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Permanência estudantil
Orçamento da UFPE acaba em setembro, sem nenhuma reação das entidades estudantis e sindicatos
Gabriel "Biro"

Esta quinta, dia 11 de agosto, foi o dia do estudante, na mesma semana em que a UFPE comemora seu aniversário e a situação da universidade é calamitosa. Os cortes sistemáticos à educação e à pesquisa científica já vinham estrangulando o orçamento da instituição e após o último corte proferido por Bolsonaro, o caixa da Universidade Estadual de Pernambuco se esgotará em setembro.

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Foto: Divulgação

Desde o início do ano, no momento em que Bolsonaro realizou o novo corte, antes do retorno das aulas presenciais, já havia sido publicizado em evento público organizado pela reitoria, que a UFPE não teria orçamento para terminar o ano. Agora estamos há dois meses do esgotamento orçamentário indicado pela reitoria, e ainda não temos nenhuma movimentação e organização por parte do movimento estudantil e dos sindicatos de técnicos administrativos e professores.

Os diversos cortes às universidades realizados pelo excremetíssimo presidente Bolsonaro, em um histórico de já constante precarização da universidade pública, vem colocando a UFPE em um cenário de urgência. Para os estudantes faltam condições de permanência por todos os lados, fazendo explodir a evasão estudantil, afetando os filhos da classe trabalhadora, que mesmo conseguindo furar o filtro elitista e racista do vestibular, não conseguem terminar os cursos. Sem contar os altos índices de precarização, desigualdade e violência policial de Pernambuco contra a juventude negra. A política do governo do estado de Paulo Câmara (PSB) tem piorado ainda mais as condições de vida da juventude, com Recife, sob a prefeitura de João Campos, sendo considerado uma das piores cidades do mundo para um jovem viver .

Os limitados Restaurantes Universitários seguem fechados, a precária moradia estudantil não dá conta de todos que precisam, e o insuficiente auxílio moradia está ainda mais restrito. As bolsas também estão sem reajustes há anos. Enquanto isso, a inflação dos produtos básicos aperta a corda do lado de fora da universidade, tornando ainda mais difícil para os estudantes, que vêm de todo o país para a UFPE, pagarem suas contas de moradia e alimentação.

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Os prédios e a estrutura física UFPE, que há muito clamam por reforma e manutenção, estão em estado de abandono. Durante as fortes chuvas de inverno, que vêm todos os anos, inúmeros prédios alagaram, destruindo o escasso patrimônio público. As bibliotecas são tristes de se vê, carecem de livros, de condições básicas de estudo, de iluminação, ar condicionado, e muitas seguem vazias mesmo com o retorno presencial. Para não mencionar os recursos informacionais.

Para os servidores, professores e trabalhadores da universidade a precarização é uma constante. Com cada vez menos professores e funcionários, sem reajuste salarial, a carga de trabalho aumenta dia após dia, assim como as contratações precárias, temporárias, sem estabilidade, com salários menores e sem direitos. A terceirização, que divide, precariza e privatiza, também se expande por todo o campus.

Diante de tanta precarização, as portas para a privatização se escancaram tornando os centros que já se venderam para o capital privado e empresarial ainda mais dependentes, e aqueles que resistem ficam com a faca no pescoço. Uma realidade que invade o Hospital Universitário pelas porta de trás, através das OSs, destruindo as relações de trabalho e o atendimento à população.

Diante do desfiladeiro, reina a apatia das direções do movimento estudantil e dos sindicatos

A crítica situação em que se encontram as universidades públicas e a UFPE não é novidade. Como já foi dito, a situação limite em que a instituição se encontra já havia sido informada pela reitora em evento público junto a comunidade acadêmica.

Na ocasião a promessa de uma aliança da reitoria e da burocracia acadêmica junto ao movimento estudantil e sindicatos terminou em um pequeníssimo ato em frente a Faculdade de Direito, e desde então, nada mais foi feito. As aulas presenciais retornaram e nenhuma recepção foi preparada pelo DCE, dirigido pela Correnteza (UP) e pela Juventude do PT, e entidades estudantis.Nenhuma assembleia presencial foi convocada para reorganizar o movimento estudantil após dois anos de pandemia e ensino remoto, que agora cobra um alto preço na desarticulação política da comunidade acadêmica. Apenas foi realizado um ato simbólico pela reabertura do RU, convocado pelo DCE horas antes. Com todo esse tempo de paralisia que poderia, como mínimo, ter sido utilizado para preparar este importante e crítico retorno presencial, organizando o movimento estudantil para enfrentar os enormes desafios colocados após tantos anos de um governo de extrema direita que escolheu a educação pública como um de seus alvos prioritários.

