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Editorial do MRT
Contra a extrema-direita, construir uma força dos trabalhadores independente do novo governo e do regime
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED

Terminadas as eleições de 2022, o sentimento de alívio pela derrota de Bolsonaro se misturou com uma forte preocupação diante dos bloqueios e manifestações bolsonaristas pedindo a intervenção militar. As eleições não resolveram o problema do país e é preciso se preparar para os próximos acontecimentos construindo uma força dos trabalhadores, aliados aos movimentos sociais, independente do novo governo e do regime. Neste editorial apontamos 5 questões chave dos desafios da esquerda revolucionária neste momento.

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1) Uma análise marxista da situação

As eleições mostraram que o bolsonarismo seguirá existindo e com uma dualidade: institucionalizado como uma força de extrema-direita dentro do regime mas com uma ala radicalizada atuando nas ruas para tensionar pela direita essas mesmas instituições do regime, como vimos com os bloqueios e manifestações golpistas que, ainda que minoritários, seguem. Para fazer frente a essa força reacionária de massas o PT buscou a mais ampla frente com todos aqueles que protagonizaram inclusive o golpe institucional de 2016. Buscando dar sobrevida e de alguma maneira ser incubadora de uma nova cara para a velha direita no país, o PT tentará cumprir mais do que nunca o papel de conciliação de classes atendendo aos inúmeros pedidos do capital financeiro que se expressam nos editoriais dos jornais burgueses: qualquer concessão, por menor que seja deve vir acompanhada de "garantias" ao mercado, isso é, mais reformas e compromissos com suas questões mais sagradas, como a dívida pública. Portanto, se a derrota eleitoral de Bolsonaro é sentida como um alívio para o conjunto da população, é preciso ter clareza de que a chapa Lula-Alckmin assumirá um país dividido ao meio e com um governo ajoelhado aos empresários e capitalistas sedentos por aumentar a taxa de exploração da classe trabalhadora. Os 4 anos de terror com Bolsonaro e a dificuldade que se mostrou em derrotá-lo nas urnas, mesmo com a amplitude da chapa Lula-Alckmin, tendem a levar a um período de maior ilusão neste governo, dando-lhe tempo para “colocar a casa em ordem”. A principal chantagem feita pelo governo será a de que nada deve ser criticado, do contrário, poderá fortalecer a extrema-direita. Mas essas ilusões, ainda assim, podem se chocar com o nível de direitização da escolha dos ministros do governo e com a situação econômica e suas consequências no país.

→ Para uma análise mais completa da situação política leia De Bolsonaro a Lula: o que acontece no Brasil?

2) Enfrentar a extrema-direita e as reformas com mobilização

Isso significa que a bandeira de enfrentamento à extrema-direita segue na ordem do dia. Diante dos bloqueios bolsonaristas as centrais sindicais precisavam ter organizado a luta com uma forte frente única operária para dissolver os bloqueios que pediam intervenção militar. Ao contrário disso, a CUT chamou a confiar nas instituições e Gleisi Hoffmann, presidente do PT, condenou qualquer ação promovida por movimentos sociais e dos trabalhadores para levar à frente essa tarefa. Se tratava de defender o sufrágio universal da população, mas combinando com as bandeiras econômicas da nossa classe que sofre as consequências do golpe institucional e dos 4 anos de governo Bolsonaro com fome, reformas, desemprego e precarização. A chapa Lula-Alckmin já deixou claro que não irá revogar as reformas anti-operárias e começará a debater as reformas administrativa e tributária que também terão consequências para a classe trabalhadora. Ter como parte do enfrentamento à extrema-direita a bandeira de revogação integral de todas as reformas, ataques e privatizações deve ser ponto fundamental de qualquer mobilização dos trabalhadores. Da mesma maneira é preciso rechaçar qualquer relatório das Forças Armadas sobre as eleições e toda a tutela militar no processo eleitoral avalizada pelo TSE.

