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Justiça por Miguel
Por um mundo onde as mães possam celebrar a vida de seus filhos
Cristina Santos
Recife | @crisantosss

Hoje, 17 de novembro de 2022, é o aniversário de Miguel Otávio, arrancado da vida pelo descaso da que era a patroa da sua mãe. Ele faria 8 anos.

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O racismo mata todos os dias. Mata pelas mãos da polícia, mata pela precarização do trabalho, mata pelo descaso. O racismo segura na mão de uma criança negra, coloca ela dentro de um elevador e a envia para a morte.

Miguel tinha apenas 5 anos quando Sarí Corte Real colocou ele sozinho dentro de um elevador e apertou o botão do nono andar, do qual ele cairia. Depois de sua morte, a estratégia da defesa da patroa foi tentar responsabilizá-lo. Por causa do racismo, uma criança negra não tem nem mesmo o direito de ser criança.

Miguel é filho de Mirtes Renata, que era naquele dia 2 de junho de 2020, empregada doméstica. Mulher negra, trabalhadora, o rosto da precarização do trabalho no nosso país.

A patroa, Sarí Corte Real, membra da elite política do estado de Pernambuco, naquele momento primeira dama da cidade de Tamandaré, um dos paraísos turísticos do estado, casada com o então prefeito Sergio Hacker, filiado ao PSB.

Um caso que deixa nítido que a justiça burguesa tem classe e tem cor: testemunhas de defesa ouvidas sem que a acusação fosse notificada, acusações incabíveis contra a família de Miguel; além disso, a justiça negou o pedido de prisão, mesmo após decisão de condenação de 8 anos e seis meses de prisão. Fosse a situação o oposto, se fosse a empregada doméstica e negra a responsável, seguramente estaria atrás das grades.

É o retrato da mesma impunidade burguesa que nos traz essa ânsia amarga de saber que Fleury, o ex governador de São Paulo responsável político pelo massacre do Carandiru que tirou a vida de 111 pessoas encarceradas em 02 de Outubro de 1992, morreu de velho no conforto da sua casa.

Mirtes foi obrigada a ir trabalhar em meio à pandemia. O presidente da república, Jair Bolsonaro, dizia que a Covid era uma “gripezinha” e que o trabalho doméstico era um “serviço essencial”. No estado de Pernambuco, o PSB de Paulo Câmara teve acordo com o presidente. Patroas como Sarí Corte Real, não poderiam lavar seu próprio prato, limpar seu próprio banheiro, em meio à pandemia. Num país de uma burguesia herdeira da escravidão que nunca saldou suas dívidas com o povo negro, ter alguém que limpe sua casa é “serviço essencial”.

No caso Miguel vemos escorrer pelos dedos de distintos poderes o seu racismo entranhado. Vemos como atuou a justiça burguesa em prol da patroa, vimos pelas decisões do executivo na pandemia.

E não para por aí.

O judiciário aplaudido por setores da esquerda, ovacionado pela frente ampla e pelo governo de transição de Lula e Alckmin, vetou o piso salarial da enfermagem, uma categoria de trabalhadores que esteve à frente do combate à pandemia, que teve que assistir amigos e colegas morrendo depois de serem infectados no trabalho, uma categoria com grande maioria de mulheres negras.

As medidas mais nefastas da agenda do golpe institucional de 2016, que teve como protagonistas muitos dos atores que hoje estão de mãos dadas com o governo eleito, como a reforma trabalhista, terceirização irrestrita e teto de gastos, são medidas profundamente racistas, pois recaem sobre a maioria negra do nosso país, que vivem nas piores condições de moradia, saúde, emprego e renda.

Gostaria que hoje Mirtes Renata estivesse celebrando os 8 anos de vida de Miguel, que estivesse escolhendo um tema pra sua festa, pra ele que era tão cheio de vitalidade e de alegria, que amava o Carnaval, celebrar a vida era a própria vida. Gostaria que as mães da Aghata, do João Pedro, do Marcos Vinícius e tantas outras mães que perderam seus filhos pela violência racista pudessem celebrar todos os anos suas vidas, ao lado de cada um deles.

Mas o racismo não nos permitiu celebrar hoje, não permite muitos outros dias, para muitas outras mães, irmãs, esposas, filhas e filhos. Queremos um mundo onde nenhuma mãe precise viver o luto de seu filho morto por causa do racismo. Por isso é preciso se apoiar na luta por justiça e pelo fim do racismo, que só acabará quando destruirmos o capitalismo que se beneficia da opressão racista para lucrar. Lutemos por um mundo onde as mães possam celebrar a vida de seus filhos.

 
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