Por parte dos sindicatos de professores e funcionários não foi diferente. Após toda a resistência e desgaste durante a pandemia, com o movimento contra o retorno presencial inseguro, que ameaçava a saúde e a vida dos trabalhadores, quando se efetivou o retorno das atividades presenciais, nenhum organização está sendo propostas por essas entidades para lutar contra os cortes e se enfrentar contra o futuro trágico eminente.

A reitoria por sua vez anunciou os efeitos do corte, porém nada foi informado sobre como seria utilizado a pouca verba que resta, nenhuma garantia de que os estudantes e trabalhadores não seriam atingidos. Resultado disso, é que após meses de retorno presencial, os restaurantes universitários seguem fechados e o preço dos cortes é pago pelos estudantes. Nem poderia ser diferente vindo da burocracia acadêmica que se sustenta em uma estrutura de poder completamente antidemocrática, onde trabalhadores estudantes não têm absolutamente nenhuma voz no conselho universitário e nas decisões dos rumos da universidade.

Um caminho para enfrentar os cortes, e defender a universidade pública e a UFPE

Frente a este cenário é preciso debater os rumos do movimento estudantil e os desafios para todes aqueles que querem se enfrentar verdadeiramente contra os cortes do governo Bolsonaro, e o desfiladeiro próximo para qual ruma e UFPE.

O primeiro desafio é superar as atuais direções burocráticas do movimento estudantil que, neste momento, se preocupam exclusivamente com as eleições do DCE e se tornam um verdadeiro freio para as lutas e contribuem para a desorganização do movimento estudantil. Para a vanguarda, que se recusa a abaixar a cabeça, é fundamental combater as atuais direções lutando pela auto organização do movimento estudantil, através de assembleias de curso e uma urgente assembleia geral, para traçar um plano de lutas, reorganizar as entidades de base a serviço da luta, preparando greves e paralisações e exigindo das direções, tanto da UFPE, do DCE e da UEP, assim como das entidades nacionais como a UNE, dirigida pela UJS (PCdoB que hoje faz parte da base do governo do PSB em Pernambuco), para cessarem o pacto de paz eleitoral para com governo e convocarem assembleias de base presenciais, democráticas, com direito a voz e voto a todos os estudantes das universidades públicas.

Por outro lado, precisamos de um programa que se choque não apenas com os cortes, mas com o projeto de universidade elitista, privatista e racista atualmente implementado. É preciso defender uma universidade pública a serviço da classe trabalhadora e da população, e um movimento estudantil que se ligue com toda a juventude hoje excluída dos direitos ao estudo de qualidade e gratuito.

Para isso é fundamental exigir da reitoria abertura dos livros de contabilidade e imediata democratização de decisão dos rumos da universidade e a utilização dos seus recursos, onde cada membro da comunidade acadêmica tenha o mesmo peso, ou seja, cada cabeça um voto, para forma um governo universitário tripartite com peso proporcional de cada categoria, através de um estatuinte universitária. Assim podemos garantir que nenhum corte recairá sobre os estudantes e trabalhadores.

É preciso também rechaçar a privatização, lutando imediatamente não só contra os cortes, mas a ampliação de investimento público, assim como a incorporação imediata de todos os trabalhadores terceirizados e temporários ao quadro de efetivos, sem necessidade de concurso público. Assim acabando com a divisão e a precarização que enfraquece os trabalhadores e a nossa luta.

É fundamental também ganhar como aliados toda a população e a juventude fora da universidade pública, e que são obrigadas a pagar pelo ensino privado, defendendo o direito universal ao ensino superior. Para isso é preciso defender o fim do vestibular e a imediata estatização das universidades privadas, que foram financiadas com dinheiro público.

Por fim é preciso tirar lições. O projeto de conciliação de classes, hoje conduzido pelas direções da UNE e das grandes centrais sindicais, por suas vez dirigidos pelo PT e pelo PCdoB, criaram um verdadeiro pacto de paz eleitoral, apostando todas as fichas na chapa Lula-Alckmin, enquanto todos os ataques seguem passando sem resposta, para depois gerir a terra arrasada. Esta estratégia de conciliar com nossos inimigos tem nos levado a derrotas atrás de derrotas há décadas. Tirar lições significa compreender a importância fundamental de mantermos sempre nossa independência política para enfrentar a direita a extrema direita e seus planos econômicos e sociais de destruição da educação e da universidade pública.

 
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