3) Os trabalhadores precisam se organizar de forma independente do novo governo eleito

Neste sentido, diante de tamanha viragem do marco estratégico no país há uma questão elementar para todos que se reivindicam marxistas sobre a localização diante do novo governo. É preciso ter independência política diante do governo Lula-Alckmin. Parte da esquerda já anunciou sua entrada no governo, como o PSOL-Rede que integrará até mesmo o governo de transição, que conta com a participação de notórios neoliberais, como Armínio Fraga, Edmar Bacha e Lara Rezende, do Plano Real. Se o PSOL já estava dissolvido em uma Federação com a Rede financiada pelo Itaú, dando sobrevida a esse partido arquitetado por tucanos diante da cláusula de barreira, agora completa sua diluição integral dentro de um governo de transição comandado pelo neoliberal Geraldo Alckmin. Qualquer corrente que siga sendo parte deste processo está abdicando do marxismo. Sem independência política e organizativa do governo eleito não há nenhuma alternativa a ser construída. Se trataria de assumir que a tarefa seria construir o governo de conciliação de classes integrado ao regime político degradado que vivemos hoje no Brasil. É a contramão não só de qualquer saída revolucionária e socialista, mas da batalha contra as reformas e pelas necessidades mais imediatas da classe trabalhadora e dos oprimidos, e não tem absolutamente nenhuma relação com o marxismo. Os centros acadêmicos e sindicatos precisam de independência do governo para defenderem os interesses dos estudantes e dos trabalhadores. Por isso será fundamental e decisivo buscar todas as iniciativas de interlocução entre os setores da esquerda que querem se manter independentes desse novo governo.

4) Nenhuma confiança nas instituições do regime como o STF, TSE e Congresso Nacional

As instituições do regime como STF, TSE e parte do Congresso Nacional foram atuantes no impeachment da direita contra Dilma Rousseff e na prisão arbitrária de Lula. Hoje, de acordo com interesses capitalistas e da ala dirigente do imperialismo norte-americano (os Democratas de Obama e Biden), se realinharam na defesa da chapa Lula-Alckmin. Alexandre de Moraes passa a atuar como um árbitro político de poder incontestável, que se hoje atinge setores da extrema-direita, em breve atingirá a classe trabalhadora e suas greves, como recentemente fez o STF com a greve da educação de Minas Gerais. A esquerda socialista e revolucionária não pode aplaudir o fortalecimento do poder repressivo das instituições que se alçam como forças bonapartistas no país, porque se trata da degradação dos direitos democráticos, e não de sua defesa. Portanto, é necessário total e completa independência das instituições sem nenhuma confiança de que estes representantes da burguesia eleitos por ninguém irão deter a extrema-direita, e muito menos resolver os problemas da nossa classe ou conceder direitos como o direito ao aborto, ainda mais com um Senado e um Congresso Nacional cada vez mais à direita. Somente a organização e ação independente da nossa classe poderá derrotar o bolsonarismo e os ataques.

5) Afiar as armas da crítica por uma alternativa socialista e revolucionária

É preciso retomar as armas da crítica do marxismo revolucionário para analisar a nova situação do país e colocar na ordem do dia a tarefa de construir uma força independente da classe trabalhadora ao lado da juventude, das mulheres, negros, LGBTQIAP+ e indígenas. O enfrentamento a Bolsonaro e toda a extrema-direita buscou ser capitalizado pelo reformismo e pelas forças da chamada “centro-esquerda” como uma batalha entre “democracia e barbárie”. Nós, que somos marxistas revolucionários, lutamos contra a extrema-direita e em defesa de todas as liberdades democráticas, participando das iniciativas unitárias neste sentido, mas sabemos que a política de conciliação com a burguesia não levará a isso, e sim ao fortalecimento da extrema-direita, e portanto atuamos cotidianamente nos locais de trabalho e estudo incentivando a auto-organização dos trabalhadores como parte da nossa luta para construir um partido revolucionário e internacionalista da classe trabalhadora que lute pela revolução operária e socialista, abrindo espaço ao socialismo. Levamos essa batalha no cotidiano, enfrentando toda a degeneração stalinista que manchou a história do socialismo internacional e defendendo o legado de León Trótski. Colocamos o Esquerda Diário e todos seus instrumentos - como Ideias de Esquerda, Esquerda em Debate, Feminismo e Marxismo, Edições ISKRA, Espectro do Comunismo, Brasil não é para amadores - a serviço desta tarefa buscando o mais amplo intercâmbio de ideias na esquerda e na intelectualidade para potencializar a intervenção comum na luta de classes, mas debatendo nossos objetivos estratégicos que determinam cada uma das nossas iniciativas e bandeiras.

 
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