), seu interesse em pautar novos valores para serem cobrados por refeição. Vale ressaltar também que o CONSU, maior órgão deliberativo da universidade, é extremamente antidemocrático. Nessa estrutura de poder, os estudantes e trabalhadores efetivos têm apenas 15% de representação cada, e as trabalhadoras e trabalhadores terceirizados sequer têm espaço.

Deste modo, essa nova reitoria do Tom Zé, que é professor titular da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA/UNICAMP), que já em sua candidatura se colocava contra os candidatos abertamente liberais e de direita, que se dizia defensor da permanência estudantil, da progressão de carreira dos trabalhadores e mais contratações de professores, com um discurso de “inclusão”, vem mostrando que toda a preocupação com o orçamento da universidade é para fazer com que os estudantes e trabalhadores paguem pela chamada crise fiscal.

Só nesse ano, a nova reitoria do Tom Zé já carrega a denúncia de precarização das condições de higiene no Hospital das Clínicas da UNICAMP, por ter tido um déficit da coleta dos resíduos hospitalares no período noturno. Situação que se ligou à denúncia posterior, feita pelo conjunto dos trabalhadores no início do ano, que reconheciam que havia aumento de casos de Covid e a falta de funcionários adequada à demanda, sendo que parte da resposta da Unicamp foi punir as trabalhadoras da saúde por sua mobilização contra as condições precarizadas de trabalho.

Ainda sobre a saúde, em maio deste ano, os médicos que cursam a especialização de residência em Ortopedia e Traumatologia no Hospital das Clínicas da UNICAMP anunciaram seus desligamento por estarem em más-condições de trabalho, causadas por alta carga horária semanal associada ao número de plantões e a quantidade reduzida de residentes.

Também por parte dos estudantes houveram manifestações. Uma diretamente com o mote de “Nenhum estudante, trabalhador e professor fica pra trás: por um retorno seguro e contra o ensino híbrido! Por mais democracia, mais contratações e permanência estudantil já!”, uma vez que o retorno se dava sem maior diálogo com o conjunto dos estudantes e já nas primeiras semanas se viu as grandes filas nos restaurantes e o fracasso dos “robôs educativos” que custaram milhões para a universidade. Além disso, em maio também houve um ato organizado pelos estudantes do Instituto de Artes (IA), que denunciava a precarização histórica do instituto, culminando em falta de estrutura para as aulas e corpo docente para ministrá-las.

Assim, embora a nova reitoria exalte o reajuste no valor das bolsas e aumento do número de contemplados ocorrido nesse ano, os números ainda são baixos frente ao que seria necessário, o que leva a que estudantes recorram à complementação de renda ou a trabalhos exaustivos. Fator que, somado à possibilidade de precarização no serviço de alimentação e aumento no valor do bandejão, acarreta dificuldades de permanência estudantil.

Tudo isso apenas confirma que o discurso de "gestão do diálogo" e "defesa da democracia" é demagógico e seletivo, quando se trata da maioria da universidade, das trabalhadoras mais precárias, dos estudantes que precisam de permanência estudantil para seguir na universidade, e com a própria qualidade dos serviços prestados.

O descaso com as trabalhadoras da FUNCAMP que serão demitidas na troca de licitação, fora os próprios funcionários efetivos que ainda seguem no RU, que verão seu setor ser terceirizado e serão realocados de suas funções contra a sua vontade, e o menosprezo aos estudantes ao colocar uma empresa que já foi punida no Rio de Janeiro, apenas reforça o caráter anti-democrático dessa estrutura de poder da universidade, que mais uma vez deixa claro a quem cabem as decisões.

A reitoria de Tom Zé se diz defensora da democracia e quer aparecer como oposição ao governo de Bolsonaro, mas nos âmbitos da instituição leva a frente essas medidas de precarização tanto dos estudantes quanto dos trabalhadores. Depois de passar pelo filtro social que é o vestibular, os estudantes precisam lidar com os problemas de permanência e são os estudantes mais pobres, os estudantes negros, os que mais sofrem com essas medidas. Os filhos dos trabalhadores que mantêm a universidade de pé, os filhos das trabalhadoras terceirizadas do bandejão que se expuseram ao vírus a pandemia todo, que inclusive morreram por covid, como lourdes e edvânia, e que agora são colocadas na rua em meio à inflação e desemprego, os filhos dessas trabalhadoras muitas vezes não têm acesso ao ensino que deveria ser público. Para que a população pobre e negra tenha acesso, e não entre apenas pelas portas dos fundos da universidade, nos trabalhos mais precários, precisamos defender o fim do vestibular e permanência para todos que precisam.

Por isso, como parte do movimento estudantil, nós da Faísca Revolucionária viemos impulsionando o Comitê em defesa das terceirizadas na Unicamp, junto a outros setores e entidades da universidade. É fundamental rechaçar essas demissões e mostrar que a luta na universidade deve ser uma só, por acesso e permanência estudantil, mas também contra a terceirização, por todos os direitos dos trabalhadores e pela efetivação sem necessidade de concurso, com isso enfrentando essa estrutura de poder.

Veja mais: Manifesto contra a demissão das terceirizadas do bandejão da Unicamp

 
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